Os dias seguiam e o inverno no Rio de Janeiro estava o que se poderia chamar de rigoroso, mas as noites geladas e o céu nublado criavam uma atmosfera que contrastava fortemente com o calor que o Rio costumava oferecer. O dia de hoje era um desses dias frios e nublados que começavam a encerrar mais um dia na cidade. Sofia caminhava pela calçada irregular da zona norte, envolta em um casaco de lã cinza escuro, que lhe caía de forma aconchegante e elegante. A cor escura do casaco contrastava com a cor pálida de seu rosto, evidenciando a fadiga que carregava.
As ruas estavam parcialmente molhadas devido à chuva leve que caíra mais cedo, refletindo o céu cinza e nebuloso. As árvores, nuas e desfolhadas, lançavam sombras longas e melancólicas sobre o chão. O vento gelado parecia cortar através das camadas de roupa de Sofia, e ela encolhia os ombros, tentando se proteger do frio.
Quando chegou ao apartamento, as luzes eram suaves, um calor que contrastava com o ambiente exterior. Sofia abriu a porta e foi imediatamente recebida pelo cheiro reconfortante de comida caseira, uma sensação de alívio no meio do caos. Maria José estava sentada na poltrona de veludo surrado na sala de estar, uma manta vermelha cobrindo suas pernas. A sala estava decorada de forma simples, com móveis antigos e quadros que lembravam uma época mais feliz. O sofá, um pouco desgastado, estava coberto com almofadas coloridas que davam um toque de calor ao ambiente.
"Oi, vovó," Sofia disse, aproximando-se e beijando a testa da avó, que sorriu fraco, mas com um brilho de reconhecimento no olhar.
"Oi, querida," respondeu Maria José, sua voz ainda carregando um tom de cansaço, mas um pouco mais forte do que nos dias anteriores. "Como foi seu dia?"
Sofia se sentou ao lado dela, segurando sua mão com ternura. "Foi cansativo, como sempre. Mas estou bem. E você? Como se sentiu hoje?"
Maria José soltou um suspiro leve. "Melhor, mas ainda me sinto fraca. O inverno não ajuda. Esse frio me deixa com mais dores."
Sofia tentou esconder sua preocupação, embora seu coração estivesse apertado. "Vamos tentar manter o calor aqui dentro. Vou preparar algo para você."
Enquanto se dirigia para a cozinha, Sofia pensava na conversa com Marcos mais cedo. Ele havia sido um apoio constante, e seu gesto de preocupação parecia sincero. Mas o calor que ele oferecia era diferente do que ela esperava de Daniel. Na cozinha, a luz quente das lâmpadas refletia nas panelas e utensílios, e o cheiro de comida começou a preencher o ambiente, criando um contraste acolhedor com o frio lá fora.
Ela preparava uma sopa de legumes, enquanto seu telefone vibrou no balcão. Era uma mensagem de Daniel. Ela olhou para a tela e viu uma foto dele em um evento de surfe, com um olhar exausto, mas tentando sorrir para a câmera. A legenda dizia: "Mais um dia difícil. Sinto muito a sua falta. Espero que esteja bem."
Sofia sorriu para si mesma, mas a falta de calor na imagem contrastava com a lembrança dos dias que passaram juntos. O sentimento de distância era palpável, uma ferida constante. No entanto, ela respondeu com encorajamento, tentando manter a esperança.
"Oi, Dani. Estou aqui, enfrentando o dia a dia. Espero que a competição melhore. Sinto sua falta também."
Depois de preparar a sopa, Sofia voltou para a sala com a comida. Maria José aceitou a tigela com um agradecimento silencioso. Acompanhando o momento, o som da televisão ao fundo anunciou uma reportagem sobre Daniel Moreira, destacando sua recente queda no ranking do campeonato.
"Olha, é o Daniel," disse Maria José, apontando para a tela com um gesto cansado.
Sofia olhou para a TV, vendo imagens de Daniel tentando manter uma expressão positiva diante das câmeras, apesar das notícias negativas sobre seu desempenho. Ela sentiu um aperto no coração, um sentimento de impotência ao vê-lo lutar para se manter no topo enquanto ela enfrentava seus próprios desafios.
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Quatro estações
RomansaSofia e Daniel viveram um amor de verão, ardente e promissor, mas quando o outono chegou, a distância esfriou o relacionamento e as folhas da confiança começaram a cair. Mas será que o amor pode sobreviver às cicatrizes que o tempo deixou? "Quatro E...