CAPÍTULO 5

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Marina Soarez Medina's point of view

A casa estava tão silenciosa que o som dos meus próprios passos me assustava. Depois de semanas de correria, finalmente tive um momento de paz, mas o silêncio era quase ensurdecedor. As meninas foram passar a noite na casa dos avós, e Simone, que se tornou uma mãe para mim ao longo dos anos, insistiu para que eu tirasse um tempo para mim.

— Você precisa de um tempo para si, Marina. Deixe as meninas comigo. Vai descansar, minha filha — ela me disse, com aquele tom afetuoso e firme que, de alguma forma, sempre consegue acalmar meu coração. Eu sabia que não adiantava discutir; ela tinha razão, como sempre.

Mas agora, sozinha na sala, o silêncio me fazia lembrar do quanto sinto falta do Gabriel. O buraco que a ausência dele deixa é imenso. Cada viagem parece alargar a distância entre nós, uma distância que nem todas as mensagens trocadas ao longo do dia conseguem encurtar. Entendo que ele está perseguindo os próprios sonhos, mas e os meus? E o sonho de sermos uma família presente, juntos?

Antes que eu me perdesse demais nesses pensamentos, a campainha tocou. Adriana e Sophia chegaram com sorrisos largos e garrafas de vinho, prontas para transformar essa noite em um refúgio de risadas e confidências. Adriana, como sempre, foi a primeira a quebrar o gelo, colocando uma música suave para tocar enquanto nos acomodávamos no sofá.

— Ai, meninas, eu precisava disso — confessei, soltando um suspiro de alívio ao me ver cercada por elas. Havia algo na presença das duas que me fazia sentir que tudo ficaria bem, pelo menos por esta noite.

— Nem me fale — disse Adriana, servindo as taças de vinho com uma precisão quase ritualística. — Ser mãe, mulher, e ainda tentar ser a mesma pessoa que éramos antes... às vezes parece impossível.

— E você ainda trabalha com moda, hein? Só posso imaginar o quanto deve ser estressante — comentou Sophia, me olhando com aquele carinho que só uma verdadeira amiga consegue transmitir. Ela não tem filhos, mas sinto que, de algum jeito, ela entende o peso que carrego.

Respirei fundo, e antes que pudesse me conter, comecei a desabafar.

— É... com o Gabriel sempre viajando, parece que tudo recai sobre mim. Eu amo minhas filhas, amo meu trabalho, mas às vezes sinto que estou me afogando. Me divido entre ser uma boa mãe, construir minha carreira, e ser a esposa que ele merece... mas e eu? Quem sou eu além dessas funções? Às vezes, só queria que ele estivesse aqui, do meu lado. Para dividir as preocupações, para segurar minha mão e dizer que vai ficar tudo bem. Mas ele não está, e eu fico me perguntando... será que vale a pena? Será que vale a pena sacrificar tanto? — Minha voz falhou, e senti as lágrimas queimando os olhos, mas segurei o choro. Tinha me prometido ser forte, mas ali, com elas, percebi que também precisava ser humana.

Adriana estendeu a mão e apertou meu braço com força.

— É difícil, Marina. Mas você não está sozinha. A gente tá aqui, sempre esteve e sempre vai estar. Você não precisa carregar tudo isso sozinha.

— Sim — concordou Sophia, os olhos brilhando de empatia. — Ver vocês assim, tão fortes, me dá uma ideia do quanto ser mãe e mulher é desafiador. Vocês são incríveis, sério.

Nós rimos um pouco, mas logo o riso se dissolveu em lágrimas. Eu chorei. Chorei porque estava cansada, porque sentia falta do Gabriel, porque amava minhas filhas mais do que qualquer coisa, mas às vezes sentia que estava me perdendo no meio de tudo isso. E elas choraram comigo, não porque compartilhavam o mesmo fardo, mas porque entenderam o peso que eu carregava.

— Eu só quero que ele me veja — continuei, enxugando as lágrimas. — Que veja o quanto estou me esforçando, o quanto estou tentando manter tudo de pé. Mas às vezes... às vezes parece que sou invisível, que ele só vê o surfe, as competições, as viagens... e eu fico aqui, sozinha.

— Você não é invisível, Marina — Adriana respondeu, firme. — Você é a pessoa mais visível, mais brilhante que eu conheço. Ele te ama, só está perdido nos próprios sonhos. Mas ele vai perceber, uma hora ele vai perceber o quanto você significa para ele, para todos nós.

O silêncio que se seguiu foi reconfortante, preenchido apenas pelas batidas suaves da música ao fundo. Por fim, nos deitamos na sala, em meio às almofadas, as três exaustas, mas de uma maneira boa. Dormimos ali mesmo, juntas, como se nossas presenças pudessem curar as feridas do dia a dia.

Antes de fechar os olhos, agradeci silenciosamente por ter amigas como Adriana e Sophia. Elas me lembraram que, apesar de tudo, eu não estava sozinha, e que era normal me sentir assim, perdida às vezes. Amanhã seria outro dia, mas esta noite era só nossa. E por enquanto, isso era tudo o que eu precisava.

VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CAPÍTULO!

Calma, gente! A vida de um casal nem sempre são flores, o que eles estão passando é apenas uma fase. E garanto que o nosso casal vai continuar juntinhos!

Our Waves - Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora