Quarenta e Dois.

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Valentina Ferragni
Milão, Itália.

Quando finalmente entrei no meu apartamento, o mundo parecia estar se despedaçando ao meu redor. Fechei a porta atrás de mim, mas era como se a proteção do lar tivesse desaparecido. Eu não conseguia parar de tremer, a dor no meu peito aumentando a cada segundo. A raiva fervilhava, misturada com uma tristeza tão profunda que parecia insuportável. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu caminhava até o sofá e, sem sequer pensar, me joguei nele, afundando meu rosto nas almofadas.

O choro começou a sair de mim de maneira descontrolada, soluços violentos sacudindo meu corpo. Como ele pôde fazer isso? Como Damiano pôde sequer pensar em tirar Violetta de mim? E pior, como ele pôde fazer isso por Dove? A imagem dela, com o ventre carregando outro filho dele, me causava náuseas. Eu era a única que carregava essa conexão com ele, a única que havia dado uma filha a ele, e agora... agora isso não significava mais nada.

— Maldito, desgraçado... — sussurrei entre os soluços, meu corpo se contorcendo com a raiva e a dor que não conseguiam se separar.

O apartamento estava escuro e frio, mas eu nem sequer pensei em acender as luzes. Tudo parecia vazio, e a solidão só fazia a dor aumentar. Não sabia o que fazer, para onde ir, como seguir em frente. A única coisa que fazia sentido naquele momento era a garrafa de vinho que eu sabia estar na cozinha.

Levantei-me, tropeçando até a cozinha, e abri o armário onde guardava as bebidas. Tirei uma garrafa de vinho, já aberta, da prateleira e virei o gargalo na boca sem pensar duas vezes. O líquido amargo desceu queimando minha garganta, mas a sensação de torpor que começou a tomar conta de mim era um alívio. Precisava esquecer, precisava parar de sentir, nem que fosse por alguns minutos.

— Como ele pôde... — murmurei para mim mesma, bebendo mais. A raiva estava voltando, mais intensa, alimentada pelo álcool.

Voltei para a sala com a garrafa na mão, sentando no sofá. Liguei o celular, os dedos trêmulos mal conseguindo desbloquear a tela. Eu precisava dizer a ele, precisava colocar para fora todo o ódio que estava sentindo. Abri o aplicativo de mensagens e procurei o contato de Damiano. Seu nome brilhava na tela, e por um momento, hesitei. Mas a raiva logo tomou conta de mim de novo, e apertei o ícone de gravação.

— Damiano, seu desgraçado — comecei, minha voz carregada de álcool e rancor. — Você não vai transformar a nossa filha em uma bastarda que ninguém se importa. Você me ouve? Ela é minha filha, e eu não vou deixar você tirá-la de mim porque você decidiu ser irresponsável e engravidar outra mulher. — As palavras saíam desordenadas, mas a intensidade do que eu sentia não deixava dúvida. — Você vai se arrepender, Damiano. Você vai se arrepender amargamente de tudo isso.

Soltei o botão de gravação, enviando a mensagem antes que pudesse pensar duas vezes. Não me importava mais com as consequências, não naquele momento. Damiano havia destruído tudo, e eu estava determinada a fazer o mesmo.

A garrafa de vinho agora estava quase vazia, e eu sentia o mundo girando ao meu redor. A raiva começava a diminuir, substituída por uma tristeza tão pesada que mal conseguia respirar. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente, e dessa vez, eu não lutei contra elas. Simplesmente deixei que caíssem, as lágrimas misturadas com a sensação de vazio que tomava conta de mim.

Levantei-me cambaleando e fui até a cozinha novamente. O silêncio do apartamento era quase ensurdecedor. Era como se as paredes estivessem se fechando ao meu redor, me sufocando com a solidão. Abri o armário, mas desta vez não peguei outra garrafa. Em vez disso, desabei no chão da cozinha, encostando-me no balcão e abraçando meus joelhos.

Dior, meu cachorro, apareceu de repente, colocando a cabeça no meu colo. Ele era uma constante na minha vida, uma presença silenciosa que sempre estava lá, mesmo nos piores momentos. Acariciei sua cabeça com dedos trêmulos, as lágrimas caindo sobre sua pelagem macia.

Supermodel - Damiano David. Onde histórias criam vida. Descubra agora