O início da primavera

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O cheiro de café invadia a sala de estar enquanto Marcos, distraído, observava pela janela o céu lentamente ganhar tons mais quentes. A primavera chegava, mas em seu coração, ainda havia um inverno persistente, frio, impenetrável. Ele sabia que, com a nova estação, flores viriam, a vida ganharia cores novamente. No entanto, nenhuma dessas cores parecia pertencer a ele. Não enquanto Sofia ainda estivesse distante.

Ela sempre foi o centro de sua atenção, mesmo quando ele tentava, em vão, se convencer do contrário. O sorriso dela, sua voz suave, as conversas que ele guardava como pequenos tesouros… Cada momento parecia ser um lembrete cruel do que ele não podia ter completamente. E ele esperava. Esperava por uma chance, por um vislumbre de reciprocidade. Mas essa espera estava começando a pesar, a enraizar-se em seu peito como uma sombra.

Marcos se lembrava da última vez que eles conversaram. O sol estava alto, um dia atípico para o início da primavera, mas Sofia parecia mais distante do que nunca. Ele sabia o motivo. Sempre soube. Daniel. Era o nome que estava entre eles, um fantasma do passado, uma presença constante no coração dela. Mas Daniel não estava mais por perto. Ela mesma havia dito que as coisas entre eles estavam confusas, que a distância os havia separado de vez. Mesmo assim, parecia que a sombra dele se recusava a desaparecer.

Marcos respirou fundo, sentindo o ar fresco da manhã entrar por seus pulmões. O tempo passava lentamente. Ele olhou para o relógio pela quinta vez naquela manhã. Já fazia horas que ele estava ali, esperando por ela. Sabia que não era novidade; esperava por Sofia há muito mais tempo do que qualquer relógio poderia marcar. E ele esperaria mais, se fosse necessário.

Ele se levantou do sofá e caminhou até a sacada, observando as árvores começarem a florescer na rua abaixo. Ele sabia que, assim como as flores, seus sentimentos por Sofia estavam brotando novamente, se renovando. Mas essa renovação trazia também uma dor silenciosa. Ela poderia sentir o mesmo por ele? Sofia sempre foi cautelosa, e Marcos respeitava isso. Ela tinha seus motivos, seus medos, suas feridas. Ele conhecia cada uma dessas marcas, e talvez por isso, mesmo em sua impaciência, ele fosse tão paciente com ela.

O telefone vibrou sobre a mesa. Era uma mensagem de Sofia.

"Desculpa o atraso. Estou saindo agora. Chego em 20 minutos."

Marcos sorriu, mas logo sentiu o nó no estômago apertar. Quantos desses encontros ele já havia marcado, e quantas vezes saiu deles com a sensação de que nunca avançavam? Eles conversavam, riam, compartilhavam segredos, mas havia sempre uma barreira invisível que os mantinha à distância. Não era apenas o Daniel. Sofia se protegia, se escondia em suas inseguranças, em seus próprios receios de amar novamente.

Enquanto aguardava, Marcos se perguntou, pela milésima vez, se deveria ser mais claro com ela. Se deveria simplesmente expor tudo o que sentia, sem rodeios. Mas ele temia o que poderia vir disso. E se ela o afastasse? E se ela dissesse que ele não passava de um amigo? Aquela palavra soava como uma sentença para ele.

As lembranças de momentos juntos inundaram sua mente. As caminhadas no parque, as conversas até tarde da noite, os olhares que ele captava e tentava interpretar. Ele se agarrava a cada um desses momentos como se fossem provas de que, talvez, apenas talvez, ela sentisse algo mais. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que havia uma parte de Sofia que ainda pertencia a Daniel. Mesmo que ela negasse, ele via isso nos olhos dela. Ela não o deixava ir completamente.

Os minutos se arrastaram, e finalmente o som de passos na porta fez o coração de Marcos disparar. Ele se virou, tentando parecer despreocupado, enquanto Sofia entrava pela porta com um sorriso tímido no rosto.

— Oi, Marcos. Desculpa a demora. — Ela se desculpou, ajeitando os cabelos e pousando a bolsa em uma cadeira.

— Sem problemas, Sofia. — Ele sorriu, tentando esconder a ansiedade que sentia por dentro. — Estava aproveitando a vista daqui. A primavera está finalmente chegando.

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