Capítulo 13

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ELIZABETH

— Por favor, não! — gritei.

O homem me carregava pelo deck em direção ao lago.

— Não faz isso! — chorava.

Ele virou meu rosto para o seu. Um sorriso demoníaco formou-se, enquanto encarava meu pânico, e jogou-me no lago, amarrada. Entrei em desespero. Tentava me soltar, mas quanto mais eu me mexia, mas rápido afundava. Resolvi que desistir era a melhor escolha, afinal, nada mais podia ser feito.

Fechei os olhos e deixei-me afundar. A falta de ar era horrível, mas eu me recusava a abrir os olhos e me ver afundando lentamente até a morte. Senti duas mãos em meu braço e abri os olhos desesperada. Não conseguia ver muita coisa, apenas uma sombra puxando-me de volta para a superfície.

Assim que voltei a sentir o ar invadir meus pulmões, respirei ofegante, desesperada por mais oxigênio. O garoto colocou-me na terra úmida da beira do lago, e começou a tentar me desamarrar. Quando estava quase conseguindo, um estalo alto ecoou por todos os lados.

Ele acabara de levar um tiro.


Levantei assustada. Há semanas que eu venho sonhando com esse rapaz. Ele sempre me encontra e tenta me salvar, mas morre. Talvez isso seja a minha consciência dizendo que eu ainda tenho a esperança de sair daqui um dia. Ver esse homem apodrecer na cadeia ou ser morto por aí. A verdade é que eu não me importo, desde que ele sofra muito.

Olhei para meu cativeiro. Vazio. Mais uma vez a tristeza socou-me com toda a sua força devastadora. Eu odiava lembrar que estava triste, pois Lindsay invadia meus pensamentos. Minha irmãzinha não estava mais aqui comigo. Nem minha mãe. Nem Theo, a quem eu havia prometido que não morreria.

Entrei em desespero. Chorava em prantos. Eu perdi todos eles. Não faço ideia do porquê de eu ainda estar viva. Ele deve estar me torturando. A última viva da família deve ser torturada até a morte, pensei.

Não aguento mais ficar aqui. Não aguento mais sonhar com esse garoto me salvando, quando sei que ele nunca virá. Já cansei de ter que olhar para a cara desse monstro que me machuca e humilha todos os dias. Minha vontade é de revidar, mas já tentei tantas vezes, fracassadas, que desisti. Um arranhão no rosto cicatriza rápido demais. Não é suficiente para vingar tudo o que já passei. Quanto mais rápido eu morrer, melhor.

— Dormiu bem, Lize? — entrou no quarto, segurando sua arma, sorrindo, malicioso.

— É Elizabeth, para você. — cuspi as palavras, querendo que ele sentisse meu ódio.

— Ah, o que é isso? Depois de todo esse tempo, ainda não somos amigos? — fingiu tristeza.

Encarei-o, séria. Só queria que ele fosse embora ou acabasse logo com isso.

— Vim te fazer uma proposta, Lize.

Franzi a testa, esperando ele terminar de falar.

— Quero que jante comigo hoje.

Soltei uma risada sarcástica. Como ele ousa me chamar para jantar? Queria mandá-lo ir para o inferno de trezentas e cinquenta formas diferentes.

— A escolha é sua, querida. Janta comigo e temos uma noite agradável ou fica aí sentada com fome.

— Vou ficar com fome. Já pode ir.

O sorriso debochado em seu rosto, desapareceu, dando lugar a uma cara furiosa e revoltada.

— Você vai jantar comigo! Agora! — ele gritou tão alto que minha cabeça latejou.

Fechei a cara — como se fosse possível fechá-la mais — e levantei-me lentamente. Cruzei os braços e caminhei em sua direção. Ele pegou firmemente em meus braços e levou-me até a cozinha, onde havia uma mesa posta, cheia de comida.

— Fiz tudo sozinho, só para você! — disse puxando a cadeira para que eu sentasse.

Ele sentou-se de frente para mim, sorrindo.

— Qual a parte do frango que você mais gosta, querida?

Por um segundo pensei em não responder, mas ele tinha uma faca na mão.

— Coxa.

— Eu também! Que coincidência, não? — fingia entusiasmo.

Colocou um pouco de salada, arroz e molho em meu prato, seguido pela coxa do frango. Após me entregar o prato e encher meu copo de suco de laranja, ele olhava-me esperançoso, aguardando que eu elogiasse seu prato.

— Vai, prova! — apontou para a comida — Seja sincera.

Cortei um pedaço do frango, mergulhei no molho, juntei um pouco de arroz e engoli. Há um mês que eu não como comida de verdade. Meu estômago roncou assim que coloquei aquela garfada na boca e eu torcia para que eu não tivesse ouvido.

— E então... — ele aguardava a resposta.

— Está ótimo. — disse com cara de poucos amigos.

Ele riu, jogando-se para trás, gargalhando.

— Eu sabia! Sabia que ia gostar! — sorria animado.

Continuei comendo em silêncio, lembrando do dia de ação de graças, ou do natal, quando mamãe preparava o melhor peru do mundo e todos nós nos reuníamos à mesa para comer, como uma família.

O pensamento fez meus olhos arderem, mas eu não fraquejaria na frente desse monstro. Terminei de comer, na esperança de poder ir para o quarto onde eu ficava.

— Já posso ir? — perguntei.

— Mas você não provou a sobremesa.

Ele levantou, tirando a mesa do jantar, trazendo um bolo de chocolate com chantilly. Cortou um pedaço, colocando-o num prato, entregando-me em seguida.

— Ok, isso eu comprei. Não sei fazer doces.

Comi meu bolo, querendo apenas ir embora.

— Agora eu posso ir? — perguntei.

— Ah, Lize. A noite está tão agradável. Queria saber mais sobre você. Você parece ser tão interessante.

Encarei-o incomodada e furiosa.

— Tudo bem. Vejo que não é um bom dia para você. Respeito isso. Boa noite.

— Boa noite.

Levantei e caminhei até a porta tão familiar. Antes que eu pudesse entrar, o homem puxou-me para trás e fiquei de costas para ele.

— Ah, Lize, você é tão linda. Uma pena não ter aproveitado a noite.

Conforme falava, sua barba mal feita arranhava meus ombros. Não conseguia respirar com seu hálito quente batendo em meus cabelos. Ele tirou as madeixas que caíam em meus ombros e depositou um beijo no local. Fazendo-me estremecer de ódio e repulsa.

Suas mãos saíram de minha cintura e subiam por meu tronco. Ele puxou-me mais contra si e acariciou minha barriga. Arregalei os olhos, socando seu peito com toda a força que tinha, empurrando-o para longe. Entrei no quarto e bati a porta, torcendo para que ele não tentasse entrar.

Ouvi um grito de raiva, do outro lado da porta, mas ele não tentou entrar no cômodo, apenas trancou a porta. Me afastei da mesma, me joguei no chão e desabei, como todas as outras vezes. 

A Garota dos meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora