CAPÍTULO 14

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Gabriel Medina's point of view

Estava tarde, e a casa já estava mergulhada no silêncio. As meninas dormiam tranquilamente, e Marina também havia se recolhido. Fiquei ali, sentado na sala, perdido em meus pensamentos. As palavras de Marina ainda ecoavam na minha mente, pesadas como uma âncora.

Ela estava certa, claro. Não dava para fingir que tudo estava bem, porque não estava. Eu sabia disso desde o momento em que entrei pela porta de casa. Sentia que algo se quebrara entre nós durante os meses que passei fora, mas ouvir Marina expressar seu medo de que fosse tarde demais me atingiu de uma forma que eu não esperava.

Eu tinha feito a escolha certa ao desistir da competição. Por mais difícil que fosse, sabia que precisava estar aqui, com elas. Mas saber disso não fazia as coisas serem menos complicadas. Eu precisava mudar, precisava reconquistar a confiança de Marina, e isso não seria fácil.

Levantei-me do sofá, decidido a fazer algo que raramente fazia: pedir ajuda. Se havia uma coisa que sempre admirei em minha família, era a forma como eles sempre estavam lá uns para os outros. E agora, eu precisava dessa força, desses conselhos.

Na manhã seguinte, enquanto Marina levava as meninas para a escola, peguei o telefone e fiz algo que não fazia há muito tempo: liguei para minha mãe.

— Filho! — A voz dela estava cheia de surpresa e alegria. — Que bom ouvir você! Como estão todos?

— Estamos bem, mãe. Estamos... tentando. — Sentei-me à mesa da cozinha, sentindo o conforto que a voz dela sempre me trazia. — Eu precisava conversar, sabe? Sobre a Marina, sobre nós.

Ela ficou em silêncio por um momento, provavelmente entendendo a seriedade da situação.

— Claro, meu filho. Você sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa. O que está acontecendo?

Contei a ela sobre as dificuldades que Marina e eu estávamos enfrentando, sobre como a distância e o meu foco no surfe nos afastaram. Falei sobre o medo de Marina, e o meu, de que talvez fosse tarde demais para consertar as coisas.

— Gabriel, eu sei que você ama a Marina e as meninas mais do que qualquer coisa — disse minha mãe, com a mesma firmeza e doçura de sempre. — Mas você precisa mostrar isso a elas, todos os dias. Não se trata apenas de estar presente fisicamente, mas de estar presente de coração. E isso vai exigir esforço, paciência e muito amor.

— Eu sei, mãe. — Suspirei, sentindo o peso de suas palavras. — Mas como eu faço isso? Como começo a reconquistar a confiança dela?

— Comece pelas pequenas coisas — ela sugeriu. — Mostre que você se importa com o que ela sente, com o que ela precisa. E acima de tudo, seja honesto. Não tente esconder seus sentimentos ou preocupações. Ela precisa saber que você está comprometido com esse relacionamento tanto quanto ela.

Depois de conversar com minha mãe, senti uma leveza que não sentia há muito tempo. Mas sabia que precisava ouvir mais. Liguei para o meu pai em seguida, e ele, com sua sabedoria simples, foi direto ao ponto.

— Gabriel, eu sempre disse que o surfe era importante para você, mas nunca mais importante do que sua família. — A voz dele estava cheia de gravidade. — Você tomou a decisão certa ao voltar, mas precisa se preparar para o trabalho duro. Relacionamentos não são fáceis, filho, especialmente quando há anos de mágoas envolvidas. Mas se você estiver disposto a lutar por isso, vai valer a pena.

Por fim, procurei Sophia, minha irmã. Ela sempre foi meu ponto de apoio emocional, e sabia que sua perspectiva seria valiosa.

— Eu vejo o quanto vocês dois se amam, Gab — ela disse, após ouvir toda a história. — Mas o amor, por si só, não é suficiente. Ele precisa ser alimentado, cuidado. E às vezes, isso significa colocar as necessidades de Marina acima das suas. Fazer sacrifícios que talvez você não quisesse fazer, mas que são necessários.

Cada uma dessas conversas foi como uma peça de um quebra-cabeça que eu estava tentando montar. Todos me deram conselhos diferentes, mas todos me levaram ao mesmo ponto: eu precisava estar disposto a fazer o que fosse necessário para salvar o meu casamento.

Voltei para casa no final da tarde, determinado a começar a fazer as mudanças que prometi a mim mesmo. Quando Marina entrou na cozinha, a observei enquanto ela preparava o jantar. Havia uma tensão em seus ombros, um peso que eu sabia que tinha colocado ali.

— Mari, posso ajudar? — Perguntei, aproximando-me com cuidado.

Ela olhou para mim, surpresa, mas assentiu.

— Claro, pode cortar os legumes?

Peguei a faca e comecei a trabalhar ao seu lado. Não era grande coisa, mas era um começo. Um pequeno passo na direção certa. E enquanto trabalhávamos juntos, em silêncio, percebi que era assim que precisava ser daqui para frente. Um dia de cada vez, um gesto de cada vez. Reaprendendo a ser o homem que ela merecia.

VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CAPÍTULO!

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