CAPÍTULO 20

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Marina Soarez Medina's point of view

Acordo naquela manhã com uma sensação estranha. A casa está silenciosa, exceto pelo som distante de Cecília e Helena brincando no quintal. Estou sozinha na cama, o lado de Gabriel já frio. Há uma parte de mim que se pergunta se ele está evitando enfrentar tudo o que descobriu na noite anterior. Mas ao me levantar, vejo uma caneca de café fumegante na mesa de cabeceira, um gesto tão pequeno, mas que diz tanto. Ele está aqui.

Passo um tempo no banheiro, olhando para o meu reflexo no espelho. Minha mente volta à conversa da noite anterior, revivendo cada palavra, cada emoção que compartilhei. Foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, abrir-me assim para Gabriel, mostrar todas as minhas feridas. Mas ele me ouviu, sem julgamentos, sem interrupções, apenas me ouviu. E agora, enquanto prendo o cabelo e lavo o rosto, pergunto-me como ele realmente está lidando com isso.

Quando desço, vejo Gabriel na cozinha, sentado à mesa, com os olhos fixos na xícara de café em suas mãos. Ele está imóvel, perdido em pensamentos, e por um momento, sinto um aperto no peito. E se tudo o que revelei para ele o afastou? E se, agora que ele sabe, ele começa a ver-me de uma maneira diferente, com menos admiração, menos amor?

Dou um passo em direção a ele, hesitante, mas determinada a não deixar o medo me paralisar. — Bom dia, — digo suavemente, tentando medir sua reação.

Ele levanta os olhos para mim, e o que vejo neles não é confusão ou dúvida, mas uma ternura que me surpreende. — Bom dia, — ele responde, a voz carregada de algo que eu não consigo identificar de imediato.

— Como você está? — pergunto, minhas palavras saindo um pouco mais trêmulas do que eu pretendia.

Gabriel hesita por um momento, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. — Estou... processando, acho. — Ele sorri de lado, aquele sorriso que sempre me fez sentir segura, mas que agora parece carregado de um novo tipo de sinceridade. — Tenho pensado muito sobre o que você me contou.

Sento-me ao lado dele, sentindo o peso da conversa que está por vir. — E o que você acha disso? — pergunto, tentando manter minha voz firme.

Ele olha para mim, e há uma intensidade em seus olhos que me faz querer desviar o olhar, mas eu não o faço. Não desta vez.

— Marina, quando você falou sobre seu pai, sobre sua mãe, sobre Matheus... — Ele para, como se as palavras fossem difíceis de dizer. — Eu percebi que, por mais que eu te ame, por mais que eu queira te proteger, eu não estava realmente entendendo o quanto você estava carregando sozinha.

Essas palavras me atingem com uma força inesperada, como se ele estivesse desnudando a verdade que eu sempre soube, mas nunca quis encarar. Meu instinto é me encolher, me proteger, mas em vez disso, eu apenas fico ali, ouvindo-o.

— Eu sei que o que você passou não vai simplesmente desaparecer porque conversamos sobre isso, — ele continua, agora segurando minha mão com firmeza. — Mas quero que você saiba que estou aqui. Não vou fugir, não vou te deixar sozinha com esses medos. Vamos lidar com isso juntos, um passo de cada vez.

Sinto uma onda de emoções se agitar dentro de mim—medo, alívio, esperança. Todas essas coisas misturadas, criando um redemoinho que quase me sufoca. Nunca imaginei que ouvir essas palavras me afetaria tanto, mas a verdade é que, no fundo, eu temia que compartilhar tudo isso com ele pudesse afastá-lo. Que ele olhasse para mim e visse alguém quebrada demais para ser amada completamente.

— Gabriel, — minha voz falha enquanto tento reunir as palavras certas. — Eu tenho tanto medo de perder você... de que, um dia, você perceba que não vale a pena continuar. — As lágrimas começam a rolar antes que eu consiga contê-las, e odeio isso, odeio parecer tão frágil, mas não consigo parar.

Ele se aproxima, puxando-me para seus braços com uma ternura que me desarma completamente. — Você nunca vai me perder, Marina. — Ele sussurra contra o meu cabelo, e há uma convicção na voz dele que me faz querer acreditar. — Eu sei que não posso apagar o que aconteceu com você, mas quero ser aquele em quem você confia, aquele que te ajuda a carregar esse peso.

Eu me agarro a ele, sentindo o calor do seu corpo, o conforto do seu abraço. É uma promessa silenciosa, uma que vai além das palavras, uma que me diz que, apesar de tudo, ele está disposto a lutar por nós.

Enquanto estou ali, abraçada a ele, algo dentro de mim começa a mudar. É como se, pela primeira vez em muito tempo, eu permitisse que a esperança voltasse a crescer, que uma pequena chama de confiança começasse a iluminar o que antes era escuridão. Não é uma cura imediata, mas é um começo. Um começo para nós dois.

— Eu quero confiar em você, — digo, minha voz ainda trêmula, mas com uma firmeza renovada. — Quero que a gente consiga superar isso juntos, Gabriel. Só preciso de tempo... tempo para deixar essas feridas cicatrizarem.

Ele me beija suavemente na testa, um gesto que me faz sentir protegida, amada, e acima de tudo, aceita. — Vamos fazer isso no seu tempo, — ele responde, com uma paciência que me toca profundamente. — Eu estarei aqui, cada passo do caminho.

É nesse momento que percebo que Gabriel não está apenas lidando com os meus traumas; ele está abraçando-os como parte de quem eu sou, como parte de nós. E essa compreensão, essa aceitação incondicional, é o que me dá forças para acreditar que, apesar de todas as dificuldades, podemos construir algo novo, algo mais forte do que qualquer coisa que já tivemos antes.

Enquanto nos seguramos ali, em um abraço que parece durar uma eternidade, sei que ainda há muito a ser dito, muito a ser feito. Mas, pela primeira vez em muito tempo, sinto que não estou mais sozinha. E isso, mais do que qualquer outra coisa, me dá esperança.

VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CAPÍTULO!

Finalmente! Marina compartilhou seus medos e desabafou com o Gabriel!

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Our Waves - Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora