planos II

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Penelope estava sentada no chão de um quarto velho e mal iluminado, seu corpo frágil encolhido em um canto enquanto tentava encontrar algum resquício de calor naquele ambiente gélido. Seus pulsos estavam doloridos e marcados pelas cordas que os amarravam, mas agora, pelo menos, ela estava solta, ainda que sob a vigilância constante do capanga de Cressida.

A porta rangeu ao ser aberta, e Will entrou, segurando um copo d'água. Seus passos eram pesados, e ele parecia hesitante ao se aproximar de Penelope. Sem dizer uma palavra, ele estendeu o copo para ela, que o pegou com as mãos trêmulas e o levou aos lábios ressecados, bebendo com avidez. A água fria trouxe um alívio imediato à sua garganta seca.

Will — Vou ter que amarrar você de novo quando Cressida chegar — disse, com uma voz tensa, mas não agressiva. — Ela não pode descobrir que te deixei solta no quarto.

Penelope assentiu com um leve aceno de cabeça, resignada e triste. Ela sabia que não tinha escolha. A dor de seus pulsos havia diminuído, mas a marca das cordas ainda estava presente, tanto na pele quanto em sua mente.

Will — Está doendo muito? — perguntou, um tanto desajeitado, sem saber ao certo por que se importava com a resposta.

Penelope — Diminuiu um pouco... — respondeu, sua voz um sussurro, quase como se ela estivesse falando para si mesma.

Com um suspiro, Penelope se sentou no chão, abraçando as pernas enquanto tentava se aquecer e se proteger do medo crescente que a dominava. Seus olhos, de um azul profundo, fixaram-se no nada, enquanto ela se perdia em pensamentos. O ambiente ao redor era sufocante, o ar pesado de umidade e mofo. O vestido que usava, outrora elegante, estava sujo e amassado, e seus cabelos ruivos, ainda que desarrumados, brilhavam à luz fraca que entrava pela pequena janela.

Will ficou observando-a por longos minutos, sua expressão difícil de decifrar. Ele reparou em cada detalhe de Penelope: seus olhos azuis, a boca carnuda e ligeiramente inchada, a pele muito branca, quase translúcida, e o cabelo ruivo que, mesmo em meio à sujeira, mantinha um brilho intenso. Ela era pequena, delicada, com mãos e pés pequenos, e seus seios fartos se destacavam sob o tecido amarrotado.

Penelope, sentindo-se desconfortável com o olhar prolongado de Will, finalmente levantou os olhos para ele, seu corpo tenso de medo e insegurança.

Penelope — Por que... por que você está me observando assim? — perguntou ela, sua voz trêmula e cheia de medo.

Will piscou algumas vezes, como se estivesse saindo de um transe. Ele desviou o olhar, claramente desconcertado pela pergunta, mas depois voltou a encará-la, seus olhos suavizando um pouco.

Will — Você me lembra... — começou ele, hesitando antes de continuar. — Você me lembra muito minha esposa. Ela faleceu há alguns anos.

Penelope ficou surpresa com a resposta, e por um momento, o medo deu lugar à curiosidade. O que será que havia nela que lembrava a esposa desse homem? Ela não sabia o que dizer, mas a revelação parecia humanizar Will de uma forma que ela não esperava. Ainda assim, a tensão no ar era palpável, e o medo persistia.

Penelope — Eu... sinto muito — murmurou, sem saber se aquilo era o certo a dizer.

Will deu um leve aceno de cabeça, seu olhar voltando a se perder nos detalhes de Penelope, mas desta vez com uma expressão mais suave, quase triste.

Will  — Não se preocupe — disse ele, sua voz mais gentil agora. — Eu vou fazer o que puder para garantir que você não sofra mais do que o necessário enquanto estiver aqui.

Penelope apenas assentiu, sem saber como reagir. Ela ainda estava com medo, mas agora havia uma sombra de compreensão entre eles, um fio tênue que conectava duas almas perdidas em meio à escuridão daquele cativeiro.

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No estábulo dos Bridgerton, a luz da lua invadia suavemente o ambiente, iluminando as sombras dos cavalos que descansavam em suas baias. Eloise e Hyacinth estavam ocupadas preparando os cavalos para a missão ousada que tinham pela frente. Eloise amarrava uma pequena bolsa de couro na sela de seu cavalo, cuidadosamente preenchida com comida para Penelope. Seu coração apertava ao pensar na amiga, e ela sabia que precisava fazer tudo ao seu alcance para resgatá-la.

Hyacinth, por outro lado, estava em seu próprio mundo, falando animadamente com seu cavalo enquanto o preparava para a aventura. Suas palavras eram uma mistura de encorajamento e diversão, e Eloise não pôde deixar de observar a cena com um sorriso curioso.

Eloise — Hyacinth, você realmente conversa com os cavalos como se eles fossem gente — comentou Eloise, levantando uma sobrancelha com uma expressão divertida.

Hyacinth — Claro que sim! Eles entendem tudo o que eu digo, não é mesmo, Tempestade? — respondeu Hyacinth, dando um tapinha afetuoso no pescoço do animal, que relinchou em resposta.

Eloise riu, balançando a cabeça enquanto terminava de amarrar a bolsa. Ela estava vestindo uma calça, algo completamente inapropriado para uma dama, mas necessário para a situação. A ideia havia sido de Hyacinth, e, por mais que Eloise relutasse inicialmente, não pôde negar que era uma escolha mais prática.

Eloise — Tenho que admitir, Hyacinth, calças são realmente mais confortáveis do que vestidos — disse Eloise, ajeitando as próprias roupas e sentindo a liberdade que as calças proporcionavam.

Hyacinth sorriu, orgulhosa de sua ideia.

Hyacinth — Eu disse, Eloise! Nunca se sabe quando vai precisar pular janelas ou... — ela fez uma pausa dramática, com um brilho malicioso nos olhos —, ou roubar joias. É sempre bom estar de calças.

Eloise parou por um momento e olhou para a irmã, surpresa com o comentário.

Eloise — Roubar joias? Hyacinth, você é mais estranha e peculiar do que eu jamais imaginei! — exclamou ela, entre divertida e incrédula.

Hyacinth deu de ombros, com um sorriso sapeca.

Hyacinth — Eu apenas digo que é bom estar preparada para qualquer situação. A vida é cheia de surpresas, não é? — respondeu Hyacinth com um ar misterioso.

Eloise riu de novo, balançando a cabeça em descrença.

Eloise — Mamãe vai ter muita dor de cabeça para casar você, Hyacinth. Acho que nem eu sou tão rebelde quanto você — disse Eloise, meio brincando, meio séria.

Hyacinth apenas deu de ombros novamente, como se o comentário não a afetasse. Ela estava mais preocupada com a missão à frente e em ajudar a salvar Penelope.

Hyacinth — E se mamãe quiser casar a dama mais peculiar da família, ela vai ter que encontrar alguém tão aventureiro quanto eu — respondeu Hyacinth, piscando para Eloise.

Eloise, com um suspiro, montou no cavalo e estendeu a mão para a irmã.

Eloise — Vamos, Hyacinth. Temos um longo caminho pela frente e não podemos perder tempo. — Ela olhou para a irmã mais nova, sentindo-se ao mesmo tempo protetora e impressionada pela coragem de Hyacinth.

Hyacinth — Sim, vamos! — respondeu, animada, montando em seu cavalo com destreza.

Enquanto cavalgavam em direção à casa de Cressida, Eloise sentiu uma onda de determinação. Ela sabia que a missão era arriscada, mas com a coragem de Hyacinth ao seu lado, sentiu que poderiam enfrentar qualquer obstáculo. As irmãs Bridgerton estavam prontas para enfrentar o perigo e salvar sua amiga, custe o que custar.

Polin por amor Onde histórias criam vida. Descubra agora