𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 21

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CAPÍTULO 21

5° ano em exílio

Hoje Cinco está estranho.

Me levou café na cama e me deixou ficar deitada por mais tempo. Se ofereceu para fazer o almoço e disse que à tarde poderíamos passear na cidade. Acrescentou dizendo que eu não precisaria fazer nada o dia inteiro.

Como eu disse, está estranho.

Almoçamos juntos na varanda, aproveitando o vento que refresca nesse dia quente. Depois nos arrumamos e fomos para a cidade: Cinco sorrindo feito um bobo para tudo, e eu encarando ele com desconfiança. Tento me lembrar de algo lógico para o comportamento dele, mas não nasceram mais pintinhos no galinheiro, então essa felicidade toda continua misteriosa.

Na cidade, ele disse que eu poderia provar qualquer roupa que ele iria me esperar. Algo raríssimo. Só faço compras sozinha porque Cinco detesta me esperar.

— Gostou dessa? — Pergunta ele, encarando o vestido lilás que eu provei, e como ele modelou o meu corpo.

Amei.

— Também gostei. Vamos levar para o caixa.

Eu fechei o provador e tirei o vestido. Cinco nem está revirando os olhos pela demora, parece até outra pessoa. Eu me questionei se era outra pessoa, se algum Cinco naquela lanchonete infernal tinha trocado de lugar com o meu namorado.

— Me fala qual era o nome do seu disfarce na CIA — Peço para ele, testando-o.

— Jerome.

— E qual restaurante você comia?

— Mary, pra quê isso? Não exagere, eu só tô querendo passar um dia inteiro com você.

— Exato. Isso é estranho.

— Não é, não. Moramos juntos, eu te vejo todo santo dia.

— Hoje é terça-feira. Você devia estar no metrô e eu colhendo morangos.

— Se quiser voltar pra casa e colher morangos, pode ir — Hargreeves tira a chave do carro do bolso, pendurando-a em seus dedos na frente dos meus olhos. A situação é singular, mas não quero voltar para casa ainda.

— Não.

— Ótimo. — Ele guarda de volta em sua calça. — Quer sorvete?

Eu agarro a mão dele e digo que sim, animada. Faz muito, muito, muito tempo que não tomamos sorvete. Esses industrializados mesmo. São só os sorvetes de frutas que faço em casa para aliviar nos dias quentes.

Nós dois pegamos sorvetes de chocolate, com cobertura de chocolate e tudo mais que seja doce. De mão dadas, caminhamos até o lado da pequena cidade onde há uma vista bonita para os montes. Verdes e dividindo a paisagem com o azul do céu.

Cinco tomou metade do seu sorvete, que felizmente ficou para mim. Passamos tempo o bastante aqui para o sol ir embora. Conversamos muito, sentados nos bancos e assistindo ao horizonte alaranjado.

— Hoje é o dia 1.997 — Ele fala, aleatoriamente.

— Ein?

— A nossa contagem.

— Já tem tudo isso? — Eu me impressiono, fazendo as contas e caindo a ficha que já tem cinco anos que estamos exilados.

— Tá passando rápido, né?

— Porque estamos seguindo em frente — Eu deito minha cabeça em seu ombro, vendo a luz do sol em minhas pernas dar lugar lentamente à sombra.

Cinco beija a minha cabeça, concordando. Quando o sol já vai embora por completo, nós levantamos dos bancos, voltando para o carro. No caminho, Cinco volta a se agitar, coçando a nuca e assobiando.

O Exílio - Cinco HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora