Quatro estações

Expectativas

Os dias passavam e o outono no Rio de Janeiro trazia uma sensação melancólica ao ar, com o céu frequentemente coberto por nuvens pesadas e o vento frio assobiando pelas ruas. O apartamento de Sofia parecia um refúgio em meio ao caos climático, com a iluminação suave e os móveis simples, refletindo a serenidade contrastante de seus sentimentos internos.

Vanessa chegou, como sempre, com sua aura vibrante e um vestido vermelho vivo, em contraste com o clima sombrio lá fora. Ela balançava os quadris ao caminhar, e seu perfume de jasmim invadiu o ambiente assim que entrou. “Ei, Sofi! Como você está?”, ela perguntou, seu tom quase festivo.

Sofia forçou um sorriso, tentando esconder a tristeza que a consumia. “Estou bem, Vanessa. Apenas cansada.”

Vanessa sentou-se no sofá com um ar descontraído, sem perceber a tensão no ambiente. “Você não vai acreditar nas últimas do Daniel. Ele estava em uma festa de gala ontem à noite, e os fotógrafos não pararam de tirá-lo em fotos. Cada clique parece mais um soco no estômago, não acha?”

Sofia engoliu em seco, a imagem de Daniel cercado por estranhas em um ambiente de luxo como uma lâmina cortante. “Sim, eu vi algumas imagens. É... difícil.”

“Dificuldade é pouco”, Vanessa continuou, seus olhos brilhando com um misto de curiosidade e um toque de malícia. “E a sua vida? E a nossa amizade? Você realmente acha que esse relacionamento à distância está valendo a pena?”

Sofia desviou o olhar, tentando manter a calma. “Eu... ainda não sei, Vanessa. É complicado.”

Enquanto a conversa se desenrolava, o telefone de Sofia vibrou. Uma mensagem de Daniel piscava na tela: “Oi, Sofi. Podemos conversar mais tarde? Tenho algo para te contar.” O coração dela acelerou.

Naquela noite, o vento assobiava mais forte, e o som da chuva parecia ainda mais intenso. Sofia e Daniel estavam em videochamada, com a tela do celular iluminando seu rosto cansado. Daniel, vestindo uma camiseta de surfista e uma jaqueta casual, parecia ainda mais distante do que o habitual.

“Oi, amor”, Sofia começou, tentando soar animada.

“Oi, Sofi”, respondeu Daniel, sua voz carregada de exaustão. “Desculpe por não ter ligado antes, mas os dias têm sido longos.”

“Eu entendo. Só sinto falta de você. As coisas aqui estão... difíceis.” Sofia observou o rosto de Daniel, notando as sombras sob seus olhos e o sorriso forçado. “Eu vi as fotos. Parece que você tem estado ocupado.”

Daniel fez uma pausa, sua expressão se tornando mais séria. “Sim, é verdade. E, na verdade, é sobre isso que eu queria falar com você. Tem algo que eu preciso dizer.”

Sofia franziu a testa. “O que aconteceu?”

Daniel respirou fundo. “A mídia tem sido implacável. As festas, as fotos... É tudo demais, e isso está afetando nossa relação. Eu sinto que estou falhando com você.”

O silêncio entre eles foi pesado. Sofia podia sentir a tensão através da tela. “Eu não quero que você se sinta assim. Eu também estou lutando aqui. É como se cada dia fosse uma batalha.”

Ele inclinou a cabeça, o olhar cheio de sinceridade. “Eu sei. E eu não quero que você sinta que estou te afastando. Apenas... não sei como lidar com tudo isso e manter nosso relacionamento intacto.”

A voz de Sofia se quebrou um pouco. “Eu sinto como se estivéssemos em mundos diferentes, Daniel. E cada dia, essa distância parece só crescer.”

Naquele momento, o som da porta do apartamento se abriu, e Marcos entrou, carregando um casaco de lã e um sorriso preocupante. Ele percebeu a videochamada e ficou na entrada, hesitante. “Desculpe, Sofia. Eu não queria interromper...”