Dois

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Já se passaram dois dias.

As horas se dissiparam como manteiga na luz do sol, entorpecidas pela raiva impotente que o havia dominado durante todo o verão, e Harry não conseguiu tirar as palavras da tia Petúnia de sua mente.

Aquele garoto Snape horrível.

Havia outros Snape's no Reino Unido? Alguns que tinham mais ou menos a idade da mãe dele, e bruxos? Era a única teoria que fazia sentido para ele. Afinal… Snape odiava seus pais. Ele sempre teve muito a dizer sobre James Potter, e nada disso era bom.

Sua tia se recusou a falar mais sobre o assunto, mas isso não foi uma grande surpresa para ele. "Não faça perguntas" era uma frase que ele estava acostumado a ouvir. (Mesmo que agora o enfurecesse.) A única explosão que ela teve sobre aquele garoto Snape horrível foi a única informação que ele conseguiu arrancar dela naquela noite, antes que ela e o tio Vernon tivessem arrastado o filho de rosto verde para dentro do carro para ver o médico local para um check-up de madrugada.

E então houve silêncio.

Eles não recolocaram as grades na janela dele, mas isso não os impediu de trancar a porta e proibi-lo de deixar Edwiges entrar em seu quarto para entregar correspondência. Não que isso fizesse alguma diferença; nada que Edwiges trouxera para ele ultimamente valia a pena ler. Harry só saía para ir ao banheiro e tomar banhos rápidos. Às vezes, ele foi obrigado a lavar a louça antes de ser jogado de volta para fora de vista.

O que tia Petúnia quis dizer com isso? Certamente ela não conhecia Snape — certamente sua mãe não, Merlin me livre, gostava de Snape. E... ela disse ‘menino’, não ‘homem’. Quantos anos tinha seu professor de Poções? Ele, Sirius e o Professor Lupin não estavam no mesmo ano? Sua mãe pode ter conhecido Snape na escola. Mas por que a tia Petúnia o conheceria, se eles se conheceram na escola? Teria sido algum tipo de estratagema da tia dele? Uma maneira de irritá-lo? Puni-lo por machucar seu precioso Duda?

Ela estava em contato com o mundo mágico?

A mensagem do Uivador se juntou à crescente do garoto Snape. Ela deve ter tido algum tipo de contato com bruxos, para ter recebido um Uivador e saber o que a mensagem significava. “Lembre-se do meu último.” Lembrar do quê?

Por que ninguém lhe contaria nada?

Harry rolou na cama e pressionou as palmas das mãos contra os olhos, até que a escuridão explodiu com faíscas e suas têmporas doeram. Era tudo tão frustrante. Eles não confiavam nele? Ele não provou seu valor naquele cemitério? Ele assistiu ao assassinato de Cedric. Ele assistiu Voldemort se erguer novamente, em seu novo corpo. Isso não significava nada? Como ele deveria lutar quando estava sendo deixado no escuro? Ele não tinha mais onze anos — ele não era uma criança. Ele merecia saber o que aconteceria com ele. Nem mesmo Ron ou Hermione lhe contariam nada. Era tudo "você nos verá em breve” e “só espere um pouco mais, Harry.”

Harry passou anos esperando. Ele estava farto disso. Ele queria respostas. Nada mais de palavras que fazem você se sentir bem, nada mais de omissões doces e nada mais de falsos chavões. Ele quase não percebeu sinais de movimento, até que o som da maçaneta girando rompeu a névoa vazia em que sua vida havia se tornado. Virando a cabeça para o lado com o que pareceu um esforço hercúleo, Harry olhou fixamente para a porta e esperou que os Dursleys aparecessem. Ele não teve que esperar muito; seu tio entrou na sala, vestindo um terno e um sorriso presunçoso.

“Nós vamos sair,” ele disse.

“Desculpe?”

“Nós — isto é, sua tia, Dudley e eu — vamos sair.”

“Tudo bem,” disse Harry sem graça, olhando de volta para o teto.

“Você não deve sair do seu quarto enquanto estivermos fora.”

That Awful BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora