Vinte e Três.

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Damiano David
Madrid, Espanha.

O suor escorria pelo meu rosto, o som ensurdecedor da multidão ecoava no palco, e cada nota que tocava parecia reverberar em meu peito. Mas, no fundo, meu coração estava em outro lugar. Valentina e Violetta ocupavam cada espaço da minha mente, cada batida da música. No ponto de retorno, Tomazzio soou, sua voz tensa e grave:

— Damiano, preciso que você venha para a lateral do palco agora. É urgente.

Meu coração acelerou instantaneamente. Sabia que Tomazzio não interromperia o show por qualquer coisa. Com um aceno discreto, sinalizei que tinha entendido e esperei o momento certo. Assim que Thomas assumiu o solo de guitarra, passei meu microfone para um assistente e corri para onde Tomazzio estava esperando, a poucos metros das luzes ofuscantes.

— O que aconteceu? — perguntei, a voz saindo mais dura do que eu pretendia.

Tomazzio me olhou nos olhos, sua expressão era séria, mas havia algo a mais ali, algo que me deixou ainda mais apreensivo.

— Damiano, recebi uma ligação de Chiara.

A menção de Chiara foi o suficiente para meu estômago se apertar. Já sabia que não era algo bom, mas o que veio em seguida me atingiu como um soco.

— Ela me contou que Valentina começou a mostrar sinais de trabalho de parto durante a tarde. Chiara e Fedez a levaram imediatamente ao hospital. — Ele fez uma pausa, olhando para mim com uma mistura de preocupação e compaixão. — Eles conseguiram correr a tempo, e a médica conseguiu parar o parto... mas ela não sabe por quanto tempo vai conseguir segurar.

Minhas mãos começaram a tremer, e um frio percorreu minha espinha. Valentina ainda estava de 35 semanas, era muito cedo para Violetta nascer. A ideia de ela estar em trabalho de parto antes do tempo, de estar passando por isso sem mim, era simplesmente insuportável.

— Eu preciso ir — comecei a dizer, mas Tomazzio levantou a mão, me interrompendo.

— Eu sei que você quer sair correndo agora, e eu entendo, Damiano. Mas, por favor, ouça o que eu tenho a dizer. — Sua voz, apesar de firme, tinha uma suavidade que raramente mostrava. — Eu poderia ter esperado até o final do show para te contar, mas... você é como um filho para mim. Não consegui ficar calado. Só peço que você termine o show. Sei que vai ser difícil, mas prometo que no minuto que você pisar fora do palco, uma van já vai estar esperando por você, e o jatinho estará pronto para te levar de volta a Milão.

Meus pensamentos estavam a mil. Parte de mim queria ignorar tudo e correr para Valentina, mas a outra parte sabia que Tomazzio tinha razão. O show estava em andamento, o público lá fora estava esperando, e, de certa forma, sabia que Valentina não queria que eu deixasse tudo de lado por ela. Ela sempre foi assim, forte, teimosa. Mas isso não fazia a situação menos difícil.

Respirei fundo, tentando acalmar meu coração que batia descompassado. — Tudo bem, — concordei, mesmo que cada palavra saísse com esforço. — Vou terminar o show. Mas preciso que você faça uma coisa por mim.

Tomazzio assentiu, esperando.

— Fique em contato com Chiara e me mantenha informado sobre qualquer coisa, por menor que seja. Quero saber de tudo.

— Claro, Damiano. — Ele colocou a mão no meu ombro, dando um leve aperto que foi mais reconfortante do que eu esperava.

Voltei para o palco, mas agora tudo parecia diferente. As luzes eram mais ofuscantes, o som mais distante. A multidão, que antes era uma massa pulsante de energia, agora parecia apenas um ruído de fundo. Meu foco estava dividido, e cada segundo parecia uma eternidade. Victoria olhou para mim quando voltei ao palco, percebendo imediatamente que algo estava errado, mas não disse nada. Apenas deu um aceno sutil, um gesto que significava mais do que palavras.

Supermodel - Damiano David. Onde histórias criam vida. Descubra agora