Capital

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Quando o jato tocou suavemente o solo em Washington, senti um misto de alívio e ansiedade. A cidade, que tantas vezes fora palco de batalhas políticas, agora parecia ainda mais carregada de significado. Enquanto o avião taxiava, olhei pela janela e vi o céu cinza refletindo o clima incerto que eu carregava no peito.

Assim que a porta do jato se abriu, o som dos motores foi abafado pelos gritos e aplausos dos apoiadores que se aglomeravam no aeroporto. Bandeiras tremulavam ao vento, e faixas com meu nome e slogans de campanha eram erguidas com orgulho. Eu sabia que, para muitos ali, eu representava mais do que uma candidata; era a esperança de mudança, o símbolo de um futuro que, apesar de incerto, ainda era possível.

Desci as escadas com passos firmes, mantendo a postura de quem está no controle, mesmo quando por dentro o turbilhão de pensamentos ameaçava me desestabilizar. Cumprimentei alguns dos presentes com apertos de mãos, sorrisos e acenos, mas meu foco estava em seguir em frente, sem me deixar levar pelo entusiasmo do momento. Havia muito trabalho a ser feito.

Um carro me aguardava próximo à pista, pronto para me levar ao hotel onde eu passaria os próximos dois dias. Enquanto nos afastávamos do aeroporto, observei as ruas de Washington, a cidade que eu esperava em breve poder chamar de lar oficial, pelo menos por quatro anos. No caminho, pensava nos encontros, reuniões e compromissos que me aguardavam. Mas, acima de tudo, minha mente vagava por questões mais pessoais, aquelas que eu não podia compartilhar com ninguém.

Ao chegar ao hotel, fui recebida com a mesma atenção e cordialidade de sempre, mas havia algo no ar, uma tensão palpável que não consegui ignorar. Depois de uma rápida conversa com a equipe, fui escoltada até minha suíte. A porta se fechou atrás de mim, e o silêncio foi quase ensurdecedor. Caminhei até a janela, olhando para a cidade que, nos próximos dias, seria o epicentro das minhas decisões.

Dei um profundo suspiro e deixei o peso dos ombros se espalhar. Estava em Washington, mas sentia que estava, mais do que nunca, em território inimigo.

O silêncio da suíte foi interrompido por três batidas firmes na porta. Virei-me, esperando algum membro da equipe com as costumeiras atualizações de última hora, mas ao abrir, vi Saulo parado à porta. Seu rosto, geralmente impenetrável, estava marcado por uma expressão de preocupação evidente.

- Saulo? O que foi? - perguntei, tentando entender o que estava por trás daquele olhar receoso. Ele não respondeu de imediato, apenas entrou no quarto, fechando a porta atrás de si com cuidado. Notei que ele segurava um envelope de tamanho médio, e a tensão no ar ficou ainda mais densa.

- Lauren... - começou ele, sua voz carregada de uma gravidade que não era comum. - Recebemos isso há pouco. Achei que você deveria ver imediatamente.

Entreguei-lhe um olhar inquisidor, mas Saulo apenas estendeu o envelope na minha direção, seus olhos evitando os meus. Peguei o documento, sentindo o peso simbólico daquele papel antes mesmo de abrir. Enquanto rasgava o lacre, meu coração acelerava, como se já soubesse o que estava por vir.

Assim que desdobrei o papel, as palavras saltaram à minha frente como um soco no estômago: "Pedido de guarda". O nome de Harry estampado no topo do documento me fez prender a respiração. Ele havia seguido em frente com sua ameaça. Meu ex-marido estava oficialmente entrando na justiça para tirar Liz de mim.

- Sinto muito, Lauren - Saulo murmurou, sua voz quase inaudível. - Eu sei o quanto isso significa para você.

Fiquei paralisada por alguns instantes, lendo e relendo as palavras, como se elas pudessem mudar de alguma forma se eu olhasse por tempo suficiente. As alegações eram claras e cruéis: Harry alegava que eu era uma mãe ausente, que minha campanha presidencial estava me afastando de minha filha, e que Liz precisava de estabilidade—algo que, segundo ele, eu não poderia oferecer.

Aos olhos da naçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora