Supermodel - Damiano David.

Trinta e Um.

Damiano David
Milão, Itália

Sentado à mesa na sala de reuniões, eu olhava para os rostos familiares ao meu redor: Ethan, Thomas, Tomazzio, Ferraguzzo. Todos estavam ali, prestando atenção, esperando que eu começasse a falar. A energia na sala era pesada, diferente de qualquer outra reunião que já tivemos. Eu sabia que eles percebiam algo errado, e sabia que o que estava prestes a dizer não seria fácil de ouvir.

Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas.

— Eu... — Comecei, mas logo precisei parar para respirar novamente. Meu peito estava apertado, as palavras pareciam presas na garganta. — Preciso contar algo a vocês sobre Valentina.

Os olhos de todos estavam fixos em mim, cheios de preocupação. Eu nunca tinha sido o tipo de pessoa que compartilhava problemas pessoais com facilidade, especialmente com o pessoal da banda. Nossa dinâmica sempre foi de amizade, claro, mas também de manter as coisas profissionais quando necessário. Mas agora, com o estado em que Valentina estava, eu não tinha escolha.

— Valentina não está bem. — Falei finalmente, tentando manter minha voz estável. — Ela está passando por uma depressão pós-parto, e as coisas chegaram a um ponto em que ela realmente precisa de mim... de todo o apoio possível.

Silêncio. Um silêncio absoluto preencheu a sala. Eu podia ver nos olhos deles que a notícia os havia abalado, assim como me abalava todos os dias desde que descobri.

— Caralho, Dami. — Ethan foi o primeiro a falar, sua voz carregada de preocupação genuína. — Por que você não nos contou antes?

— Eu não sabia como falar sobre isso. — Admiti, com a cabeça baixa. — Estava tentando entender tudo, tentando lidar com isso da melhor forma possível. E... — Pausando, eu olhei para cada um deles, querendo que entendessem o peso da situação. — Eu também não queria atrapalhar a preparação para o Sanremo. Sei o quanto essa apresentação é importante para todos nós, e para o país.

Os olhares deles continuaram fixos em mim, mas agora havia uma mistura de surpresa e compreensão. Eu sabia que o que eu estava prestes a propor seria inesperado, mas eu precisava fazer isso.

— Vou continuar com a apresentação no Sanremo. — Disse, tentando soar o mais firme possível. — É uma oportunidade única, algo grande para todos nós, e para a Itália. Mas depois disso... — Fiz uma pausa, sabendo que essa seria a parte mais difícil. — Depois disso, preciso de uma pausa. Precisamos de uma pausa. Sei que o timing é péssimo, mas Valentina precisa de mim agora mais do que nunca, e eu não posso deixá-la sozinha.

O silêncio que se seguiu foi doloroso. Eu podia ver a surpresa nos rostos deles, mas também uma compreensão crescente. Eles sabiam o quanto a banda significava para mim, e o quanto eu amava Valentina e Violetta.

— Estou propondo uma pausa de seis meses. — Continuei, antes que alguém pudesse falar. — Eu vou arcar com os salários de todos os funcionários durante esse tempo. A decisão de me ausentar é minha, então é justo que eu pague por isso.

— Você não precisa fazer isso, Dami. — Thomas finalmente falou, a voz firme. — Não vamos deixar que você arque com tudo sozinho. Somos uma banda, passamos por tudo juntos. E se você precisa de uma pausa, todos nós precisamos.

— Thomas está certo. — Victoria concordou, balançando a cabeça. — Não vamos deixar você carregar isso sozinho. Podemos continuar trabalhando, fazendo entrevistas, marcando presença em eventos, cuidando das publicidades. Você tira o tempo que precisar para cuidar da sua família, e a gente segura as pontas aqui.

Eu olhei para ela, surpreso e imensamente grato. Não esperava que eles fossem tão compreensivos. Sabia que uma pausa longa assim teria um impacto financeiro, mas eles estavam dispostos a fazer o que fosse necessário para me apoiar.