contenção

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Quando o carro finalmente parou em frente ao hotel, a fúria que eu sentia parecia pulsar em minhas veias, quente e incontrolável. Cada passo que eu dava em direção à entrada era pesado, cheio de uma energia quase explosiva. Camila me acompanhava de perto, ciente do meu estado, mas respeitava meu silêncio. O silêncio dela, normalmente reconfortante, agora parecia amplificar o turbilhão de pensamentos que giravam em minha mente.

Assim que as portas automáticas do hotel se abriram, avistei Saulo do outro lado do saguão, falando com alguém da equipe de segurança. Ele me viu imediatamente, seus olhos refletindo a tensão que ambos sentíamos. Sem esperar mais um segundo, marchei em sua direção, sentindo cada fibra do meu ser pronta para explodir.

— Como isso pôde acontecer, Saulo? — soltei assim que me aproximei, minha voz baixa, mas carregada de raiva. — Como deixamos isso acontecer?

Ele tentou responder, mas a enxurrada de palavras que se seguiu o cortou antes que ele pudesse explicar.

— Nós estávamos nos preparando há meses, e agora todos os nossos movimentos, toda a nossa estratégia, está nas mãos de quem quer que tenha feito isso! — Eu gesticulava de forma enfática, como se cada palavra fosse um soco no ar. — A segurança dos nossos apoiadores, da nossa equipe, até da minha família... Tudo está em risco!

A minha voz ecoava pelo saguão, atraindo alguns olhares curiosos, mas eu não me importava. A frustração e o medo, misturados com a raiva, ferviam dentro de mim, e eu não conseguia mais conter.

Saulo levantou as mãos, tentando me acalmar.

— Lauren, estamos fazendo tudo o que podemos para conter isso. A equipe de TI está trabalhando sem parar para rastrear a origem do ataque, e já estamos mudando todas as rotas e procedimentos. Não vamos deixar que isso nos pare.

Eu queria acreditar nele, queria sentir que estávamos no controle, mas naquele momento, a sensação de impotência era esmagadora.

— Não podemos apenas "fazer o que podemos", Saulo — eu rebati, ainda furiosa. — Precisamos resolver isso, e resolver agora! Se deixarmos que esse vazamento nos paralise, será o fim da nossa campanha!

Camila, que até então havia se mantido em silêncio, deu um passo à frente, colocando uma mão suave em meu braço, um gesto que parecia puxar meu foco de volta ao momento presente.

— Lauren, vamos para a sala de reunião. Precisamos nos reunir com a equipe e planejar os próximos passos com calma. Gritar aqui no saguão não vai resolver o problema — disse ela, a voz tranquila, mas firme.

Eu respirei fundo, tentando recuperar algum controle. Camila estava certa. Eu precisava manter a cabeça fria, por mais difícil que fosse. Precisava ser estratégica, não apenas emocional.

Com um aceno, indiquei que Saulo e Camila me seguissem até o elevador. O caminho até a suíte parecia uma eternidade, mas enquanto a porta do elevador se fechava, eu me forcei a centrar meus pensamentos. O impacto do vazamento era devastador, mas eu ainda estava no controle da campanha, e agora mais do que nunca, precisava mostrar liderança.

Quando as portas se abriram no meu andar, eu estava mais focada. A fúria ainda estava lá, pulsando, mas agora estava direcionada para encontrar uma solução. Estávamos prestes a entrar em uma das crises mais sérias da campanha, e eu sabia que cada decisão que tomássemos nas próximas horas poderia definir não apenas a minha carreira, mas também a segurança de todos que confiaram em mim.

Assim que a porta da suíte se abriu e entrei na sala de reunião, o ambiente, já carregado com a tensão da crise, ficou ainda mais silencioso. Todos os olhares se voltaram para mim, esperando uma direção, uma liderança em meio ao caos. Saulo e Camila entraram logo atrás de mim, fechando a porta.

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