Quarenta e Cinco.

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Damiano David
Milão, Itália

Eu estava sentado no sofá, encarando o teto do apartamento, tentando ignorar o turbilhão na minha cabeça. Tudo estava uma bagunça, e cada vez que tentava colocar meus pensamentos em ordem, parecia que eles escapavam do meu controle. As palavras de Valentina e Victoria ecoavam incessantemente na minha mente, e eu não conseguia simplesmente afastá-las.

A ideia de que Dove poderia estar mentindo para mim era inconcebível. Eu não queria acreditar nisso. Desde o começo, ela parecia tão sincera, tão convincente. Mas, ao mesmo tempo, algo estava errado. A forma como tudo aconteceu tão rapidamente, como ela começou a exigir mudanças drásticas na minha vida... Eu estava sendo obrigado a tomar decisões que nunca imaginei que precisaria tomar, e não conseguia mais ignorar o peso que essas escolhas estavam colocando em mim.

Los Angeles. Deixar a banda. Entrar com um pedido de guarda unilateral de Violetta. Essas eram as coisas que Dove queria, as coisas que ela dizia que precisávamos para sermos felizes juntos. Mas quanto mais pensava nisso, mais percebia que não estava feliz. Pelo contrário, tudo parecia um fardo, uma pressão que estava me esmagando.

Lembrei-me de como era com Valentina. Desde o momento em que soubemos que Violetta estava a caminho, Val nunca pediu nada, nunca exigiu mudanças na minha vida. Ela me deu a liberdade de escolher meu papel, de decidir como queria ser pai. Tudo o que fiz por ela e pela nossa filha foi porque eu quis, porque eu amava as duas e queria estar presente. Mas com Dove... cada decisão parecia ser uma obrigação, uma cobrança. E, mesmo que ela disfarçasse isso de "o melhor para nós", eu sentia o peso da pressão a cada momento.

Eu não queria causar dor a Valentina. Saber que estava machucando-a com o pedido de guarda, que estava criando uma distância entre nós e nossa filha, era uma das coisas mais difíceis que já tive que fazer. Mas Dove insistia que era o certo, que era o melhor para todos. Ela argumentava que, em Los Angeles, poderíamos dar a Violetta uma vida melhor, longe de todo o caos da nossa realidade atual.

Mas será que era mesmo isso que eu queria? Lembrava-me de todas as noites que passei com Violetta, dos momentos em que segurei sua mão enquanto ela dormia, da forma como ela sorria para mim quando eu entrava no quarto. Como eu poderia pensar em deixar tudo isso para trás? Como eu poderia me afastar da minha filha, a única coisa que ainda fazia sentido no meio de toda essa confusão?

Quando Dove chegou do evento, eu estava determinado a ignorar o assunto por enquanto. Fingir o máximo de naturalidade possível perto dela. Eu não queria confrontá-la ainda, não enquanto eu mesmo estava tão confuso. Queria observar, analisar, entender o que realmente estava acontecendo antes de fazer qualquer movimento.

— Oi, amor — ela disse, entrando na sala com um sorriso no rosto. — Como foi sua noite?

— Tranquila — respondi, tentando esconder a agitação interna. — E a sua?

Ela se jogou no sofá ao meu lado, pegando a minha mão e entrelaçando os dedos nos meus. — Foi boa. Só mais um daqueles eventos chatos. Você sabe como é.

Assenti, tentando manter o rosto impassível. Queria perguntar sobre a bebida, sobre o que as meninas tinham dito, mas sabia que precisava esperar o momento certo. Não queria levantar suspeitas ainda. Precisava de tempo para processar tudo.

— Estou pensando em sairmos para jantar amanhã à noite — Dove sugeriu. — Só nós dois, para relaxar um pouco. O que acha?

— Parece uma boa ideia — concordei, forçando um sorriso. — Acho que precisamos de um tempo só para nós.

Ela sorriu, parecendo satisfeita com minha resposta. Mas, por dentro, minha mente estava a mil, tentando entender o que estava acontecendo. Como tudo tinha mudado tão rápido? Como a mulher que parecia ser a resposta para todos os meus problemas agora parecia ser a causa de tantos outros?

Supermodel - Damiano David. Onde histórias criam vida. Descubra agora