𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 23

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CAPÍTULO 23

7° ano em exílio

É engraçado como o tempo é capaz de mudar nossas perspectivas. Eu já moro nessa casa com Cinco há mais tempo do que eu morava em Nova York. Os dias passam um atrás do outro e a normalidade de viver aqui me faz pensar que minha vida nunca foi diferente disso.

Parece que Cinco sempre esteve presente em minha vida, como se nos conhecêssemos desde o nosso primeiro dia de vida. Parece que nunca antes eu tive um cargo que demandava mais da minha competência do que só alimentar animais.

Parece um sonho. Essa é a verdade.

Parece que a vida em que eu tinha uma família, morando numa cidade grande e trabalhando para o governo foi apenas um sonho. Tão distante de mim que não posso mais apalpá-lo. Só a saudade por essa vida tão inacessível me faz acreditar que um dia a vivi.

Pensando por um lado, deve ser bom. Dizer que minha vida antes da viagem no metrô parece um sonho, não necessariamente, digo que a minha vida agora é ruim.

Cinco é um bom marido.

Sei que estou sã e feliz com a vida no campo por conta dele. Eu amo ele por isso. Sozinha, eu perderia a cabeça. E acredito que outra pessoa não seria tão empenhada e atenciosa como Cinco é com as nossas vidas.

Ele prometeu isso. Disse que faria nossos dias aqui serem perfeitos, do jeito que ele conseguisse. E ele fez.

A vida que eu tenho hoje também é um sonho, graças a ele. Eu busco mostrá-lo todos os dias em como ele transformou aquele inferno em umas das épocas mais felizes da minha vida. Ainda sou apaixonada por ele e, sendo sincera, não acho que essa paixão e esse amor irão acabar tão cedo.

Já fazem sete anos. E convivemos todos os dias juntos. Se algum sentimento devesse acabar, já teria esgotado. Agora é vitalício.

Meu marido adora agradar. Não na frente dos outros, mas sozinhos no quarto quando acordamos, ele me faz lembrar o porquê escolhi ele para ser o meu marido. Ele chega perto, se arrastando no colchão e buscando meu corpo por debaixo das cobertas.

Meu cérebro aprendeu a acordar antes de ele fazer isso, para assim eu poder sentir todos os dias o carinho que Cinco faz antes de me acordar. Ele coloca a sua mão sobre a minha barriga, acariciando, e seu quadril colado no meu. O seu queixo se apoia sobre o meu ombro, e assim eu sinto a sua respiração em meu cabelo, percebendo o quanto ele está lutando contra o sono.

Cinco suspira, beijando o meu ombro, em seguida abrindo espaço em meu pescoço para beijar também. Sua mão se move da minha barriga para a minha coxa, deslizando devagar. Só então ele aproxima sua boca do meu ouvido e sussurra com a voz rouca:

Bom dia, querida.

Eu abro um sorriso, ainda de olhos fechados, e levo a minha mão para a sua cabeça atrás de mim, querendo sentir seu cabelo.

— Bom dia.

Eu puxo ele, que sem precisar de ordem alguma, beija a minha têmpora diversas vezes.

— Pode voltar a dormir — Ele me dá outro beijo. — Eu coloco comida para os bichinhos.

Eu dou um sorriso pela folga. Na mesma hora, Cinco se mexe na cama, seu calor corporal desaparecendo de mim enquanto eu escuto ele se levantar. Eu iria perguntar que horas são, mas então escuto o filho mais velho de Cinco dar o primeiro grito do dia.

— Onde tá indo? Tá tão cedo — Eu tento puxá-lo de volta para cama, mas já é tarde: o meu amor já está colocando a sua roupa.

— Vou trabalhar na estação. Quero chegar mais cedo hoje.

O Exílio - Cinco HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora