Gabriel Medina's point of view
Esse último mês foi uma montanha-russa. Fui de uma etapa a outra da competição, cruzando continentes, correndo atrás de mais uma vitória, mas, a cada onda que eu pegava, algo dentro de mim parecia estar quebrando. Sempre fui competitivo, sempre quis ser o melhor, mas, dessa vez, a motivação não estava lá. Cada gota de suor, cada madrugada revendo as filmagens dos treinos... tudo parecia vazio, desconectado do que realmente importava para mim.
Quando cheguei à penúltima etapa, na Austrália, senti o peso de tudo o que estava acontecendo. Eu estava liderando o ranking, com o quinto título mundial praticamente ao alcance das mãos. Mas, ao invés de euforia, sentia uma angústia crescente. Sabia que, se ganhasse ali, iria para a etapa final no Havaí com uma vantagem que poderia me garantir o título. Era o sonho de qualquer surfista... mas, para mim, estava se tornando um pesadelo.
Lembro-me de uma noite, logo após a primeira bateria, em que saí do hotel e caminhei até a praia. Estava escuro, e as ondas pareciam sussurrar no silêncio. Peguei o telefone e liguei para Marina. Precisava ouvir a voz dela, me reconectar de alguma forma.
— Oi, amor — ela atendeu, a voz cansada, mas sempre carinhosa.
— Oi, Mari... Como estão as meninas? — perguntei, tentando ignorar o nó na garganta.
— Estão bem... Helena está se saindo bem nas aulinhas de surfe, mas ela sente sua falta. Cecília também... perguntou de você hoje, acredita?
Senti meu coração se apertar ao imaginar Cecília, com seus olhos curiosos, perguntando por mim.
— Eu também sinto falta delas, Mari. Sinto falta de vocês.
Houve um silêncio do outro lado da linha, e pude quase ouvir o sorriso triste dela.
— Gabriel, só não se esqueça do que é mais importante, tá? Sei o quanto o surfe significa para você, mas...
Ela não precisou terminar a frase. Eu já sabia o que ela queria dizer. E naquele momento, olhando para o mar escuro, percebi que estava me distanciando do que realmente importava. A competição continuou, mas minha mente estava em outro lugar. Surfava automaticamente, com uma eficiência que impressionava os outros, mas não a mim.
No final da etapa australiana, consegui chegar às semifinais, mas a vitória não trouxe a euforia de antes. Ao invés disso, foi um alívio. Mais uma etapa se foi, mais uma obrigação cumprida. Mas, e a felicidade? Onde estava a alegria que o surfe sempre me trouxe? Em algum momento, ao longo desse mês, ela se perdeu.
Então veio a etapa final no Havaí. As águas, que antes me traziam tanto conforto, agora só me faziam sentir um vazio maior. Eu estava no topo, com tudo para ganhar o quinto título mundial. Mas o peso dessa conquista potencial me esmagava. A pressão externa era imensa, mas a interna era ainda maior.
— Você está a um passo de fazer história, Gabriel! — diziam os jornalistas.
Mas, em vez de me sentir animado, eu só pensava no que estava deixando para trás. Helena começando a surfar, Cecília dizendo suas primeiras palavras... Eu deveria estar lá. Eu precisava estar lá.
Foi aí que tomei a decisão final. Olhei para o mar pela última vez antes da competição e disse para mim mesmo:
— Não vale a pena.
Quando anunciei que iria desistir, a reação foi imediata. A decepção nos olhos de alguns colegas era visível. Alguns surfistas me abordaram, incrédulos.
— Cara, você é uma lenda! Não pode desistir agora, não quando está tão perto! — um deles quase gritava, como se não acreditasse no que estava ouvindo.
Mas outros me olhavam com compreensão. Eles sabiam o que era sacrificar a vida pessoal pelo esporte. Sabiam que, no fim das contas, os títulos e troféus não abraçam você de volta.
— Você fez o que tinha que fazer — disse um veterano, que já havia passado por essa encruzilhada antes. — A vida é mais do que isso aqui.
A mídia, como era de se esperar, dividiu-se. Alguns me atacaram, dizendo que eu estava jogando fora uma chance de ouro, que estava decepcionando milhões de fãs. Outros, mais sensíveis, perceberam o que eu estava tentando preservar: minha família, meu tempo com elas, a infância das minhas filhas.
Quando finalmente voltei para casa, todos os pesos, todas as dúvidas começaram a desaparecer. Vi Helena correndo em minha direção, os olhos brilhando, e Cecília, com seus bracinhos estendidos, esperando por mim. Naquele momento, soube que havia feito a escolha certa. Não importava mais o que o mundo pensava. Eu estava onde precisava estar.
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Gabriel finalmente reagindo!
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Our Waves - Gabriel Medina
Fanfiction2° TEMPORADA DE ON YOUR WAVE. RECOMENDO QUE LEIA ANTES! Helena, agora uma promessa emergente no surfe competitivo, continua a trilhar seu caminho nas ondas, enquanto sua família lida com os desafios e mudanças que vêm com essa nova fase. Gabriel, t...