Três

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A primeira impressão de Harry sobre Cokeworth foi de familiaridade, de tomates frios enlatados em torradas igualmente frias e lençóis úmidos e mofados. Ele já tinha estado ali antes, ou pelo menos — em algum lugar próximo disso, antes de Hogwarts. Eles ficaram em um hotel perto da área quando o tio Válter os levou para fugir de suas cartas. Snape realmente esteve tão perto, todo esse tempo? Perto o suficiente para que eles pudessem ter se encontrado na loja da esquina da cidade, ou se cruzado na rua?

Sua segunda impressão foi de vaga preocupação. A seção de Cokeworth para onde Lupin aparatou era nitidamente decadente, de uma forma que Little Whinging nunca fora, mas conforme eles viajavam mais adiante, passando pela cidade e pelas pequenas casas e parques infantis, as coisas pareciam passar de ‘ruins’ para ‘abandonadas’. O rio parecia ser o marcador divisor. Ele serpenteava pelos arredores das pequenas casas de família que Harry tinha visto de relance, cheias de lixo e marrom de sujeira. À distância, ele podia ver o topo de uma velha chaminé de fábrica, pairando alto acima dos dois andares de trabalhadores abandonados que formavam o lado da cidade em que ele teve o azar de se encontrar.

Snape morava aqui?

“Harry,” Lupin murmurou, roçando seu ombro com um toque quase imperceptível, “tente ficar por perto. Ainda temos um longo caminho a percorrer.”

Ele não queria saber quão ruim era o estado das casas ainda mais a dentro. Será que Cokeworth de alguma forma passou intocada pela limpeza de favelas nas décadas de 1950 e 1960?

As janelas de quase todas as casas pelas quais passavam estavam fechadas com tábuas, quebradas ou ambos. Alguns prédios estavam sem portas. Qualquer casa pela qual passavam com luzes acesas parecia dificilmente melhor que as demais; Harry sentiu como se tivesse entrado em uma passagem congelada do tempo, uma relíquia que havia sido esquecida pelo resto do mundo, e deixada para apodrecer sozinha.

“Aqui estamos.” As palavras eram tão suaves que Harry mal as ouviu. Elas pararam bem no fundo do labirinto de estreitos, das ruas de paralelepípedos, em frente a uma casa que deveria ter sido demolida quarenta anos antes. Quando Lupin levantou a mão para bater na porta, Harry sentiu de repente como se o ar quente e sujo o estivesse sufocando, enchendo seus pulmões até que eles se tornassem pesados. Era difícil respirar. Não querendo que o Professor Lupin visse o pânico esmagando seu esterno, ele fixou os olhos em seus tênis, traçando a linha onde eles estavam começando a rasgar nas partes superiores.

A porta se abriu. Ele sentiu seu coração sacudir ao som dela.

"Não suponho que vocês sejam apenas trouxas esperando promover o Senhor,” Severus Snape disse categoricamente, e Harry lançou um breve olhar para ele de onde ele estava inclinado para fora da porta antes de fixar os olhos novamente em seus cadarços.

“Olá, Severus,” Lupin disse através de sua barba, olhando para a rua vazia.

"Bem? Você vai entrar?"

Harry entrou na casa antes que sua coragem o abandonasse. O cheiro rançoso do rio não durou até a porta; a casa de Snape cheirava a velho, empoeirado, com o persistente cheiro forte de cigarro velho e café preto. Ele respirou fundo para se fortalecer e olhou ao redor.

O esperado esquema de cores verde e prata não estava em lugar nenhum; a sala de estar parecia uma cela de prisão, com estantes de livros como gaiolas, e a escassa quantidade de móveis era velha, com tecidos opacos e puídos que seriam considerados velhos há vinte anos. A única fonte de luz era uma lâmpada cheia de velas pendurada no teto. Harry esperava luxo, sedas e cetins, e uma horda de elfos domésticos; Snape não era um rico sangue-puro? Não deveria haver uma bela chaise longue, em vez de um sofá caído? Uma poltrona de couro não muito diferente daquelas da sala comunal da Sonserina, para substituir a antiga monstruosidade perto da lareira? Ele nunca prestou atenção suficiente ao seu Professor de Poções para realmente estudá-lo, mas ele não vestia sempre vestes finas, mesmo que monótonas? Ou ele simplesmente não notou as mangas desfiadas e os remendos envelhecidos que agora via claramente como se tivessem surgido do nada?

That Awful BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora