vazio e o torpor

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Estou sentada à mesa do meu escritório, os papéis espalhados ao meu redor são um reflexo da bagunça que está na minha mente. Cada decisão, cada movimento da campanha, cada palavra dita ou mal interpretada... tudo está passando pela minha cabeça como um filme que eu não consigo pausar. As vozes no andar de baixo, as risadas e os comentários da equipe sobre a nossa vitória iminente me parecem distantes, abafadas, como se estivessem em um universo paralelo, um que eu não faço parte agora.

Minerva e o time de marketing fizeram um trabalho incrível. Conseguiram apagar as chamas do escândalo, tirar de contexto a suposta traição entre mim e Camila e dar uma nova narrativa para a mídia. Nossa imagem foi restaurada. Meu relacionamento com Camila, aos olhos de todos, está intacto. Isso deveria me tranquilizar, me dar um respiro. Mas não. Aqui estou, presa nesse escritório, com a mente cheia de dúvidas e incertezas.

As últimas semanas foram um redemoinho de caos. O tempo todo, tentei equilibrar a imagem da política forte e decidida com a minha vida pessoal em colapso. Camila. Meu Deus, Camila. Toda vez que fecho os olhos, vejo seu rosto, sua preocupação disfarçada por trás daquele sorriso que me cativa desde o primeiro dia. Ela me conhece. Deve estar sentindo o peso desse silêncio.

Meus dedos passam pela borda dos documentos, distraidamente, enquanto a tela do computador exibe os últimos artigos, as análises das pesquisas, as manchetes com meu nome. "Lauren Jauregui lidera a corrida presidencial". Eu deveria me sentir realizada. Mas, neste momento, não consigo evitar o pensamento de que deixei algo para trás.

Minerva bateu à porta algumas vezes, preocupada, assim como Dinah e Samantha, cada uma tentando me arrancar deste estado de isolamento. Mas eu não tenho as respostas que elas querem. O que eu vou dizer? Que estou com medo? Que, apesar de tudo que construímos, algo ainda parece fora do lugar? Não posso admitir fraqueza agora, não quando estou a um passo de me tornar a próxima presidente dos Estados Unidos.

Minha cabeça dói com a pressão. Amanhã é o grande dia. Um dia que pode mudar a história. Eu deveria estar comemorando, descansando, me preparando para o que está por vir. Mas tudo o que consigo fazer é me afundar nesses papéis, como se organizar cada pequeno detalhe da campanha pudesse dar sentido à confusão que sinto por dentro.

Respiro fundo e me recosto na cadeira, olhando para o teto, tentando achar uma resposta lá. Talvez seja o peso de todas as escolhas que fiz até aqui. Ou o medo do que está por vir. O que sei é que, por mais que o mundo esteja prestes a me aplaudir, por dentro, ainda estou tentando descobrir quem eu realmente sou, e se tudo isso valeu a pena.

Eu estava com a cabeça perdida em meus próprios pensamentos, encarando o copo de whisky na minha mão quando ouvi a batida na porta. Ignorei, na esperança de que quem quer que fosse desistisse e me deixasse com meu caos. Mas a voz de Camila atravessou o silêncio, quase uma súplica.

— Lauren, por favor... deixa eu entrar.

Soltei um suspiro longo e pesado. Estou cansada. Cansada de fingir que estou no controle quando, por dentro, tudo parece desmoronar. Caminhei até a porta, ainda segurando o copo, e a destranquei. Camila entrou devagar, seus olhos se prenderam aos meus, carregando uma mistura de preocupação e frustração. Tranquei a porta novamente, como se isso pudesse afastar o mundo por alguns instantes.

Ela se encostou na minha mesa, de braços cruzados, observando a bagunça ao redor. Os papéis espalhados, o cheiro de whisky no ar, a solidão que, de alguma forma, parecia sufocar o espaço. Camila não demorou a me confrontar.

— Por que você está assim, Lauren? Trancada aqui, bebendo, cercada por uma pilha de documentos que, sinceramente, não precisam ser resolvidos agora. Você está se afastando de todo mundo, até da Liz. O que está acontecendo?

Aos olhos da naçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora