Quarenta e Seis

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Damiano David
Milão, Itália.

Os dias passavam lentamente, e cada segundo parecia uma eternidade enquanto eu me afundava no isolamento. As cortinas do meu apartamento estavam fechadas, e a luz do sol mal conseguia penetrar no escuro em que me encontrava. A garrafa de uísque na mesa ao meu lado estava quase vazia, mas isso pouco importava. Tudo que eu conseguia pensar era no quanto eu havia estragado tudo.

A verdade me acertara como um soco no estômago, tirando o ar dos meus pulmões. Eu, cegamente, escolhi acreditar em Dove, confiar nela a ponto de quase destruir tudo que era importante para mim. Valentina, Violetta, minha banda... cada parte da minha vida estava em ruínas, e tudo por minha culpa.

Depois de descobrir a verdade, retirei todos os processos que havia aberto contra Valentina. Era o mínimo que eu podia fazer, mas a sensação de culpa não desaparecia. A vergonha de encarar qualquer pessoa era esmagadora, então eu fiz o que sabia fazer melhor: me isolei. Não sabia como encarar Valentina, como encarar meus amigos. Não sabia nem como encarar a mim mesmo.

O apartamento estava tão silencioso que o som da campainha parecia um grito no vazio. No início, ignorei. Quem quer que fosse, não estava pronto para conversar. Mas a campainha tocou novamente, insistente, e eu não tive escolha a não ser levantar e abrir a porta.

Do outro lado, estavam Ethan, Thomas e Victoria. Seus rostos mostravam preocupação, mas também uma determinação que me fez entender que não adiantaria tentar dispensá-los.

— Precisamos conversar — disse Victoria, sua voz firme, mas suave.

Eu dei espaço para que entrassem, sem dizer uma palavra. Fechei a porta e me sentei no sofá, passando as mãos pelo rosto cansado. Eles se espalharam pela sala, e por alguns instantes, ninguém disse nada.

Finalmente, foi Ethan quem quebrou o silêncio.

— Sabemos que você foi um imbecil e estamos putos pra caralho com você, Damiano. Mas também sabemos que você estava tentando fazer o que achava que era certo.

— Tentar não é o bastante, Ethan — respondi, minha voz carregada de arrependimento. — Eu quase joguei tudo pro alto, quase destruí tudo que construímos juntos por causa de uma mentira. E o pior de tudo é que eu machuquei as pessoas que mais amo.

Thomas me olhou com seriedade.

— Todos nós cometemos erros, cara. O importante é que você percebeu a verdade antes que fosse tarde demais.

— Eu sinto muito — eu disse, olhando para cada um deles. — Vocês não mereciam isso. Eu... quase abandonei vocês, a banda, e... por algo que nem era real. Eu sinto muito, de verdade.

— Nós sabemos que você está arrependido — Victoria disse, sua voz mais suave agora. — E sabemos que a situação era complicada. Não estamos aqui para te julgar, Damiano. Estamos aqui porque nos importamos com você.

Eu me senti pequeno diante deles, diante do apoio que estavam me oferecendo, mesmo depois de tudo que eu fiz. Mas havia algo mais que me atormentava, algo que eu não conseguia tirar da cabeça.

— E Valentina? — perguntei, sabendo que esse era o ponto mais delicado. — Ela não está nem olhando na minha cara. Eu mandei uma mensagem perguntando se podíamos conversar, mas ela me ignorou. E... eu entendo. Eu fui longe demais. Pedi a guarda da Violetta, machuquei ela de um jeito que talvez não tenha volta.

Victoria suspirou, cruzando os braços enquanto pensava no que dizer.

— Você precisa dar tempo a ela, Damiano. O que você fez... foi além dos limites. Você mexeu com a coisa mais importante da vida dela: a filha de vocês. Isso não vai ser fácil de superar, e você precisa respeitar o tempo dela.

Supermodel - Damiano David. Onde histórias criam vida. Descubra agora