Trinte e Dois.

24 1 0
                                    

Damiano David
Milão, Itália

O dia da primeira consulta de Valentina com a psiquiatra finalmente chegou, e eu não sabia o que esperar. Sabia que isso era necessário, mas, ao mesmo tempo, o medo do que poderíamos ouvir me atormentava. Valentina estava sentada ao meu lado na sala de espera, mas era como se estivesse em outro mundo. O olhar dela estava fixo em algum ponto distante, e ela parecia completamente alheia a tudo ao seu redor. Aquela não era a Valentina que eu conhecia. A mulher forte, cheia de vida e energia, agora parecia uma sombra dela mesma.

Quando fomos chamados, entrei na sala ao lado dela. A médica era uma mulher de meia-idade, com uma expressão calma e acolhedora. Ela nos cumprimentou com um sorriso gentil e pediu para que nos sentássemos. Olhei para Valentina, esperando que ela dissesse algo, mas ela permaneceu em silêncio, os olhos ainda perdidos.

— Você pode começar, Damiano. — A médica disse, percebendo que Valentina não estava em condições de falar.

Respirei fundo e comecei a relatar tudo. Contei sobre os momentos de desespero, as crises, as noites em claro, e como Valentina havia se distanciado de tudo, inclusive de Violetta. Cada palavra parecia pesar toneladas, mas eu sabia que precisava ser honesto para que a médica pudesse entender a gravidade da situação.

Enquanto eu falava, a médica anotava tudo em seu caderno, ocasionalmente olhando para Valentina, que continuava imóvel, perdida em seus próprios pensamentos. Quando terminei, ela me pediu para sair da sala, explicando que precisava falar com Valentina a sós. Hesitei por um momento, mas sabia que essa era a melhor forma de ajudá-la, então me levantei e saí, sentindo um nó na garganta.

Esperei no corredor, tentando manter a calma, mas a ansiedade me consumia. Não demorou muito para que a médica me chamasse de volta. Quando entrei na sala novamente, vi que Valentina estava um pouco mais presente, mas ainda assim, distante. A médica confirmou o diagnóstico: depressão pós-parto. Embora eu já esperasse por isso, ouvir a confirmação foi como um golpe no estômago.

— Valentina vai precisar de uma série de cuidados. — A médica começou, enquanto eu me esforçava para absorver todas as informações. — Terapia, atividade física, participação em um grupo de apoio, e, claro, medicamentos.

Quando ela mencionou os medicamentos, Valentina pareceu despertar. Foi a primeira vez em dias que a vi reagir a algo.

— Medicamentos? — Ela perguntou, a voz um pouco trêmula. — E quanto à amamentação?

A médica olhou para ela com compaixão antes de responder.

— Infelizmente, os medicamentos que você precisará tomar são fortes, e não é seguro continuar amamentando enquanto estiver em tratamento.

A expressão de Valentina mudou instantaneamente. Eu sabia o quanto ela valorizava a amamentação, o quanto isso era importante para ela. Ver sua filha se alimentar diretamente dela era uma das poucas coisas que ainda lhe traziam um pouco de conforto. Quando a médica disse que não havia outra opção, Valentina começou a entrar em pânico. A respiração dela se tornou irregular, e eu vi o desespero tomando conta dela.

— Valentina, calma. — Sussurrei, me aproximando e segurando sua mão. — Estou aqui, vamos passar por isso juntos.

Ela olhou para mim, os olhos cheios de medo e confusão. Eu podia ver que ela estava à beira de outra crise, e tudo o que eu queria era tirá-la daquele lugar de dor. Segurei-a firme, tentando transmitir toda a força que eu ainda tinha, enquanto a médica observava a cena com preocupação.

Depois de alguns minutos, Valentina conseguiu se acalmar, mas estava visivelmente abalada. A médica então a encaminhou para a primeira avaliação com uma psicóloga especializada em depressão pós-parto. Enquanto as enfermeiras a acompanhavam até a outra sala, a médica pediu para que eu ficasse para conversarmos a sós.

Supermodel - Damiano David. Onde histórias criam vida. Descubra agora