Gabriel Medina's point of view
Nos últimos dias, algo estava diferente com Helena. Eu conhecia minha filha bem demais para não notar. Ela sempre foi aquela garotinha cheia de energia, mas de repente, havia uma apatia no seu comportamento. Não era nada muito óbvio, mas nos detalhes pequenos – como a maneira lenta que ela acordava de manhã e o fato de não querer ir para a escola com o mesmo entusiasmo de antes – eu sabia que algo estava errado.
Naquela manhã, durante o café, ela brincava distraidamente com o cereal no prato. Marina e eu trocamos olhares, ambos preocupados, mas decidimos esperar para ver se Helena nos contaria por si mesma o que estava acontecendo. Não gostava de forçar as coisas com ela, queria que ela se sentisse confortável em se abrir quando estivesse pronta.
Após o jantar, quando nos acomodamos na sala, Helena se aproximou e, com aquela sua maneira tranquila, finalmente começou a falar:
— Papai, eu fiz um novo amiguinho na escola hoje — sua voz suave, quase tímida, me fez sorrir de leve.
— É mesmo? E qual é o nome dele? — perguntei, sentindo um pouco de alívio ao perceber que, ao menos, ela estava encontrando algo positivo para compartilhar.
— Marcello — ela respondeu, um sorriso tímido no rosto. — Ele me defendeu de umas meninas que estavam sendo malvadas comigo.
Meu coração apertou no mesmo instante. Antes que eu pudesse processar direito, Marina já havia se levantado do sofá, com a típica ferocidade materna nos olhos.
— O quê? Quem são essas meninas? Isso não pode acontecer! Amanhã mesmo eu vou à escola falar com a diretora!
Eu segurei a mão dela, pedindo calma. Se não fizesse isso, Marina já estaria com o carro ligado, pronta para ir resolver a situação no calor do momento.
— Calma, Marina — murmurei, tentando manter o controle da situação. — Vamos ouvir a Helena primeiro, tudo bem?
Helena, com a mesma calma que eu, olhou para Marina e acenou, tentando tranquilizá-la.
— Está tudo bem, mamãe. Marcello me ajudou, e depois a professora conversou com as meninas. Elas pediram desculpas, e eu acho que elas não vão fazer mais isso.
Enquanto ela explicava, pude perceber que, mesmo sendo só uma criança, Helena já entendia a importância de não querer causar mais confusão. Ela preferia resolver as coisas da forma mais tranquila possível, um reflexo de mim, talvez. Eu tinha que admirar a maturidade dela, embora a parte de mim que queria protegê-la quisesse, claro, agir como Marina.
Marina, por sua vez, parecia mais controlada, mas eu sabia que ela ainda estava processando o que aconteceu. O que a acalmou de verdade foi ver que Helena estava bem, e que, no fundo, ela havia resolvido o problema de uma maneira que funcionou para ela.
— O Marcello também gosta de surfar — Helena continuou, mudando o assunto para algo mais leve. — Mas ele não tem uma prancha boa, e nem ninguém para ensinar ele.
Ela me olhou com aquele olhar pidão, que eu conhecia muito bem. Eu sabia onde isso ia dar, mas deixei ela continuar.
— Será que ele pode surfar com a gente um dia, papai?
Eu sorri para ela, mas uma pequena parte de mim sentiu um certo ciúmes. Um "amiguinho" defendendo minha filha e agora querendo surfar com ela? Meu instinto paterno estava em alerta, mas a lógica sempre vencia. Além disso, a história de Marcello me tocou de um jeito que eu não esperava. Lembrei de como eu comecei no surfe, de como o apoio certo na hora certa fez toda a diferença na minha vida. Marcello tinha algo em comum com a minha história, e eu sabia que essa era uma oportunidade de ajudá-lo como alguém me ajudou um dia.
— Claro, meu amor. Podemos levá-lo no fim de semana para surfar com a gente — respondi, escondendo o pequeno ciúme bobo que surgiu.
Os olhos de Helena brilharam de felicidade, e aquilo era tudo o que importava. Eu sabia que ajudar Marcello também significava ajudar minha própria filha a ver o lado bom nas pessoas.
No sábado, fui buscar Marcello na casa dele. O garoto era tímido, de sorriso contido, mas com uma determinação que eu reconheci. Conversamos no caminho para a praia, e ele me contou mais sobre a vida dele, sobre como sempre quis aprender a surfar, mas não tinha uma prancha adequada e nem alguém para ensinar. Ele vinha de uma família humilde, e era difícil conseguir esse tipo de apoio.
Quando chegamos à praia, preparei as pranchas e chamei os dois para a água. Antes de começar, tinha uma surpresa para Marcello. Tirei do carro uma prancha nova, idêntica à de Helena, e entreguei para ele.
— Isso... é para mim? — ele perguntou, com os olhos arregalados de incredulidade.
— Sim. Se você vai surfar, precisa de uma prancha de verdade. Agora é sua vez de mostrar o que pode fazer.
O sorriso no rosto dele foi de pura alegria. Ele e Helena correram para as ondas, como se tivessem sido feitos para aquilo. Marcello, embora inexperiente, demonstrava um potencial impressionante, e a determinação em seus olhos me lembrava de mim mesmo quando estava começando.
Passamos a tarde inteira na praia, rindo, ensinando, pegando ondas juntos. A sensação de ver minha filha feliz e de poder ajudar um garoto como Marcello era indescritível. Quando o sol começou a se pôr, Marcello se aproximou de mim, suado e exausto, mas com um sorriso que dizia tudo.
— Obrigado, senhor Gabriel. Esse foi o melhor dia da minha vida.
Aquelas palavras ficaram comigo. Eu sabia o que aquilo significava. Mais do que uma prancha ou uma tarde no mar, ele havia encontrado algo maior. Uma paixão, talvez um caminho. E, naquele momento, percebi que queria fazer mais.
No caminho de volta, Marcello comentou algo que me fez pensar.
— Tem outras crianças lá no meu bairro que também querem surfar, mas ninguém tem prancha. Quase ninguém lá tem condições.
Essas palavras ficaram ecoando na minha cabeça. Eu sempre acreditei que o surfe tinha o poder de mudar vidas, de dar às pessoas um sentido de propósito e liberdade que poucas coisas no mundo conseguem.
Naquela noite, deitado ao lado de Marina, eu comecei a pensar em como poderia fazer mais. Não só para Marcello, mas para outras crianças como ele. Algo grande, algo que realmente pudesse fazer a diferença.
VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CAPÍTULO!
Marcello ainda vai aparecer bastante por aqui!
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Our Waves - Gabriel Medina
Fiksi Penggemar2° TEMPORADA DE ON YOUR WAVE. RECOMENDO QUE LEIA ANTES! Helena, agora uma promessa emergente no surfe competitivo, continua a trilhar seu caminho nas ondas, enquanto sua família lida com os desafios e mudanças que vêm com essa nova fase. Gabriel, t...