𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 25

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CAPÍTULO 25

Fim do exílio.

— Mary, tá pronta? — Cinco grita, da porta de entrada da casa. Eu estou terminando a carta que escrevi, justificando o nosso sumiço, dizendo que precisávamos ir o quanto antes para a nossa nova casa no Canadá. Não quero que Janette e Bob achem que algo de ruim aconteceu conosco, então se eles vierem atrás, vão encontrar essa carta sobre a mesinha de centro na sala. — Vamos, mulher!

— Eu já tô indo!

Dobro a folha e saio correndo do quarto, posicionando a carta debaixo do vaso de flores.

— Já se despediu das flores também? — Pergunta ele, sarcástico, porque eu comentei que me apeguei ao lugar.

— Sim, delas também.

Nós saímos da casa, fechando a porta e preparados para voltar para o nosso mundo. Cinco encontrou um rapaz na cidade que aceitou ficar com os pintinhos e as galinhas, e Cinco não pediu nada em troca. Acho que ele também se despede do seu galinheiro, pela forma que sorri para o local.

De mãos dadas e ansiosos, nós descemos as escadas do metrô. Aqui embaixo há várias caixas de coisas que não queríamos abrir mão, como o dinheiro que trabalhamos tanto para ter e algumas sementes de morango. É claro que iríamos levar um pedaço deles também.

Nas outras caixas há comida. Muita mesmo. Cinco disse que a viagem demoraria 20 horas, pelo atalho que ele calculou, mas aqui há comida para duas semanas. Sabemos como é bom ter sobrando.

Quando chegamos na plataforma, Cinco acena para a placa com os símbolos, porque sabe que alguém está o observando por alguma câmera escondida. Em poucos segundos, o trem chega. O meu coração acelera, e ouvir a voz feminina e robótica que ecoa aqui só me traz sensações e lembranças ruins.

— Tá tudo bem, querida. Vai dar certo. — Hargreeves beija a minha testa, me trazendo confiança.

— Sim. Agora vai dar certo.

Eu dou um selinho em sua boca, em seguida ajudando-o a levar todas aquelas caixas e a maleta para dentro do trem.

Tomamos nossos lugares, e eu preciso segurar a mão de Cinco, apertando bem forte, torcendo para esse lugar não brincar com a nossa cara outra vez.

A viagem, obviamente, não foi seguida numa linha só. Eu queria poder deitar no ombro de Cinco, dormir, e só acordar quando já tivéssemos chegado. Entretanto, nós mudamos de linhas e estações a cada uma hora, seguindo o mapa de Cinco.

Há momentos em que eu fecho os olhos, me lembrando dos dias em que passei aqui com ele, e em como não tínhamos um relacionamento ainda. Me lembro de como ele cuidava de mim desde então. Faço isso porque, mesmo sendo uma época ruim, ainda é melhor do que olhar para a janela do trem, vendo ele se movimentar e meus pensamentos pessimistas acharem que o caminho está errado.

— Tá com fome, Mary? — Cinco me pergunta, depois que descemos em outra estação.

— Tô morrendo de fome — Eu falo, talvez um pouco exagerado. Minha barriga está roncando, mas não chega perto do que já esteve um dia.

— Senta aqui, vamos comer alguma coisa.

Eu me sento ao lado dele no banco. Nós abrimos nossas caixas, tirando de lá biscoitos e latas de refrigerante. Fizemos essa refeição após algumas horas de viagem. Saímos cedo de casa e, apesar de saber o horário fora desse metrô, meu relógio biológico diz que preciso me deitar e descansar os meus olhos.

— Até que essa estação não tá tão suja. Podemos dormir um pouco aqui? — Eu pergunto a ele, que devolve o que sobrou da comida para a caixa de papelão. Cinco força um sorriso fraco, também cansado, e segura a minha nuca para beijar a minha testa.

O Exílio - Cinco HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora