Entre livros,lutas e silêncios

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As luzes da manhã atravessavam as persianas, iluminando suavemente o quarto de Sofia. Ela permanecia deitada, observando as partículas de poeira dançarem ao ritmo da luz, sentindo a dor da insegurança ainda latente.

Ela caminhou lentamente até o banheiro, onde se encarou no espelho. As olheiras estavam mais profundas, os olhos, mais cansados. "Você consegue, Sofia", sussurrou para si mesma, enquanto jogava água fria no rosto, tentando espantar o cansaço emocional que a dominava. Vestiu-se com simplicidade, optando por um jeans escuro e uma camiseta branca de mangas compridas. Nada muito chamativo, algo que não exigisse muita energia para se preparar.

A caminhada até a escola foi silenciosa. O caminho era o mesmo de sempre, mas agora parecia diferente. A cada passo, Sofia sentia o peso da realidade a apertar. Ao chegar, ela foi recebida por sorrisos calorosos das crianças. O som das risadas infantis preenchia o ambiente, um contraste gritante com a sua tristeza interior.

As aulas passaram como um borrão. Sofia estava presente fisicamente, mas sua mente vagueava por outros lugares. Enquanto ajudava uma criança a comer, pegou-se pensando em Daniel, que estava cada vez mais distante. Eles conversavam menos, e as poucas mensagens trocadas eram breves, desprovidas da ternura que antes compartilhavam. Ela sabia que o campeonato de surfe exigia muito dele, mas não podia deixar de se sentir esquecida, à deriva em um mar de incertezas. Era estranho acompanhá-lo mais pelas páginas de fofoca na internet do que por uma ligação direta. Ela via as fotos dele nas praias paradisíacas, sempre rodeado de amigos e, claro,mulheres. O pensamento fazia seu estômago revirar.

Quando Sofia chegou em casa no final do dia, foi recebida por Marcos.Uma constante presença de apoio em meio aos caos mental e cansaço físico e a lembrança que ela faltou a faculdade mais um dia. Ele tinha trazido algumas refeições prontas e insistia que ela comesse. “Você precisa se alimentar melhor, Sofia,” ele disse, enquanto colocava os pratos na mesa. Sua voz grave era tranquilizadora, e suas mãos firmes arrumavam tudo com cuidado. Ele sempre tinha uma palavra de conforto ou uma piada para arrancar um sorriso dela.

“Obrigada, Marcos,” ela disse, com um sorriso cansado. Ele se aproximou, colocando a mão em seu ombro de forma carinhosa. "Estou aqui para você, sempre", ele disse suavemente, seu olhar cheio de sentimentos que Sofia não estava pronta para corresponder, pelo menos não naquele momento.

Vanessa chegou logo depois, trazendo consigo sua personalidade tóxica, mas familiar. Ela era o tipo de amiga que sabia exatamente como cutucar as feridas, mas que, de alguma forma, sempre aparecia nos momentos mais difíceis. “E aí, amiga? Como você tá lidando com tudo isso? Porque, olha, na sua situação, eu já tinha surtado!”, Vanessa falou, enquanto se jogava no sofá, mexendo no celular. Sofia riu sem humor, sabendo que Vanessa não falava por mal, mas era o jeito dela.

“Estou tentando... levando um dia de cada vez”, respondeu Sofia, sentindo uma pontada de angústia enquanto mexia na comida sem muita vontade.

As coisas com Daniel não estavam melhorando. As mensagens eram cada vez mais escassas, e quando ela ligava, muitas vezes ele não atendia. Havia algo errado, e Sofia sentia isso no fundo de sua alma. Ela passava horas à noite, rolando as redes sociais, vendo fotos de Daniel e seu grupo de amigos.
A insegurança a corroía, e mesmo sem provas concretas, algo dentro dela gritava que algo estava errado.

Ela não tinha coragem de confrontá-lo diretamente. A última coisa que ela queria era parecer insegura ou possessiva, especialmente agora que ele estava competindo e era algo tão importante para sua carreira. Mas as mensagens dela frequentemente terminavam sem resposta, ou com respostas breves que só aumentavam sua frustração.

A pressão estava se acumulando. Os prazos da faculdade estavam chegando, e Sofia estava com matérias acumuladas. A dor da dúvida, combinada com a ausência emocional de Daniel, a fazia sentir-se desamparada. Uma noite, enquanto tentava terminar um trabalho, o pânico a atingiu. Sua respiração ficou ofegante, o peito apertado, e ela sentiu como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor. Ela caiu no chão do quarto, ofegante, as mãos tremendo. “Eu não consigo... não consigo fazer isso”, sussurrou para si mesma, as lágrimas correndo pelo rosto.

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