Quarenta e Um.

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Valentina Ferragni
Milão, Itália.

A chave girou na fechadura com um clique suave, e eu empurrei a porta com a mesma expectativa rotineira de entrar em casa. Tudo estava quieto, como deveria estar. O silêncio acolhedor da minha casa era um conforto que eu sempre prezava, mas naquela tarde, ele me pareceu especialmente frio. Deixei minha bolsa em cima do sofá, tirando os saltos com um suspiro, pronta para relaxar e talvez encontrar algum alívio na companhia de Violetta mais tarde. Mas então, meus olhos foram atraídos por algo fora do lugar. Uma carta, repousando no chão perto da porta. O envelope branco era simples, mas havia algo nele que imediatamente fez o desconforto crescer dentro de mim.

Caminhei até a carta, pegando-a com um certo nervosismo. A primeira coisa que notei foi o selo da justiça no canto superior esquerdo. Meu coração começou a bater mais rápido, um prelúdio do que estava por vir. Rasguei o envelope com dedos trêmulos e deslizei o papel para fora, com um nó se formando no meu estômago antes mesmo de ler a primeira palavra.

As letras saltaram aos meus olhos como uma sentença, cruas e cortantes. Pedido de Guarda Unilateral de Menor. As palavras não faziam sentido para mim. Não consegui processar de imediato o que estava lendo. Meu cérebro lutava para dar sentido àquelas palavras, como se estivesse tentando traduzir um idioma desconhecido.

Damiano havia entrado com um pedido de guarda unilateral de Violetta.

O ar ao meu redor pareceu desaparecer, como se eu tivesse sido subitamente jogada em um vazio sufocante. Minha mente começou a girar, tentando entender o que aquilo significava, tentando entender por que ele faria isso. Tudo o que conseguia sentir era um turbilhão de emoções, uma mistura de choque, raiva e uma tristeza avassaladora.

— Ele não pode estar falando sério — sussurrei, para ninguém além de mim mesma.

Mas o papel nas minhas mãos era real. As palavras impressas ali, oficiais e definitivas, eram reais. Ele estava tentando tirar minha filha de mim. Ele queria afastar Violetta de mim. A dor dessa realização foi como um punhal cravado no meu peito.

Minhas pernas fraquejaram, e eu me apoiei no sofá para não cair. As lágrimas vieram, quentes e grossas, rolando pelo meu rosto enquanto eu lia e relia aquele documento. Por que ele faria isso? Por que ele me puniria dessa forma? A única resposta que eu conseguia encontrar era a raiva, uma raiva que queimava com uma intensidade que eu não sentia há muito tempo.

Não podia ficar parada ali, simplesmente aceitando aquilo. Precisava entender o que estava acontecendo. Com mãos trêmulas, peguei meu celular e disquei para Victoria. Ela era a única pessoa que poderia me ajudar, a única que talvez tivesse alguma explicação.

— Vale? O que aconteceu? — A voz de Victoria veio rápida, preocupada.

— Damiano... — minha voz falhou, e eu limpei as lágrimas, tentando me recompor. — Damiano entrou com um pedido para ter a guarda unilateral de Violetta.

O silêncio do outro lado da linha foi ensurdecedor, e pude imaginar o choque estampado no rosto de Victoria. Ela estava tão despreparada para isso quanto eu.

— O quê? — finalmente, ela conseguiu falar. — Mas... por quê?

— Eu não sei! — exclamei, a frustração transbordando na minha voz. — Ele não falou nada, nunca mencionou isso! Como ele pode fazer isso, Vic? Como ele pode querer me tirar a nossa filha?

— Isso... isso não faz sentido. Eu vou até aí agora mesmo — Victoria respondeu, sua voz ainda atordoada.

Desliguei o telefone, sentindo uma mistura caótica de emoções que pareciam estar prestes a me sufocar. A ideia de Damiano fazer algo assim, de me ferir tão profundamente... era impensável. Andei de um lado para o outro, minha mente a mil, tentando encontrar algum fragmento de lógica naquele caos.

Supermodel - Damiano David. Onde histórias criam vida. Descubra agora