O peso das folhas caídas

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O Outono estava se aprofundando, e o Rio de Janeiro começava a mostrar suas cores mais profundas e melancólicas. As folhas das árvores, que antes eram verdes vibrantes, agora se transformavam em tons de âmbar e ouro, caindo lentamente e cobrindo as ruas com uma manta de beleza efêmera. No entanto, para Sofia, essa temporada não trazia apenas a beleza típica do outono, mas também um peso crescente de ansiedade e desespero.

Sofia acordou cedo, mas a sensação de renovação habitual continuava ausente. O sol filtrava sua luz suave através das cortinas envelhecidas do pequeno apartamento, criando padrões dançantes no chão de madeira. A atmosfera estava fresca, com um leve cheiro de terra úmida e folhas secas entrando pela janela. No entanto, um peso invisível pressionava seu peito, tornando cada movimento um esforço.

Quando se levantou, o café da manhã com sua avó, Maria José, parecia mais um fardo do que um momento reconfortante. A cozinha estava decorada com simplicidade: azulejos antigos, uma mesa pequena com uma toalha florido e uma janela que dava para um emaranhado de fios e prédios desgastados. Maria José, envolta em um xale de lã cinza, tentava animar Sofia com histórias da sua infância. “Lembra daquela vez que você insistiu em fazer bolos sozinha e acabou transformando a cozinha em uma bagunça?” Maria José perguntou, com um sorriso carinhoso.

Sofia forçou um sorriso, mas o aperto em seu estômago tornava a tarefa difícil. “Sim, vovó. Lembro bem.” Sua voz tremia, e a inquietação que sentia estava se tornando difícil de ignorar. Observando a avó, Sofia percebeu que Maria José parecia mais fraca a cada dia, com um olhar cansado e movimentos mais lentos. O simples ato de levantar-se da cadeira parecia ser um esforço maior do que o normal.

Na faculdade, Marcos estava aguardando na entrada do prédio. Seu porte atlético e o sorriso amigável se destacavam, mas ao ver Sofia se aproximar, percebeu imediatamente que algo estava errado. Ela usava um suéter cinza, calças jeans e tênis simples, tentando se esconder atrás de uma aparência casual. Seu rosto estava pálido e os olhos, normalmente brilhantes, estavam opacos e carregados de ansiedade.

“Oi, Sofia. Você parece... cansada.” Marcos disse, com preocupação na voz.

Sofia tentou responder com um “Estou bem”, mas sua voz tremia. “Só um pouco de cansaço. Muitas coisas acontecendo.”

Marcos a observou com um olhar estudioso. “Você não precisa lidar com tudo sozinha. Às vezes, falar com alguém pode ajudar. Já pensou em procurar um terapeuta?”

A sugestão a fez sentir uma onda de culpa e desespero. Ela não queria admitir que estava lutando, mesmo para alguém que se importava com ela.

À noite, Vanessa apareceu no apartamento de Sofia, radiante e exuberante. Ela estava vestida em um vestido vermelho brilhante, maquiagem impecável e cabelo arrumado em ondas volumosas. Sua energia era palpável, e ela puxava Sofia para fora do apartamento, insistindo em ir a uma festa.

A festa estava em plena agitação: música alta, risadas misturadas com conversas animadas, e um aroma de comida e bebida pairando no ar. Vanessa parecia estar no seu elemento, dançando e interagindo com todos ao redor. Sofia, por outro lado, estava se sentindo deslocada. A vibração do ambiente e a agitação crescente a deixavam em um estado de nervosismo.

Ela se afastou da multidão, buscando um canto mais tranquilo no jardim, decorado com luzes cintilantes e fogueiras. O ar fresco, com o cheiro de fumaça e folhas queimadas, não ajudava a acalmá-la. A sensação de não conseguir respirar intensificava seu desespero. Ela tentava respirar profundamente, mas o aperto no peito só parecia piorar.

Com o telefone nas mãos, Sofia ligou para Daniel. A voz familiar ofereceu um breve alívio, mas a distância entre eles parecia ainda mais esmagadora. “Daniel, eu... eu não estou bem,” Sofia conseguiu dizer, a voz embargada. “Não consigo respirar, sinto que estou sufocando.”

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