Duas semanas

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Duas semanas se passaram desde a partida de Noah, e a saudade que preenchia meu coração parecia um eco constante em minha mente. As cartas que eu esperava ansiosamente não chegavam, e cada dia sem notícias dele tornava-se um peso insuportável. Eu me permitia sonhar com as palavras que ele poderia ter escrito, mas a realidade era que a inquietação crescia como uma sombra.

Foi em uma manhã nublada que comecei a sentir algo diferente. A ausência de Noah não era apenas uma questão de saudade; havia algo mais. Os sintomas eram sutis, mas inegáveis. Ao olhar-me no espelho, uma sensação estranha me envolveu. Meu corpo estava mudando, e com isso, o medo e a esperança se misturavam. A possibilidade de estar grávida era aterrorizante e maravilhosa ao mesmo tempo.

Decidida a entender o que estava acontecendo, busquei por Nelia, minha confidente e amiga fiel. Encontrei-a na cozinha, onde o aroma do pão fresco ainda pairava no ar.

— Nelia — comecei com a voz trêmula — eu preciso te contar algo importante.

Nelia parou o que estava fazendo e virou-se para mim, notando a seriedade em meu olhar.

— O que houve, querida? Você está pálida — disse ela, preocupada.

Levei Nelia até meu quarto, deixando a porta entreaberta.

— Eu... eu acho que estou grávida — revelei, sentindo o peso das palavras enquanto elas saíam de minha boca.

O olhar de Nelia se iluminou com uma mistura de alegria e preocupação.

— Oh, minha senhora! Isso não deveria ter ocorrido antes do casamento! Mas... e Noah? Ele sabe?

Balancei a cabeça negativamente.

— Não, ele não sabe. E não sei quando poderei lhe contar... Se ao menos ele tivesse escrito... — minha voz falhou ao pensar na distância entre nós.

Nelia abraçou-me apertado.

— Você precisa ser forte. Vamos encontrar uma maneira de avisá-lo assim que puder. Seu pai não pode saber disso nunca.

De repente, ouvimos passos descendo as escadas. A porta do quarto foi aberta abruptamente por meu pai.

— Katherine! Como você pode! — ele gritou enquanto vinha na direção de mim furioso.

Nelia tentou intervir, mas foi em vão. Meu pai segurou meu punho com força.

— Você sabia disso, Nelia? — ele perguntou gritando ainda segurando-me.

— Não senhor! Ela acabou de me contar — respondeu Nelia rapidamente.

Vi a escrava que meu pai havia colocado como informante. Foi ela quem ouviu tudo e contou ao senhor da casa.

De repente, meu pai começou a agredir-me com mais força. Ele saiu correndo para o corredor enquanto eu tentava fechar a porta do quarto. A escrava segurou a porta firmemente. Estava tão machucada que nem tinha forças para resistir; Nelia tentou ajudar, mas antes que pudesse fazer algo efetivo, meu pai apareceu segurando um chicote e empurrou Nelia para longe, começando a chicotear-me. A dor parecia insuportável; sentia como se minha pele estivesse se abrindo.

— Você é uma decepção! — gritava ele enquanto rasgava as costas do vestido.

Ele deu seis chicotadas antes de dar um chute em Nelia quando ela tentou intervir novamente.

— Não se intrometa, Nelia! — gritou ele com raiva.

Quando ele ia dar a sétima chicotada, um silêncio repentino tomou conta do ambiente. Ao olhar para trás, vi Sebastian segurando o chicote entre as mãos.

— Devolva isso imediatamente, Sebastian! — ordenou meu pai furioso.

— O que você pensa que está fazendo? — perguntou Sebastian sério.

— Estou dando uma punição — respondeu meu pai mais calmo agora.

— Se você se esqueceu, precisa levar certos documentos consigo. E sua carona com o senhor Logher pode se irritar e não vender as propriedades que deseja — disse Sebastian ainda firme na defesa de mim.

Meu pai saiu correndo do quarto furioso enquanto Sebastian jogava o chicote no chão e imediatamente foi ajudar-me.

— Seu pai enlouqueceu? Você está bem? — perguntou ele preocupado enquanto olhava minhas costas feridas.

Nelia ajudou-me até a cama e ajudou-me a tirar parte de trás do vestido, deixando minhas costas nuas para poder tratá-las melhor.

Sebastian se virou para dar privacidade a nós enquanto Nelia ajudava-me a tomar um banho morno para aliviar as dores. Depois do banho, começamos a limpar as cicatrizes nas minhas costas enquanto conversávamos sobre o ocorrido.

— Você não fez certo, Katherine. Mas seu pai perdeu completamente o juízo! — disse Sebastian horrorizado ao ver os machucados em mim.

— De tantos anos trabalhando aqui, jamais imaginei uma reação assim dele; ele sempre mimou você com tudo que podia — comentou Nelia com um semblante triste e assustada ainda pela cena que testemunhou.

Eu só conseguia chorar e lamentar por tudo o que havia acontecido em um dia tão inesperado e trágico em minha vida.

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