Marina Soarez Medina's point of view
A manhã começou como qualquer outra, mas o peso da rotina estava se tornando cada vez mais difícil de carregar. Gabriel estava na sala, arrumando suas malas para a próxima viagem, e eu me via lutando para manter a calma. As meninas já sabiam o que isso significava, e o ambiente da casa estava mais carregado do que o normal. Helena, com apenas seis anos, já era perceptiva o suficiente para sentir a tensão no ar. Cecília, ainda tão pequena, parecia mais irritadiça, como se pudesse sentir a mudança que se aproximava.
Eu tentava me concentrar no trabalho, no crescimento da minha marca de biquínis, mas a verdade era que meu coração estava pesado. Gabriel iria partir novamente, e o ciclo recomeçaria: noites solitárias, meninas chorando pela ausência do pai, e eu tentando ser forte o suficiente para manter tudo em ordem.
Helena estava sentada no sofá, com os olhos fixos no pai, mas sem a alegria habitual. Cecília, no chão, brincava com seus brinquedos, mas suas birras estavam mais frequentes, e qualquer coisa parecia ser motivo para uma nova crise.
— Não quero que você vá, papai, — Helena finalmente falou, com a voz baixinha, mas cheia de emoção. Aquela frase simples me atingiu em cheio, porque eu sentia o mesmo.
Gabriel parou o que estava fazendo e se ajoelhou na frente dela.
— Eu sei, minha pequena, — ele disse, com a voz calma e cheia de carinho. — Eu também não gosto de ficar longe, mas prometo que vou voltar rápido, e quando eu voltar, a gente vai passar muito tempo juntos, tá bom?
Eu observei a cena de longe, sentindo uma mistura de emoções. Queria acreditar nas palavras dele, queria acreditar que, desta vez, as coisas seriam diferentes, mas era difícil. Toda vez que ele partia, deixava um vazio que eu tinha que preencher sozinha.
Enquanto Gabriel conversava com Helena, meu telefone começou a vibrar na mesa ao lado. Olhei para a tela e vi o nome de um dos investidores da minha marca. Mais uma ligação que eu precisaria atender, mais uma negociação para manter o negócio funcionando. Respirei fundo, tentando reunir forças para continuar.
— Marina, você quer ajuda com algo? — a voz de Gabriel me tirou dos pensamentos. Ele estava de pé, me olhando com preocupação.
— Não, estou bem, — menti, enquanto pegava o telefone. — Só preciso atender essa ligação.
Ele assentiu, mas eu podia ver nos olhos dele que ele sabia que não era só isso. Mas o que ele poderia fazer? Ele tinha suas responsabilidades, e eu tinha as minhas. No final das contas, alguém precisava ficar, e esse alguém sempre era eu.
Atendi a ligação, tentando soar profissional, tentando esconder o cansaço que estava impregnado em cada parte de mim.
— Sim, estou aqui, — respondi ao interlocutor, enquanto ouvia os detalhes da próxima reunião que precisaria marcar, as expectativas que precisaria cumprir.
Do outro lado da linha, a voz do investidor era firme, cheia de exigências, e eu me via tentando manter a compostura. O cansaço mental estava começando a se manifestar fisicamente; meus ombros doíam, minha cabeça latejava, e havia uma pressão constante no peito.
Enquanto discutia os detalhes, observei Gabriel se despedindo de Helena e Cecília, tentando aliviar o peso da separação com promessas de diversão quando ele voltasse. Mas eu sabia que as despedidas eram sempre difíceis, e a volta sempre parecia demorar mais do que o esperado.
Quando a ligação finalmente terminou, senti o silêncio da casa me envolver como um manto pesado. Gabriel estava parado na porta, as malas ao seu lado, pronto para sair.
— Eu volto logo, — ele disse, tentando sorrir, mas o sorriso não chegava aos seus olhos.
— Eu sei, — respondi, forçando um sorriso em troca.
Nos abraçamos, e eu me permiti relaxar por um breve momento nos braços dele, tentando guardar a sensação de segurança para os dias que viriam.
— Eu amo vocês, — ele sussurrou, beijando minha testa antes de se afastar.
— Nós também te amamos, — respondi, mas havia um medo crescente dentro de mim, um medo de que, um dia, essas palavras não fossem mais suficientes para manter tudo de pé.
Enquanto a porta se fechava atrás dele, senti a casa ficar mais fria, mais vazia. Cecília começou a chorar, e Helena ficou em silêncio, perdida em seus pensamentos. Eu me preparei psicologicamente para lidar com mais uma ausência, para ser forte por nós três. Mas, por dentro, eu estava esgotada.
Voltei ao trabalho, tentando focar nos detalhes da coleção nova que Sophia e eu estávamos desenvolvendo, mas a mente insistia em vagar. Era difícil manter o foco quando tantas coisas estavam fora do meu controle. Eu queria estar presente para as minhas filhas, queria que a minha marca crescesse, queria apoiar Gabriel nos sonhos dele... mas, cada vez mais, parecia impossível equilibrar tudo isso.
As birras das meninas continuaram ao longo do dia, como se sentissem minha própria inquietação. E, entre uma ligação e outra, entre uma crise e outra, eu sentia o peso do cansaço se intensificar, ameaçando me derrubar. A verdade era que eu estava lidando com mais do que podia carregar, e a ideia de que Gabriel voltaria logo era a única coisa que me dava forças para continuar.
Mas, até quando isso seria suficiente?
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Our Waves - Gabriel Medina
Fanfiction2° TEMPORADA DE ON YOUR WAVE. RECOMENDO QUE LEIA ANTES! Helena, agora uma promessa emergente no surfe competitivo, continua a trilhar seu caminho nas ondas, enquanto sua família lida com os desafios e mudanças que vêm com essa nova fase. Gabriel, t...