Capitulo 3

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Entrei no casarão e subi as escadas até o meu quarto. Uma escrava já estava preparando o meu banho. Tomei meu banho, deitei na cama e dormi, perdendo a noção do tempo.

Acordei com batidas na porta. Era a escrava da cozinha, acompanhada pelo meu escravo. Ele estava limpo, e sua barba estava bem feita. A escrava olhou para mim e disse:

— Senhora, o que faço com ele?

Respondi:

— Faça-o entrar no meu quarto enquanto manda limparem um quarto fechado em frente ao meu.

Ela hesitou:

— Mas senhora, não é adequado...

Cortei-a:

— Não perguntei se era adequado ou não. Eu disse que ele vai ficar no meu quarto até vocês limparem o dele. É assim será.

Ela respondeu:

— Sim, senhora. Perdão.

Mandei o meu escravo entrar. Ele parecia confuso, mas obedeceu. Perguntei qual era seu nome e ele respondeu:

— Não tenho nome algum.

Então disse:

— Então eu darei um nome para você.

No mesmo momento, avistei um livro aberto na minha penteadeira. Olhei para ele e pensei: as primeiras letras das frases vão formar o nome dele.
Lendo, ficou N-o-a-h.

— Noah, assim você se chamará agora.

Ele respondeu:

— Como quiser.

Perguntei:

— Você sabe ler, Noah?

Ele respondeu:

— Não, senhora. Sou apenas um escravo.

Repliquei:

— Não é porque é escravo que não saiba ler.

Ele ficou calado por um momento. Então eu disse:

— Vá lá para baixo e diga para trazerem meu jantar e junto o seu.

Ele perguntou confuso:

— O meu?

Respondi:

— Sim, o seu. Você deve estar com fome.

Ele me olhou nos olhos e saiu do meu quarto. Voltou com a escrava alguns minutos depois, trazendo uma bandeja com comida. Comi na minha cama e pedi ao escravo que se sentasse na penteadeira.

A escrava olhou para mim e disse:

— Senhora, o quarto está pronto.

Então eu disse que Noah que poderia ir para lá e que amanhã eu daria ordens para serem cumpridas. Ele lançou um último olhar de raiva antes de sair do meu quarto acompanhado pela escrava. Terminei meu jantar e comecei a lembrar de cada detalhe daquele escravo... do meu escravo.

No dia seguinte:

Acordei novamente com batidas na porta. Era aquela escrava intrometida de novo. Entrou e começou a preparar meu banho. Eu acordava todos os dias apenas com a vontade de ficar na cama até que o tempo passasse. Não tinha distração além dos meus livros e da cama; minhas joias não tinham mais valor para mim, pois não havia como me exibir com elas. Meu pai vivia viajando e eu frequentemente ficava sozinha. Às vezes, conversava com nossa governanta Nélia, que sempre esteve conosco desde que eu tinha três anos. Ela era muito atenciosa, mas as ocupações da casa não deixavam tempo para que ela me fizesse companhia. Quando terminava de colocar tudo em ordem, já era tarde e ela precisava descansar.

Depois de tomar banho e me aprontar, pensei em mandar a escrava trazer meu café. Mas então refleti: ficar presa naquele quarto sem motivo nenhum não me ajudaria.

Desci para a sala e encontrei Nélia sentada, anotando algo. Ela me deu um bom dia e disse que meu escravo já estava à minha disposição, buscando água. De repente, uma fúria tomou conta de mim.

— Quem mandou o meu escravo pegar água? — perguntei.

— Eu mandei — ela respondeu.

— Com autorização de quem você mandou? Eu disse ontem que enquanto meu pai estivesse fora, eu mandaria aqui, Nélia. E mesmo assim, o meu escravo ninguém manda além de mim! Você está me entendendo, Nélia?

Ela ficou assustada.

— Perdão, senhora. Eu não imaginei que a senhora se estressaria assim.

Tentei me acalmar.

— Nélia, apenas não dê ordens ao meu escravo sem me perguntar. Ele é meu.

Ela pediu desculpas novamente. Olhei para a cozinha e vi a escrava e o meu escravo parados, olhando boquiabertos. Para quebrar o silêncio constrangedor, falei:

— Noah, você pode me esperar na frente da casa. Irei pra lá depois do café.

Após terminar o café, fui ao encontro de Noah, que estava sentado em frente à casa.

— Noah? — chamei.

— Sim, senhora — ele respondeu.

— Não me chame de senhora se não quiser — disse.

Ele ficou calado enquanto eu continuava:

— Noah, vê aquela árvore?

Ele confirmou com a cabeça. Então completei:

— Acha que consegue fazer um balanço ali?

Ele soltou a frase mais longa que havia dito para mim:

— Sim, senhora, eu consigo, mas depende muito do tamanho e de como quer o seu balanço.

— Quero um pouco alto, tradicional mesmo — pedi.

— Como quiser — ele respondeu.

Fiquei observando enquanto ele fazia o balanço. O sol batia em sua testa, fazendo brilhar o suor; ele parecia ser muito inteligente. Estaria mentindo quando disse que não sabia ler?

Quando ele percebeu que eu estava olhando em sua direção, lançou-me um olhar profundo que fez meu coração acelerar e minha pele arrepiar sem motivos.

Depois de terminar o balanço, chamei Noah para ir à biblioteca.

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