alianças

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Eu estava no jardim da minha mansão em Los Angeles, envolta pelo ar fresco da noite. O céu estava escuro, salpicado de estrelas, e o som distante da cidade era abafado pelas árvores ao redor da propriedade. As luzes da casa brilhavam ao longe, mas ali, naquele canto isolado do jardim, eu me sentia sozinha. Talvez fosse exatamente o que eu precisava.

A noite tinha uma qualidade quase terapêutica. O perfume suave das flores se misturava com o cheiro da grama recém-cortada, e a brisa leve acariciava meu rosto. Era o tipo de lugar que, em outras circunstâncias, me traria paz. Mas agora, paz parecia algo inalcançável.

Eu pensava em tudo o que havia acontecido — na campanha, nas traições, nos segredos. O silêncio da noite só amplificava os gritos da minha mente, as dúvidas que me corroíam. Olhei para o copo de vinho na minha mão, refletindo sobre como as coisas tinham chegado a esse ponto. Não era apenas a campanha política que estava em frangalhos, era minha própria vida.

Saulo. A descoberta do que ele estava fazendo ainda queimava dentro de mim. Trair minha confiança, sabotar minha campanha... ele jogou baixo, e eu nem percebi até ser quase tarde demais. Isso me deixava furiosa. Como eu podia ser tão cega? Eu devia ter notado, mas ele foi cuidadoso, manipulador. Cada conselho, cada palavra dele agora parecia calculada para me enfraquecer, para me desviar do caminho que eu estava traçando com tanto esforço.

Fechei os olhos, sentindo o peso de tudo isso. A noite era calma, mas dentro de mim, havia uma tempestade.

Minha atenção foi capturada de repente. Vi uma sombra familiar se aproximando pelo caminho de pedras que levava ao jardim. Era Dinah. Sua presença, mesmo em meio à escuridão suave da noite, sempre tinha um jeito de acalmar meus pensamentos. Ela estava vestida de maneira casual, mas com a elegância de sempre, carregando algo nas mãos.

— Você parecia precisar de um pouco disso — disse ela com um sorriso tranquilo, estendendo-me uma xícara de chá. O vapor subia lentamente da porcelana, misturando-se com o ar fresco da noite. Dinah era assim — prática e atenciosa, sempre aparecendo quando eu mais precisava, mesmo que eu não tivesse dito uma palavra. Eu aceitei o chá, sentindo o calor da xícara contrastar com o frio que eu não sabia estar sentindo até então.

— Obrigada — murmurei, ainda absorvida nos meus pensamentos. Dinah se sentou ao meu lado no banco de madeira, sem dizer mais nada. Ela sempre soube quando falar e, mais importante, quando não falar. Apenas sua presença já fazia diferença.

Fiquei olhando o líquido âmbar na xícara por um momento antes de dar um gole. O chá era forte, com um toque de mel e ervas que me lembravam de tempos mais simples, de noites menos complicadas. Mas não havia como escapar da realidade agora, não havia como fugir do caos que minha vida tinha se tornado.

— Não é fácil, eu sei — ela disse suavemente, olhando para o horizonte escuro. — Mas você já passou por coisas mais difíceis. Você sempre encontra um jeito.

Olhei para ela, me perguntando de onde vinha aquela certeza. Dinah sempre teve essa confiança inabalável em mim, mesmo quando eu mesma duvidava. E talvez, nesse momento, era exatamente disso que eu precisava. Alguém que me lembrasse de quem eu era, do que eu era capaz, apesar de tudo.

— Saulo... — comecei, mas a palavra morreu na minha boca. Eu não sabia se queria falar sobre ele, se queria expor aquela ferida mais uma vez. Dinah, no entanto, só assentiu, como se já soubesse exatamente o que eu estava sentindo.

— Dinah... — comecei, minha voz hesitante, mas senti que precisava desabafar. — Eu fiquei realmente abalada com o que descobri sobre Saulo. Sabe, ele sempre esteve comigo, sempre pareceu ser alguém em quem eu podia confiar. Quando descobri que ele estava me sabotando... aquilo me atingiu mais do que eu quero admitir.

Aos olhos da naçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora