CAPÍTULO 16
1° ano em exílio
Cinco é fácil de se morar junto. É a conclusão que eu tirei depois desses três meses na casa de campo. Tirando a bagunça com as ferramentas e o banheiro encharcado após o banho, ele tenta ser organizado na maior parte do tempo.
Tirando também quando fica estressado com a sua obra e joga tudo para o alto, e eu tenho medo de algo me acertar sem querer. Mesmo que eu esteja na sala.
- Vai se foder! - Ele grita, jogando o martelo com força na mesa, bufando em seguida. Me inclino no sofá para encontrá-lo, ele raramente deixa as portas da estufa abertas, justamente para eu não me meter.
- Tudo bem aí, amor?
- Não!
- Deixe isso pra depois. A gente tem que sair hoje.
Nós conversamos ontem que precisávamos sair para encontrar comida, comércio ou moradores locais. Conhecer melhor o lugar onde moramos. Passamos esses três meses nos alimentando dos morangos, da comida que havia nos armários e geladeira, e das árvores ao redor da casa. Ou caçando pássaros, também.
Mas chegou a hora e temos que sair. É bom que os dias mais gelados do inverno já passaram, e não vamos sofrer tanto com a caminhada. Nós deixamos uma mochila pronta ontem à noite, com roupas, água e todos os materiais de sobrevivência que já estamos acostumados.
Pego a mochila, colocando alguns potes com morangos dentro. Eu não quero parecer ingrata, eu já passei meses me alimentando de ratos, mas mesmo sendo deliciosos, eu não aguento mais comer só morangos o dia inteiro. Coloco a mochila em minhas costas e espero Cinco vestir seu casaco. Ainda está com aquela cara mau humorada, e espero que desapareça ao longo do caminho.
- Para qual lado vamos? - Pergunto para ele. Não tenho nenhuma ideia de onde a cidade mais próxima fica, temos 30% de chance de acertar.
- Por aqui. É onde eu encontrei mais ferro, deve ter mais pessoas para aquele lado - Cinco aponta para a direita, seguindo esse caminho.
Eu só concordo e sigo ele.
Após dez minutos de caminhada, a mochila já estava cansativa de carregar, então entreguei-a para Cinco. Nós andamos por bastante tempo, debaixo de um sol fraco que mal nos esquenta, mas é o suficiente para derreter a neve no chão. Intercalamos o peso da mochila, até encontrarmos ao longe uma pequena cidade. Sorrimos, aqui em cima da colina, e descemos com cuidado para chegar até o lugar.
Há um posto de gasolina, diversas lojas de roupas, em mais abundância hortifruti, e pessoas por todos os lados fazendo suas compras. Há também um supermercado grande, ao lado de um hospital. Tudo muito perto e totalmente diferente do que eu pensava.
Acho que me perdi em tanto tempo sem ver pessoas, e com as viagens interdimensionais, que pensei encontrar carros antigos e comércios aos pedaços. Mas tudo aqui é bem moderno. O supermercado, por exemplo, tem um vasto estacionamento, o que mostra que grande parte dos moradores tem um automóvel, e não cavalos. Ou então significa ser o único supermercado em muitos quilômetros.
Nós caminhamos pela cidade, conhecendo cada comércio e a comunidade. Decidimos entrar no supermercado primeiro, ansiosos para colocar num carrinho tudo o que mais sentimos falta.
- Pega aí, Mary! - Cinco anuncia, segundos depois me arremessando um pacote de café em pó na minha direção. E depois mais um. E mais um. Até que ele começa a achar que está em um jogo de basquete e dificulta que eu alcance os pacotes.
- Dá pra parar?!
- O último! - Cinco diz, gargalhando com o seu mundo ideal de cafés.
Ele arremessa o último pacote, que estava numa altura impossível de eu alcançar, então o café escorrega dos meus dedos e cai no chão atrás de mim, furando um pequeno pedaço. Cinco ri ainda mais da cena, e eu chego perto para trazer juízo aquele homem.
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O Exílio - Cinco Hargreeves
Fiksi PenggemarMarilyn decide que a melhor escolha para passar mais tempo com a família é saindo do emprego atual, sendo assistente de um oficial de operação extremamente rigoroso na CIA. Entretanto, com promessas e promoções tentadoras, ela decide continuar, part...