Quatro estações

Entre o frio e a distância

O inverno no Rio de Janeiro trazia consigo um céu cinzento e temperaturas que contrastavam com o calor abrasador do verão que Sofia tanto amava. Os dias nublados pareciam uma extensão de sua mente, repleta de pensamentos confusos e ansiosos. A cada chamada de vídeo com Daniel, sentia a distância entre eles crescer, mesmo que ambos tentassem ignorar a realidade. Estava tudo diferente. Era como se uma barreira invisível tivesse se erguido entre eles, e o peso disso começava a sufocar Sofia.

Ela caminhava pela universidade, tentando se concentrar nas aulas, mas o peso da ansiedade e o turbilhão de pensamentos a distraíam. Sentia a pressão se acumulando dentro dela, uma sensação de estar presa em um ciclo interminável. O período que passou cuidando de sua avó no hospital havia deixado sua vida acadêmica de cabeça para baixo. Agora, com as aulas retomadas, Marcos se ofereceu para ajudá-la com as matérias acumuladas.

Sofia e Marcos estavam sentados na biblioteca. O silêncio entre eles era confortável, mas ao mesmo tempo, Sofia sentia um leve incômodo. As palavras de Vanessa sobre Daniel, sempre insinuando que ele estava “se divertindo” no exterior, ressoavam em sua mente. O que a irritava ainda mais era a falta de tempo que Daniel tinha para ela. As ligações eram breves, as mensagens secas.

“Você parece distante hoje, Sofia”, disse Marcos, levantando o olhar do livro e observando-a com preocupação.

“Desculpa... só estou pensando em algumas coisas. Obrigada por me ajudar com isso, Marcos. Não sei o que faria sem você.”

Marcos deu um sorriso suave, mas havia uma intensidade em seu olhar que ela preferia ignorar. “Você sabe que sempre pode contar comigo.”

Ela olhou para os livros espalhados na mesa, sentindo o peso da gratidão e, ao mesmo tempo, uma culpa insuportável por perceber como o contato com Marcos era reconfortante. Ele era uma presença constante, sólida, enquanto Daniel parecia mais distante do que nunca. Sentiu o coração bater mais rápido quando Marcos, sem querer, tocou sua mão ao passar um caderno. Ele não recuou, e por um breve momento, Sofia também não. O contato, embora simples, trouxe um calor inesperado em meio ao frio que sentia por dentro.

“Sofia...”

Ela sabia o que ele estava prestes a dizer. O olhar nos olhos dele dizia tudo. Não era a primeira vez que percebia os sentimentos dele por ela, mas agora a proximidade, o apoio, e a vulnerabilidade estavam confundindo seus próprios sentimentos. Marcos inclinou-se levemente, aproximando seus rostos, e Sofia sentiu o mundo ao seu redor parar por um instante. O ar parecia mais denso, o silêncio mais pesado. Ela poderia simplesmente fechar os olhos e permitir que aquele momento se concretizasse...

Mas a imagem de Daniel invadiu sua mente.

Ela puxou a mão de volta de repente, quebrando o momento. “Eu... preciso ir. Desculpa.”

Marcos recuou, parecendo desapontado, mas sem pressioná-la. Ele apenas assentiu, compreendendo.

Naquela noite, Sofia estava deitada em sua cama, encarando o teto, seu celular ao lado. Daniel ainda não tinha ligado, e o silêncio da espera parecia interminável. Pegou o celular, abriu o aplicativo de notícias de surf e, para sua surpresa, viu uma manchete envolvendo Daniel: "Daniel Moreira tem mais uma performance decepcionante no campeonato e é visto saindo com amigos."

O artigo descrevia como Daniel estava tendo dificuldades no campeonato. Havia uma entrevista com ele, na qual ele tentava parecer otimista, mas os vídeos mostravam uma expressão cansada, abatida. Ele parecia alguém que estava em guerra consigo mesmo, e Sofia sentiu uma pontada no coração ao ver como ele estava se distanciando do homem que ela conhecia.

No final da entrevista, as imagens mostravam Daniel cercado por amigos do circuito de surf, rindo, mas havia alguém ao lado dele que chamou sua atenção.Uma garota,Ela estava ao lado dele, sorrindo e trocando olhares com Daniel de uma maneira que fez Sofia sentir um frio na espinha. Os dois pareciam próximos demais. Havia algo no jeito como  ela se inclinava para ele, no jeito como Daniel ria de algo que ela disse... era um gesto pequeno, mas íntimo.