CAPÍTULO 19

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Gabriel Medina's point of view

Eu sempre soube que meu mundo girava em torno das ondas, do sal e do vento. Por muito tempo, isso foi suficiente. Mas então veio Marina, e meu universo se expandiu de uma maneira que eu nunca imaginei. Ela se tornou meu porto seguro, a rocha firme em meio às marés agitadas da minha vida. E quando Helena e Cecília nasceram, pensei que nada poderia ser mais perfeito.

Mas agora, olhando para Marina sentada no sofá, com o rosto parcialmente iluminado pela luz suave da sala, percebo que estamos mais distantes do que nunca. A tensão entre nós é palpável, quase sufocante. Parece que toda vez que tento me aproximar, há algo invisível que a mantém afastada, algo que eu não consigo tocar ou entender completamente.

Sento-me ao lado dela, tentando não parecer tão nervoso quanto estou. Respiro fundo, porque sei que a conversa que está por vir não será fácil. — Marina... — começo, sentindo o peso de cada palavra que estou prestes a dizer. — Eu sei que você está passando por muita coisa, e eu quero ajudar, quero que a gente se entenda. Mas, honestamente, sinto que você está sempre hesitante, como se algo te impedisse de confiar em mim totalmente. O que está acontecendo?

Ela permanece em silêncio por um momento, e o silêncio dela me assusta mais do que qualquer resposta imediata. Quando finalmente olha para mim, vejo um brilho de vulnerabilidade em seus olhos que raramente se permite mostrar. — Gabriel... — sua voz é suave, quase um sussurro. — Eu estou tentando, mas tem coisas que você não sabe, coisas que me prendem.

Seus olhos desviam dos meus, fixando-se em um ponto distante no chão. Algo me diz que ela está prestes a revelar partes de si que manteve escondidas por tanto tempo. Partes que talvez ela mesma tenha medo de encarar.

— Eu nunca quis que isso fosse um peso entre nós, mas acho que chegou a um ponto em que preciso falar sobre isso. — Marina começa, sua voz trêmula, como se cada palavra fosse uma luta. — Eu sempre fui uma criança que buscava amor e aceitação. Meu pai nos abandonou quando eu era pequena. Ele simplesmente saiu da minha vida, e minha mãe... Bem, ela estava lá fisicamente, mas nunca me deu a atenção ou o carinho que eu precisava. Eu cresci sentindo que não era suficiente, que algo em mim afastava as pessoas.

Ela faz uma pausa, e posso ver que está revivendo memórias que ainda doem. Memórias que moldaram quem ela é hoje.

— E então, eu conheci Matheus. — O nome sai dos lábios dela com uma amargura que me deixa desconfortável. — No início, ele parecia a resposta para todas as minhas inseguranças. Ele era carinhoso, atencioso... Tudo que eu achava que precisava. Mas, com o tempo, ele se tornou... outra pessoa. Matheus me manipulava, me diminuía, e o pior de tudo, me traiu durante seis anos com a minha própria prima. Quando descobri, foi como se o mundo desabasse. Eu me vi destruída, sem chão, e tudo isso veio à tona na frente das câmeras, da mídia, de todo mundo.

Eu sinto um nó se formando no meu estômago. Eu conheci Matheus antes de tudo isso, antes de eu e Marina nos envolvermos, e agora, só de ouvir o nome dele, sinto uma repulsa profunda.

— E agora... — Ela continua, a voz vacilando. — Agora, mesmo sabendo que você é diferente, que você me ama... Eu me pego com medo, medo de que um dia você se canse de mim, que minhas inseguranças te afastem, que minhas filhas cresçam sem você, como eu cresci sem meu pai. Esse medo me paralisa, Gabriel. E mesmo sabendo que você não é como ele, eu não consigo evitar.

Eu a observo, e pela primeira vez, entendo o peso que ela carrega. É como se ela estivesse constantemente esperando o momento em que tudo desmoronará, como já aconteceu antes. Meu coração aperta ao ver o quanto ela está ferida, o quanto isso ainda a afeta.

— Marina... — Minha voz sai mais suave do que eu pretendia. — Eu nunca quis que você sentisse isso. Eu sabia que sua história com Matheus foi dolorosa, mas não sabia o quanto ainda te assombrava. E sobre o seu pai... — Pauso, tentando escolher as palavras certas. — Eu entendo porque você tem medo de que nossas filhas cresçam sem mim. Mas quero que você saiba que estou aqui, agora, por escolha. Eu escolhi estar aqui porque vocês são a minha vida, e eu não vou embora. Nunca.

Ela finalmente levanta o olhar para mim, e vejo lágrimas acumulando nos olhos dela. Pego sua mão, apertando-a levemente. — Você não precisa carregar tudo isso sozinha, Marina. Eu estou aqui, e quero ser mais do que apenas um pai ou marido presente fisicamente. Quero ser a pessoa em quem você pode confiar, com quem você pode contar.

Marina solta um suspiro trêmulo, como se estivesse liberando uma pequena parte do fardo que carrega. Ela se inclina para mim, apoiando a cabeça em meu ombro, e eu a envolvo em meus braços, segurando-a com firmeza, como se pudesse protegê-la de todas as dores que o passado ainda traz.

— Eu sei que vai levar tempo, — sussurro para ela. — Mas estamos juntos nessa, e eu não vou a lugar nenhum. Vamos superar isso, um passo de cada vez.

Por alguns minutos, ficamos ali, apenas respirando juntos, em um silêncio que é mais confortante do que qualquer palavra. Sei que esta é apenas a primeira de muitas conversas que precisamos ter, mas é um começo. E, mais importante, é um começo que estamos dispostos a dar juntos.

Eu não posso mudar o passado de Marina, nem apagar as cicatrizes que Matheus ou sua infância deixaram, mas posso prometer que estarei ao lado dela, ajudando-a a encontrar uma nova maneira de viver, uma maneira em que o amor não seja associado ao medo, mas sim à segurança e à confiança. É um caminho longo, mas estou disposto a percorrê-lo com ela, passo a passo, até que finalmente encontremos nosso caminho de volta um para o outro.

VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CAPÍTULO!

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