Quatorze

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“Acorde.”

Sua cicatriz estava queimando. Harry gemeu e se debateu, chutando a mão que cutucava seu ombro. “Vá embora,” ele disse, sibilando baixinho e pressionando a mão na testa, que parecia estar se partindo em duas. “Não me toque.”

“Levante-se, Potter. Não direi isso de novo.” Snape o empurrou com a mesma força de antes.

Abrindo os olhos, ele respirou fundo entre os dentes cerrados, esfregando o suor da testa. Snape estava de pé ao lado do sofá com um sorriso de escárnio e um prato vazio. "Que horas são?" Harry disse humildemente. A sala de estar estava escura, com a única fonte de luz vindo da cozinha. Por que ele tinha sido acordado? Ele tinha gritado? Ele tinha estado no cemitério, de novo, com Cedric, cujos olhos vazios tinham se aberto de repente para se tornar um longo corredor com uma porta preta no final. Ele estremeceu e puxou um dos cobertores para mais perto dos ombros.

Havia sombras escuras sob os olhos de Snape, como hematomas, realçadas pela luz da cozinha. “Quatro da manhã.”

“Eu… eu te acordei?” ele perguntou, sentindo-se estranho.

“Não. Eu estaria correto em assumir que você não limpou sua mente antes de dormir, então?” disse Snape.

Harry não respondeu, pressionando as palmas das mãos nos olhos até que pontos brilhantes de cor irromperam na escuridão e suas têmporas começaram a doer. Então, deixando as mãos caírem de volta ao seu lado, ele murmurou, “Desculpe por incomodar.”

Snape foi embora sem dizer uma palavra, desaparecendo na cozinha com o prato na mão. Harry rolou e se enrolou no sofá. Ele estava tremendo um pouco. A casa estava silenciosa, exceto por um leve barulho no outro cômodo, seguido pelo som da pia ligando e do fogão roncando para a vida. O pouco que ele conseguia ver do céu através das cortinas comidas por traças clareou lentamente conforme o tempo passava. Ele envolveu um braço em volta do travesseiro e o puxou para baixo para amortecer seu ombro. A luz da cozinha continuou acesa, mesmo quando ele conseguiu dormir novamente, caindo em um cochilo agitado.

Harry acordou novamente apenas algumas horas depois, sentindo como se não tivesse dormido quase nada. Snape ainda estava lá, acomodado em sua poltrona com o Profeta Diário na mão, ainda completamente vestido como antes. Ele mal abriu o jornal por um segundo antes de jogá-lo de volta com um bufo no banquinho ao lado da cadeira, balançando a cabeça com desdém. A curiosidade atingiu seu pico, Harry se levantou sobre um cotovelo para olhar de soslaio para o Profeta. “Aconteceu alguma coisa?”, ele perguntou, pescando seus óculos debaixo das almofadas do sofá e colocando-os. “Ou ainda está silencioso?”

“‘Aconteceu’, Potter?”

“Você sabe— aconteceu. Houve algum grande acidente que os trouxas não conseguem explicar e o Ministério não consegue? Desaparecimentos estranhos? Já houve algum sinal de Voldemort?”

“O único sinal de alguma coisa, Potter,” Snape disse friamente, “é seu desrespeito contínuo pelas regras da minha casa. Você não dirá o nome do Lorde das Trevas.”

Mais do que um pouco irritado com sua exaustão, Harry acenou com a mão em desdém e se esticou sobre a beirada do sofá, tentando agarrar o jornal—e soltando um grito quando Snape o roubou antes que ele pudesse fazer mais do que roçá-lo. “Ei!”

“Como eu certamente já lhe disse uma vez, você não passa de um garotinho maldoso que acredita que regras estão abaixo dele. Até que você tente me provar o contrário, não haverá Profeta para você.” Snape o olhou desapaixonadamente. “Por que você iria querer ler esse jornal imundo está além da minha compreensão.”

That Awful BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora