Supermodel - Damiano David.

Vinte e Dois.

Damiano David
Madrid, Espanha.

Sentado no chão do palco, eu observava em silêncio enquanto a equipe ajustava as luzes e os equipamentos ao meu redor. A passagem de som tinha sido um desastre, e o clima entre a banda estava ainda pior. A discussão com Thomas e Ethan ainda ecoava na minha cabeça, e eu me perguntava como diabos conseguiríamos subir naquele palco e dar um bom show para o público. Tudo estava uma bagunça, e por mais que tentasse afastar esses pensamentos, eles insistiam em me atormentar.

Tentei ligar para Valentina, na esperança de encontrar algum consolo na voz dela, mas ela não atendeu. Em vez disso, recebi uma mensagem dela dizendo que estava em uma reunião e que me retornaria assim que saísse. Eu suspirei, guardando o celular no bolso. Não podia culpá-la por estar ocupada, mas precisava dela mais do que nunca naquele momento. Ela era a única coisa que parecia fazer sentido em meio ao caos.

Enquanto continuava sentado ali, perdido em meus pensamentos, ouvi uma voz familiar se aproximando. Olhei para cima e vi Dove, ela iria tocar duas bandas antes de nós. Eu tinha me esquecido completamente que ela também estava no festival, e sua presença me pegou de surpresa.

— Damiano, você está bem? — Ela perguntou, o tom de preocupação em sua voz.

Eu forcei um sorriso, tentando parecer menos desanimado do que realmente estava.

— Achei que você tinha cancelado o festival. Vi que cancelou alguns na América do Sul.

Ela deu de ombros, sentando-se ao meu lado no palco.

— Tive alguns problemas pessoais, mas estou aqui. Não poderia perder essa oportunidade. — Ela fez uma pausa, me observando com atenção. — Eu vi a discussão da banda. O que está acontecendo?

Suspirei novamente, sentindo o peso da situação em meus ombros.

— É complicado, Dove. As coisas estão tensas entre nós. Parece que tudo está desmoronando. Não sei se vamos conseguir continuar assim.

Dove assentiu, a expressão dela séria.

— Talvez seja hora de você sair da banda, Damiano. Você tem um talento incrível, e acho que seria muito mais bem-sucedido sozinho. Não deixe que o drama dos outros te derrube.

Eu estranhei a forma como ela falou, a certeza em suas palavras.

— Não sei se é tão simples assim. A banda... é uma grande parte de quem eu sou. Nós construímos isso juntos. Não posso simplesmente abandonar tudo.

— Mas você não está abandonando nada, — ela insistiu. — Está se libertando. O talento da banda está todo em você. Eles são bons, mas você é o verdadeiro astro. Todo mundo sabe disso. Você pode ir muito mais longe sozinho.

As palavras dela me incomodaram. Havia algo na maneira como ela falava que parecia... manipulativo. Como se estivesse tentando plantar uma ideia em minha cabeça. Mesmo assim, forcei um sorriso e agradeci.

— Obrigado pelo conselho, Dove. Mas não é tão simples. Eu preciso pensar em Valentina e na nossa filha agora.

Dove assentiu, mas havia uma sombra de decepção em seus olhos.

— Claro, eu entendo. — Ela se inclinou e me abraçou, o gesto me pegando desprevenido.

Por um momento, eu retribuí o abraço, mas então, do nada, ela me beijou. O choque percorreu meu corpo, e demorei um segundo para reagir. Afastei-me rapidamente, sentindo a necessidade de deixar claro o mal-entendido.

— Desculpa, Dove, mas não posso... — Eu disse, levantando as mãos em um gesto defensivo. — Se passei a impressão errada, sinto muito. Mas Valentina e eu... estamos juntos pra valer. Eu realmente gosto dela.