That Awful Boy

Vinte e Sete

Remus era um tolo.

Ele nunca teve uma opinião muito alta de si mesmo, mas se havia algo de que ele se orgulhava, era seu forte senso comum. James nunca havia compreendido isso completamente, embora não por falta de tentativas nos anos anteriores à sua morte, e Sirius nunca havia sequer tentado. Remus se estabeleceu no papel de “sensato” no momento em que ele foi recebido no grupo.

Isso não era senso comum. Isso era ridículo, e absurdo, e... estúpido.

Ele havia removido todo o seu guarda-roupa e o colocado sobre todas as superfícies disponíveis em seu quarto em Grimmauld Place; se alguém entrasse, ele teria dificuldade em explicar o que estava fazendo. “Decorando” não apaziguaria Molly, muito menos Sirius. Deus me livre que uma das crianças entre para falar com ele. Isso começaria uma linha de questionamentos que ele não tinha certeza se algum dia estaria preparado para responder.

E se descobrissem que ele estava tentando se vestir em antecipação a ver Severus…

Ele era um grande idiota.

Soltando um suspiro, Remus levantou seu suéter menos puído e o examinou em busca de buracos e manchas. As roupas de Severus não estavam em melhor estado do que as suas, mas…

Ouviu-se uma batida na porta, e Remus se jogou em sua varinha, girando em sua cama para mandar tudo de volta para o guarda-roupa. “Sim?” ele chamou enquanto se endireitava e tentava parecer inocente.

A porta rangeu ao abrir para revelar Sirius. Nenhum dos dois falou, mas a expressão pétrea no rosto de Sirius disse mais do que o suficiente. Pelo que pareceu uma eternidade, ele examinou o quarto como se estivesse procurando por algo—e o que quer que tenha encontrado pareceu fortalecer sua determinação, pois ele disse severamente: "Moony, precisamos conversar.”

_

Severus contou a Albus o que o garoto havia confessado.

Ele se arrependeu no momento em que anexou a carta à coruja de Potter junto com a ladainha de outras e a enviou para o céu aberto. Fechando a janela com um estalo, ele brevemente pensou em usar accio para trazer a coruja de volta e mandar a carta condenatória para a lareira, ou rasgá-la em pedaços; talvez até mesmo para banir os restos mortais para o nada—qualquer coisa para se livrar da onda de medo que começava na boca do estômago. Em vez disso, ele deu um passo para trás e observou a coruja diminuir de tamanho à distância, até que ela desapareceu de vista e ele ficou observando a tempestade se aproximando.

Potter tinha apenas cinco dias restantes em Spinner’s End. Cinco dias até Albus vir para enviá-lo para Grimmauld Place, onde, em vez de fortalecer sua mente, desorganizar as estantes de Severus, e cozinhando refeições dolorosamente elaboradas, ele passaria os dias lado a lado com Sirius Black e os Weasleys. E então ambos iriam para Hogwarts—e tudo voltaria a ser como era antes.

Severus não queria que isso acabasse.

Ele era um babaca egoísta. Potter pertencia aos amigos e ao padrinho. Cokeworth não era um lar para o garoto. Esta cidade era uma prisão, um beco sem saída para aqueles que acabaram aqui, e um cemitério para aqueles que tiveram a infelicidade de nascer nele. Potter seria mais do que isso. Ele seria mais do que Severus já foi, e até mais do que sua mãe morta há muito tempo, que nunca teve a chance de alcançar o vasto potencial que teve na vida.

Pressionando as palmas das mãos nos olhos até que as estrelas explodissem como fogos de artifício, Severus se apoiou na pia e tentou em vão afastar a dor de cabeça que ameaçava dominá-lo. Não era nem meio-dia e ele já estava agindo como um idiota piegas.

Sua mãe sempre desprezou isso nele. Ele era muito parecido com seu pai; muito trouxa, muito bravo e com uma tendência a chafurdar na autopiedade. Ele foi uma criança nervosa e pessimista—do tipo que qualquer pai odiaria—e cresceu e se tornou um adulto ansioso e odioso. Qualquer vida social que ela tivesse antes de concebê-lo voou pela janela no momento em que ele foi capaz de expressar o desejo de permanecer escondido dentro de casa;  os convites para as desculpas lamentáveis de festas nas casas dos vizinhos diminuíram, as viagens de um dia ao museu do outro lado da cidade tornaram-se raras e raras até cessarem completamente, e quando ele cresceu o suficiente para andar sozinho por Cokeworth, Eileen se tornou amarga e reclusa, contente em se esconder em seu apartamento apodrecido, dois em cima e dois embaixo, enquanto seu marido se afogava em uísque no bar.