Justiça

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Acordei com a cabeça latejando, como se um martelo estivesse tentando abrir caminho para sair. Cada pulsação trazia consigo uma onda de náusea que eu mal conseguia controlar. Abri os olhos devagar, apenas para fechá-los novamente, porque a luz fraca que entrava pelas cortinas parecia uma lâmina cortando meus nervos óticos. A boca estava seca, um gosto amargo e metálico me lembrava dos drinks que devorei na noite anterior.

Tentei me mover, mas meu corpo estava pesado, como se estivesse grudado ao colchão. O cheiro de álcool e cigarro ainda pairava no ar, impregnando minhas roupas e lençóis. Forcei-me a sentar, apoiando as mãos na cabeça como se isso fosse impedir o mundo de girar. Mas não adiantava, tudo continuava rodando em câmera lenta, um turbilhão de arrependimento e dor de cabeça.

Meu estômago protestava a cada tentativa de levantar. Lembrei vagamente dos risos, das conversas sem sentido e do calor que só o álcool traz, mas tudo parecia distante agora, coberto por um manto de arrependimento.

Arrastei-me até o banheiro, tentando manter o equilíbrio. Encarei meu reflexo no espelho e mal me reconheci: olhos inchados, cabelo desgrenhado e uma expressão de completo desastre. Liguei a torneira e joguei água fria no rosto, na esperança de que isso me trouxesse de volta à vida. Só piorou. A água gelada era um choque para o sistema, mas o alívio era temporário.

Tudo que eu queria naquele momento era voltar no tempo e me dar uns bons tapas, implorar para que parasse no segundo ou terceiro drink. Mas o estrago estava feito, e agora eu só tinha duas opções: me arrastar de volta para a cama e esperar que o tempo passasse, ou encarar o dia, torcendo para que o café e um banho quente fossem suficientes para me colocar de volta nos trilhos.

Optando pelo banho, entrei na ducha, tentando deixar a água levar embora a dor, a confusão e aquele peso na consciência que só aparece quando o efeito do álcool vai embora. Mas sabia que não seria tão fácil. Ressaca não é só física, é emocional, é lidar com as decisões ruins da noite passada enquanto seu corpo te pune por elas. E, enquanto a água quente escorria pelas minhas costas, me prometi — mais uma vez — que nunca mais faria isso. Até a próxima ressaca.

Depois do banho, me arrumei com a precisão de quem precisa esconder o caos interno. Escolhi uma camisa branca e uma calça preta, algo que passasse uma imagem de controle. Mas o toque final foi um par de óculos escuros, que escondia os sinais claros da minha ressaca. O reflexo no espelho mostrava uma versão de mim que parecia pronta para enfrentar o mundo, mas por dentro, eu ainda lutava contra o peso da noite anterior.

Saí do quarto e desci para o restaurante do hotel. O aroma de café era quase irresistível, como se prometesse acalmar a dor que ainda latejava na minha cabeça. No salão, avistei Samantha e Saulo já sentados em uma mesa no canto, envolvidos em uma conversa que parecia séria demais para aquele horário da manhã.

Respirei fundo e fui até eles, tentando ignorar a náusea que ainda me acompanhava. Quando me juntei a eles, forcei um sorriso e me sentei, ajustando os óculos escuros no rosto para garantir que eles não percebessem o quão mal eu realmente estava. Samantha olhou para mim e arqueou uma sobrancelha, como se soubesse exatamente o que eu estava tentando esconder. Saulo, por outro lado, apenas me cumprimentou com um aceno discreto, já imerso nas próximas pautas do dia.

Enquanto eles discutiam os detalhes da agenda, eu me concentrei em pegar uma xícara de café, esperando que a cafeína pudesse fazer o milagre de me trazer de volta à vida. O líquido quente desceu queimando, mas era exatamente o que eu precisava. Fingi ouvir cada palavra, mas minha mente estava em um lugar distante, tentando juntar as peças de uma manhã que estava apenas começando, mas que já parecia longa demais.

- Esta bem, lauren? - Samantha pergunta enquanto tomar o seu café.

- Sim, esta sim. - Dou um sorriso amarelo.

Aos olhos da naçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora