Aos olhos da nação

Laços

Saulo me observava com um olhar que misturava frustração e um toque de "eu te avisei". Ele não hesitou em reforçar o que já havia me dito tantas vezes antes.

— Eu te avisei, Lauren. Disse que isso era uma má ideia! Esse não é o momento para jantares ou encontros que possam ser mal interpretados. Você é uma candidata à presidência dos Estados Unidos, e qualquer passo em falso... — Ele deixou a frase no ar, mas o significado era claro.

Minha revolta começou a crescer, não apenas pela foto, mas pela maneira como Saulo estava lidando com a situação. A frieza com que ele falava de Camila, como se ela fosse apenas um obstáculo, me enfurecia.

— Não se atreva a falar assim! — retruquei, minha voz firme e cortante. — Camila não é uma intrusa ou um problema a ser resolvido. Ela é uma pessoa, e não vou permitir que você a trate de forma tão desumana. Eu confio nela, e isso é algo que você precisa respeitar, Saulo.

Ele balançou a cabeça, visivelmente descontente com minha resposta. — Lauren, você não está entendendo a gravidade da situação. Não se trata apenas de confiar em Camila. A questão é que, neste momento, qualquer vínculo com ela, por mais inocente que seja, é perigoso demais. Eu sei que vocês têm uma amizade, mas se você quer realmente proteger sua campanha, precisa cortar esses laços agora. A mídia vai devorar qualquer sinal de fraqueza, e isso pode acabar com sua candidatura.

O impacto das palavras de Saulo me atingiu como um soco no estômago. Corta os laços? Mesmo de amizade? A frustração e a raiva se misturaram dentro de mim, criando uma confusão que eu não sabia como processar. Eu não queria acreditar que essa era a única solução. Que a política exigia tanto de mim a ponto de me forçar a sacrificar uma das poucas coisas genuínas que eu tinha.

O silêncio se instaurou no quarto, pesado e sufocante. Eu me sentei, incapaz de encontrar as palavras certas para expressar a tempestade emocional que me dominava. Saulo, percebendo minha hesitação, aproveitou o momento para cortar o silêncio.

— Eu sei que isso é difícil, mas a estratégia é clara. Precisamos desviar a atenção da mídia. Vamos lançar uma série de entrevistas e eventos focados em temas que realmente importam ao público. Precisamos inundar a mídia com notícias positivas, algo que faça com que os rumores sobre essa foto percam força e se tornem irrelevantes. Mas, para isso, você precisa manter distância de Camila, pelo menos até que essa tempestade passe.

As palavras de Saulo, apesar de sensatas, pareciam mais como uma sentença de morte para algo que eu prezava. Cada vez que ele falava, eu sentia como se estivesse sendo forçada a escolher entre minha carreira e algo muito mais profundo e pessoal.

— Então é isso? — murmurei, minha voz quase inaudível. — Eu devo simplesmente me afastar de alguém que foi leal a mim, que tem estado ao meu lado, por causa de uma maldita foto?

Saulo não respondeu imediatamente. Ele sabia que não havia uma resposta fácil, mas seu olhar mostrava que, para ele, a decisão já estava tomada. — Você precisa pensar no que é melhor para sua campanha, Lauren. E às vezes, isso significa fazer sacrifícios que não gostaríamos de fazer.

Eu me recostei na cadeira, tentando processar tudo aquilo. A batalha que estava por vir não seria apenas contra a mídia ou meus adversários, mas também dentro de mim mesma.

Saulo permaneceu em silêncio por um momento, avaliando minha expressão, como se esperasse algum sinal de que eu cederia à sua sugestão. Quando percebeu que minha determinação não estava enfraquecendo, ele soltou um suspiro pesado, um misto de frustração e resignação. Sem mais uma palavra, ele se virou e caminhou em direção à porta.

O som da maçaneta girando ecoou pelo quarto, um ruído quase ensurdecedor na quietude que havia se instaurado. Saulo abriu a porta e hesitou por um breve instante, como se quisesse dizer algo mais. Mas, ao invés disso, ele apenas balançou a cabeça levemente e saiu, fechando a porta atrás de si com um clique suave, deixando-me sozinha com meus pensamentos.