Última sombra do inverno

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Sofia se senta à beira da cama, o frio do último dia de inverno penetrando pelas frestas da janela. Ela olha para o espelho, mas mal consegue se reconhecer. As olheiras profundas, o cansaço marcado em cada traço do seu rosto, e o vazio... um vazio que parece consumir tudo ao seu redor. A respiração é pesada, quase sufocante, como se cada pensamento a prendesse num ciclo de dor e incertezas.

"Eu não sei mais... eu simplesmente não sei. Tudo que eu pensei que sabia... que acreditava... foi virando pó. Como é que eu pude ser tão cega? Como é que eu me deixei enganar por tanto tempo? Daniel... O Daniel que eu amava, que me prometia tudo, que dizia que a distância não mudaria nada entre nós. E agora... Júlia? Justo ela?.Que ele me garantiu ser só uma amiga. Como se nossos momentos juntos nunca tivessem significado nada."

Ela fecha os olhos, tentando conter as lágrimas, mas é inútil. Elas escorrem pelo rosto, quentes, contrastando com o frio que invade o quarto. "Eu estou cansada. Cansada de tentar ser forte, cansada de segurar tudo. A faculdade... o trabalho... todo mundo depende de mim. Eu estou aqui, correndo de um lado para o outro, cuidando da minha avó, que está pior a cada dia, sem saber se amanhã ela ainda estará comigo. E o trabalho... a escola... as crianças... precisam de mim, e eu não posso falhar. Não posso. Mas ao mesmo tempo, eu me sinto desmoronando. Eu estou sozinha. Onde está Vanessa quando eu preciso dela? Ah, claro... vivendo sua vida, preocupada com o número de seguidores, enquanto minha vida desmorona."

Sofia se levanta, andando de um lado para o outro, com as mãos inquietas. "E Marcos... por que ele está sempre lá? Sempre pronto para me ouvir, me apoiar, me salvar de mim mesma. Eu sei que ele sente algo por mim, mas eu... não posso. Não posso usar ele para preencher esse vazio que Daniel deixou. Seria injusto... cruel. Eu gosto dele, talvez até mais do que estou disposta a admitir... mas é só confusão. Tudo está tão confuso. Eu deveria me afastar, dar um tempo, ou talvez... talvez eu deva seguir em frente com ele. E se ele for o certo para mim?"

Ela para, encarando o vazio do quarto, o peso da decisão sobre seus ombros. "Mas como posso tomar qualquer decisão enquanto minha avó mal consegue respirar sem minha ajuda? Enquanto ela definha na minha frente, e eu não consigo fazer nada. Eu estou falhando com ela. Eu falhei com Daniel. E eu estou falhando comigo mesma. E se eu continuar assim... quanto tempo até eu perder o resto? Quanto tempo até eu me perder completamente?"

O silêncio é quebrado apenas pelo som do vento lá fora. Sofia abraça a si mesma, tentando encontrar algum calor no meio do caos que se tornou sua vida. "Eu não posso continuar assim. Preciso decidir. Preciso... mas como? Como faço isso quando tudo ao meu redor está desmoronando, e eu estou no meio dos destroços, sem saber por onde começar a me reconstruir?"

Sofia olha pela janela, o vento gelado do último dia de inverno soprando com força, como se o próprio ar estivesse carregado da dor que ela sentia. O céu acinzentado refletia seu coração. Ela abraça os joelhos, tentando conter as lágrimas que ameaçam transbordar. Uma exaustão profunda a consumia, mas, por dentro, o que mais a sufocava era o turbilhão de pensamentos.

“Por que tudo tem que ser tão difícil? Eu não aguento mais.”

Ela sussurra para si mesma, o olhar perdido no vazio, enquanto cada parte de sua vida parecia estar em colapso.

"Daniel me traiu… traiu tudo que a gente construiu. E o pior? Eu deveria ter visto. Deveria ter percebido que as mensagens dele estavam cada vez mais curtas, mais distantes. Aquelas desculpas ridículas de 'estou ocupado'... como eu fui burra de acreditar? E agora? O que eu faço com todo esse amor que parece queimar dentro de mim, mas ao mesmo tempo me destrói?"

Ela esfrega as mãos no rosto, as lágrimas já escorrendo sem controle. O peito parecia apertado, sufocado por uma dor que era física e emocional ao mesmo tempo.

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