PRÓLOGO

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Marina Soarez Medina's point of view

O céu começava a tingir-se com os primeiros raios de sol, uma paleta suave de rosa e laranja que iluminava a praia ainda deserta. As ondas quebravam tranquilamente, um ritmo constante que sempre me trazia uma paz silenciosa, mas hoje, minha mente estava longe de se acalmar. Gabriel estava sentado na areia, observando Helena e Cecília brincarem, mas eu sabia que seus pensamentos estavam a quilômetros de distância, talvez já nas próximas competições, nos compromissos que pareciam nunca acabar.

Helena corria descalça pela areia, rindo com a alegria contagiante que só as crianças possuem. Ela adorava a praia, como não poderia? Crescer com o mar como quintal é um privilégio que poucos têm. Ela tinha apenas seis anos, mas já mostrava uma curiosidade e habilidade no surfe que me lembrava tanto do Gabriel. Um misto de orgulho e preocupação crescia em mim. Será que ela realmente queria seguir esse caminho, ou estava apenas tentando se aproximar do pai, que tantas vezes estava ausente?

Cecília, com apenas dois anos, cambaleava atrás da irmã, suas perninhas curtas tentando acompanhá-la. Cada risada dela era uma melodia doce, um lembrete de que a infância é fugaz, e que logo, logo, ela também estará correndo para as ondas. Mas será que eu e Gabriel estaremos prontos para isso? Estaremos juntos para testemunhar essas transformações? Ultimamente, tenho me perguntado isso com mais frequência.

A câmera descansava em minhas mãos, e eu estava pronta para capturar cada momento dessas meninas, como sempre fazia. Documentar cada etapa, cada sorriso, cada conquista — era minha maneira de preservar o que o tempo insiste em levar. No entanto, enquanto focava a lente nelas, sentia uma distância crescente entre mim e Gabriel, algo que as fotos não poderiam capturar ou resolver. Ele estava presente, sim, mas sua mente parecia presa nas ondas, nas competições que o afastavam de nós.

Gabriel se levantou, os olhos fixos nas meninas, mas aquele olhar distante me preocupava. Era um olhar que dizia mais do que palavras poderiam expressar. Ele amava o mar, disso eu nunca tive dúvidas, mas a que custo? Eu estava construindo algo novo, algo que era meu — a linha de moda praia estava finalmente tomando forma, e pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que tinha algo que era só meu. Mas o que isso significava para nós como família? Eu estava me dividindo entre meus sonhos e a necessidade de manter nossa família unida.

Olhei para Gabriel, tentando captar seu olhar, mas ele estava absorto, perdido em pensamentos que não compartilhava comigo. Era assim que as coisas estavam se tornando: dois mundos paralelos que raramente se cruzavam. As meninas precisavam dele aqui, não apenas como uma presença física, mas como pai, alguém em quem pudessem confiar, alguém que estivesse disponível para elas. Mas como competir com o mar, com as ondas que sempre chamaram por ele?

Eu me aproximei dele, deixando a câmera de lado, e o toquei no ombro. Ele se virou para mim, um sorriso cansado nos lábios, mas os olhos ainda refletiam uma inquietação que ele tentava esconder.

— Elas estão crescendo tão rápido, não é? — murmurei, tentando iniciar uma conversa, qualquer coisa que nos reconectasse.

— Sim, tão rápido que é difícil acompanhar, — ele respondeu, mas sua voz soou distante, quase como um eco.

— Gabe, eu sei que o surfe sempre foi tudo para você, mas... você não sente que está perdendo algo importante? Que está perdendo elas?

Ele não respondeu de imediato, apenas desviou o olhar para o horizonte, onde o sol começava a se erguer. Eu sabia que aquela pergunta não era fácil de responder, mas era algo que precisava ser dito. Nossa família estava mudando, e eu precisava saber se ele estava disposto a mudar também, a encontrar um equilíbrio.

Enquanto Cecília ria e tentava alcançar Helena, que estava mais à frente, senti uma pontada de tristeza. Eu queria que aqueles momentos durassem para sempre, que nossa família fosse forte o suficiente para resistir a qualquer tempestade, mas isso exigia que estivéssemos todos comprometidos. E, ultimamente, parecia que Gabriel estava sendo puxado em uma direção diferente.

Ele finalmente voltou a me olhar, mas o sorriso que me deu não alcançou seus olhos.

— Eu sei, Mari. Eu sei que estou perdendo momentos importantes. Mas não sei como parar... O mar sempre foi minha vida, mas agora, olhando para elas, sinto que estou em um ponto de ruptura.

As palavras dele, tão honestas e cheias de dúvida, cortaram através da minha própria inquietação. Era isso que eu temia: que o amor pelo mar, pelo surfe, estivesse nos afastando mais do que nos unindo. Precisávamos encontrar uma maneira de fazer isso funcionar, para nós e para as meninas.

— Então vamos encontrar um jeito, Gabe. Juntos. Não podemos deixar que o mar leve mais do que ele já levou.

Ele assentiu, mas eu sabia que a jornada seria difícil. O sol agora brilhava plenamente, iluminando a praia e as nossas filhas, que brincavam sem preocupação. Elas mereciam o melhor de nós, e eu estava determinada a garantir que não perderíamos mais do que já havíamos perdido.

VEJO VOCÊS NO PRIMEIRO CAPÍTULO!

Our Waves - Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora