Capítulo Três

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Um mês e meio se passou e meu nervosismo em relação ao Rimpac estava a mil. Eu tinha formado um plano que iria contra todas as ordens do meu pai, não poderia perder nenhum segundo do exercício naval mais importante do mundo. A única solução que encontrei, seria me infiltrar em um dos navios e nada melhor que o Sampson para que isso acontecesse. Pode parecer loucura, mas estava indo nesse exato momento pedir permissão para que Stone deixe eu entrar em seu navio.

Passei pela porta de vidro do grupamento dos oficiais e cumprimentei alguns soldados, que batiam continência quando me viam. Com destino a última porta do corredor, encarei o letreiro que dizia "Capitão Stone Hopper" e respirei fundo, batendo na superfície de madeira. Stone levantou seu olhar em minha direção e pelo pequeno vidro que tinha ali ele mandou eu entrar. Como um gesto de respeito e também de hierarquia, repeti a forma de cumprimento que os soldados haviam me dado e me sentei, sendo observada por ele.

- Por que eu acho que você está tramando algo, Shane? - perguntou, pousando sua caneta na mesa.

- Eu preciso de sua ajuda, capitão. - olhei para os quadros que tinham atrás dele, com imagens de navios já aposentados da frota - Como sabe, o almirante Shane proibiu minha participação no Rimpac e isso está afetando todo o meu treinamento e desempenho como tenente. Eu sei que o lado pai dele falou mais alto do que um superior e por isso, eu gostaria de pedir a minha ingressão no seu navio.

Stone permaneceu calado logo após o que eu disse e relaxou sua postura, passando as mãos em um gesto de frustração pelo cabelo loiro. Ele encarou-me por alguns segundos e eu sabia que viria uma resposta negativa da sua parte, então eu interferi antes que ele falasse alguma coisa.

- Olha, eu sei que ir contra as ordens do meu pai será um grande desafio, mas peço que pense nisso. Não porque eu namoro o seu irmão e convivemos longe daqui, mas sim porque eu também sou uma oficial.

Ele apenas assentiu, levantando-se da cadeira e indo até a janela, observando a base do lado de fora. Stone virou-se para mim e me olhou por alguns segundos, cruzando seus braços na altura do seu peitoral.

- Nos vemos no Rimpac, Dana.

Abri um sorriso, não conseguindo esconder o quão feliz eu havia ficado por ele ter topado. Sai de sua sala com destino a delegação japonesa, onde tinha ordens do almirante para entregar alguns documentos que precisava de assinatura dos capitães. Revirei meus olhos quando eu vi para quem o último papel era destinado e contei mentalmente até 10, até me aproximar dele na saída.

- Capitão Nagata, o almirante pediu para que assinasse isso. - comentei, estendendo a ele o documento.

Nagata leu as linhas superficialmente, assinando e me devolvendo. Eu apenas agradeci e me afastei, encontrando o olhar interrogatório de Hopper sobre mim. Suspirei sabendo que uma chuva de questionamentos viriam, principalmente por ele e Nagata não se darem bem de maneira alguma. A rivalidade entre os dois vem de uma longa data e pela primeira vez eu estou presenciando isso. Ficar no meio do fogo cruzado é horrível, principalmente por não saber o que aconteceu para os dois se odiarem tanto. Atravessei o convés do navio japonês e caminhei na rampa que dava acesso a base americana, indo para a direção contrária do meu namorado.

Assim que dobrei a primeira esquina, meu corpo foi puxado bruscamente para dentro de uma sala escura e como uma forma de reflexo, passei a rasteira pela perna da pessoa, derrubando a mesma no chão e pressionando o meu braço em seu pescoço. Com o sensor de movimento, a luz ascendeu, revelando o corpo de Hopper embaixo de mim.

- Que merda, Alex! - bradei, aliviando meu aperto em seu pescoço - Nunca mais faça isso, você me assustou.

Continuei ainda por cima dele, sentada em sua cintura. Puxei o ar, tentando acalmar as batidas frenéticas e descompassadas que o meu coração dava. Levantei-me com cuidado, estendendo minha mão para que ele saísse do chão também. Ficamos cara a cara um com o outro, tentando controlar as nossas respirações pesadas.

- O que você estava fazendo com o Nagata? - ele perguntou, encarando.

- São assuntos oficiais, Hopper - respondi, olhando ao redor

Nós estávamos em uma dispensa.

- Assuntos oficiais? Dana, você está mentindo - comentou, cruzando os braços.

- Não, eu não estou mentindo- revirei meus olhos - Tive apenas que seguir ordens do almirante.

Ele abriu a porta e pediu para que eu saísse primeiro. Caminhei para a esquerda da dispensa, seguindo pelo corredor branco. Olhei para trás e Hopper estava caminhando para direção contrária.

...


Era véspera de Rimpac e eu estava completamente nervosa, com medo de que o plano não desse certo. Havíamos tirado o dia de folga e eu queria relaxar, me distrair completamente de todas as tensões dos últimos dias.
Nada melhor do que ir a praia e observar o movimento das ondas. Para mim essa era uma terapia e ajudava-me todas as vezes em que precisava tomar uma decisão importante.

Deixei um bilhete em cima da mesinha de centro, avisando minha amiga e também colega de casa, onde eu iria.
E

stacionei em uma vaga de 45°C a beira mar, pegando meus pertences que estavam no banco traseiro do meu carro. Caminhei até um lugar mais afastado, parando para admirar o mar durante alguns segundos. Estiquei a manta sobre a areia fina, tirando o meu vestido e ficando apenas com um biquini azul. Corri a até o mar, dando um mergulho quando atingi uma profundidade consideravel.
Faltava menos de uma hora para o sol se por e eu queria muito presenciar isso pessoalmente, especialmente no dia de hoje. Voltei para onde as minhas coisas estavam e me sentei, olhando para o horizonte.

Pensei se era certo contrariar as regras do meu pai, ou o que eu estava prestes a fazer seria certo. Eu realmente não queria fazer isso, mas era preciso. Meu futuro na Marinha dependia desse exercício. O Rimpac não era resumido apena a jogos navais, ele era passaporte para várias academias renomadas no país. Sempre tive o sonho de aprender a pilotar caças e tenho certeza de que se eu me sair bem nesse caso, posso conseguir uma vaga. Eu me sentia péssima, mas estava chateada porque ele não pensou em mim, no meu futuro. Tudo bem que ele queria me proteger, mas não gostaria que fosse desse jeito. Ele usou de sua patente para benefício próprio.

Dana Annie Shane, por favor, ele é seu pai!

Fui tirada dos pensamentos por um barulho muito próximo de mim. Virei-me com cuidado, surpreendendo-me ao ver Alex logo atrás de mim. Ele usava apenas uma bermuda e sentou-se ao meu lado, observando a paisagem a nossa frente.

— Como soube que eu estava aqui? — perguntei, apoiando minha cabeça np seu ombro.

— Eu te conheço melhor do que você mesma, Shane. — sorriu, segurando minha mão.

— Você leu o bilhete, não foi?

Ele continuou sorrindo, confirmando minha teoria em silêncio. Aconcheguei-me entre suas pernas, apoiando minhas costas no seu peito. Ele rodeou o meu tronco com os seus braços, depositando alguns beijos rápidos no meu pescoço.

— O que você tinha em mente para fazermos hoje? — perguntei, virando-me para olhá-lo.

— Quer mesmo saber? — lançou-me um olhar malicioso, beijando-me. — Queria somente passar o dia com você.

Arquiei a sobrancelha, empurrando-o delicadamente para trás. Assim que suas costas tocaram o chão, subi em cima dele, abrindo um sorriso vitorioso.

— Então você queria passar o dia comigo? — questionei, observando sua pele bronzeada reluzir com a luz do sol — Tem certeza que era somente isso?

Hopper revirou os olhos, puxando-me para um beijo.

— Eu já disse que sou louco por você? — perguntou, acariciando meu rosto.

— Olha, na primeira vez que nos beijamos, na primeira vez em que dormimos juntos e na primeira vez em que fizemos amor — comentei — Sim, você já disse, mas eu não me importaria em ouvir de novo.

Ele inverteu nossas posições, olhando ao redor e se certificando de que estávamos sozinhos.

— Então eu digo — me beijou — Eu sou completamente louco por você, Dana Shane.

Battleship - A Batalha Dos MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora