Acabou?

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Estava sentada à mesa da minha suíte, com a cabeça cheia de pensamentos enquanto revisava os discursos. Os documentos estavam espalhados por toda parte, e eu me sentia afundando neles, cada palavra precisando de um ajuste, uma reavaliação. A luz do abajur mal iluminava o bastante, mas o silêncio ao meu redor me ajudava a focar. A caneta deslizava pelo papel, e a tela do notebook brilhava com anotações que eu precisava terminar. Cada frase precisava ser perfeita. Não era só a política em jogo, era a minha essência.

Enquanto escrevia, aos poucos comecei a sentir o peso do que estava por vir. A campanha estava quase no fim, e era impossível ignorar como tudo parecia estar se afunilando. Cada decisão agora parecia ter um impacto maior, e a pressão só aumentava. Estava tão perto, mas ao mesmo tempo, a sensação de que havia ainda tanto a ser feito me consumia. Cada discurso, cada evento, tudo era decisivo. A linha de chegada estava à vista, e, por mais que quisesse respirar aliviada, sabia que as últimas semanas seriam as mais intensas.

Com pouco mais de dez cidades faltando, o cansaço começava a me dominar. Eu podia sentir em cada músculo, em cada pensamento que parecia se arrastar. As viagens incessantes, os discursos, as reuniões... tudo estava começando a pesar. Mesmo assim, eu não podia parar. Não agora. Estávamos tão perto do fim, e cada cidade que visitávamos podia ser a diferença entre a vitória e a derrota. Mas era inegável — o desgaste físico e emocional era palpável. Eu olhava para os papéis à minha frente e me perguntava quantas noites mais conseguiria passar assim, sem dormir.

O whisky tinha se tornado meu aliado silencioso nas últimas semanas. Eu me servia de um copo e o deixava ao lado enquanto trabalhava, sorvendo pequenos goles para manter a mente alerta. O calor que descia pela garganta me ajudava a me manter acordada, me mantendo firme, mesmo quando o corpo clamava por descanso. Não era ideal, eu sabia. Mas era isso ou ceder ao cansaço, e esse não era um luxo que eu podia me dar agora. Cada gole parecia afastar o sono por mais alguns minutos, me permitindo revisar mais um parágrafo, ajustar mais uma frase, escrever mais uma linha.

Enquanto tomava mais um gole, não pude deixar de me lembrar do meu pai. Ele fazia exatamente o mesmo quando passava noites em claro, estudando campanhas e planejando estratégias durante o seu mandato como prefeito de Miami. Eu me lembrava de vê-lo na mesma posição em que eu estava agora: cercado de papéis, com o olhar cansado, mas determinado. Ele sempre dizia que o peso da responsabilidade era grande, mas que não havia honra maior do que servir às pessoas. Talvez fosse daí que eu tinha herdado essa determinação quase teimosa de continuar, mesmo quando tudo parecia me puxar para baixo. Agora, era a minha vez de carregar essa tocha.

No meio de tudo, o som do telefone me tirou do foco. Estranhei a hora. Quem ligaria àquela altura da madrugada? Peguei o aparelho e, ao olhar o nome na tela, meu coração disparou: era Camila. Quando vi o nome de Camila na tela, uma onda inesperada de alegria me tomou. O cansaço e a tensão pareciam se dissipar por um instante. Mesmo com tudo que estava acontecendo, ouvir a voz dela era algo que me trazia conforto. Sorri sem nem perceber e atendi sem hesitar, deixando de lado qualquer preocupação ou nervosismo.

— Camila — disse, e não pude evitar que a felicidade transparecesse na minha voz.

Não sabia o que ela tinha em mente ao me ligar a essa hora, mas, naquele momento, só o fato de ouvir seu nome já parecia fazer tudo valer a pena.

Assim que ouvi a voz de Camila, percebi que havia algo diferente em seu tom.

Lauren, preciso falar com você... é algo sério — disse ela, sem rodeios.

Meu coração apertou. A felicidade que senti ao ver sua ligação deu lugar a uma inquietação súbita.

— O que aconteceu? — perguntei, tentando manter a calma, mas não consegui esconder a preocupação na minha voz.

Aos olhos da naçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora