Verdades amargas

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A porta se abre silenciosamente. Sebastian entra, senta-se na cama e aponta para Nelia.

— Nelia, arrume suas coisas agora mesmo.

Fiquei em choque ao ouvir aquelas palavras de Sebastian.

— Para que você quer que a Nelia arrume? — perguntei, confusa.

— Katherine, não podemos ficar aqui. Você vai embora com Noah. Eu e Nelia precisamos de proteção. Ouvi os planos do seu pai para nós, e não são nada bons.

— Como assim, Sebastian? Do que você está falando?

Um leve silêncio assombrou o quarto até que Sebastian quebrou:

— Nelia, ele quer se livrar do filho da Katherine. Quer prendê-la aqui nesse quarto para sempre, vai me mandar embora e, se eu decidir voltar, ele irá vender as terras e sumir com a Katherine. Enquanto isso, você seria demitida ou vendida no mercado escravo.

Ficamos em choque com as palavras de Sebastian. Como meu pai poderia ser tão cruel?

— E vocês dois vão fugir para onde? — perguntei preocupada.

— Não se preocupe, Katherine. Eu tenho uma casa em outra cidade. A Nelia vai ficar comigo em segurança.

Nelia começou a chorar, e eu e Sebastian a reconfortamos. Nelia era mais do que uma governanta para mim; ela era como uma mãe. Não posso arriscar perdê-la.

A porta se abriu com força, e meu pai entrou, olhando friamente para Sebastian.

— Vou fazer uma pergunta. Os três terão que me falar a verdade.

Ficamos em silêncio, esperando pela pergunta. Meu pai se aproximou:

— O que aconteceu ontem aqui? O que vocês fizeram ao Dr. Alarico?

— Não fizemos nada — respondi antes que Nelia ou Sebastian tivessem chance de falar.

— Ah, quer me dizer que não agrediu ele? — perguntou meu pai, virando-se para a janela.

— Eu teria como machucá-lo ou agredi-lo? — retruquei.

Meu pai caminhou até a pequena varanda próxima à janela.

— Então o que foi isso? — respondeu ele, apontando para uma marca na parede.

A marca não era de sangue, mas era evidente que algo havia atingido a parede, deixando um sinal claro de impacto.

— Será que o capataz embriagado não deixou...

Ele olhou para nós com um olhar de revolta e continuou:

— A parte da senzala em que prendi esses dois, aberta!

Apontou para Sebastian e Nelia.

— Vocês aproveitaram o descuido do capataz e tentaram ajudar a Katherine?

Sebastian e Nelia mantiveram-se firmes diante da pergunta.

— Senhor Monsec, eu fiquei na senzala até hoje pela manhã — disse Nelia.

— Não minta, Nelia! Você não é capaz de me enganar; conheço você como a palma da minha mão! — berrou ele.

— Não grite com a Nelia! Eu não permito!

— Quero que vá embora! Você é um menino mal crescido e inconsequente! Quero que pegue todas as suas coisas e saia da minha fazenda!

— Você que é um homem mal crescido! Um covarde! Um homem que não sabe lidar com seus próprios problemas de forma civilizada — retorquiu Sebastian.

Um curto silêncio pairou no ar.

— Cala boca...

— Cala boca você! E tem mais: eu não saio daqui desta casa sem a Katherine e sem a Nelia! Aprenda a ser homem! — berrou Sebastian novamente.

Meu pai se atirou contra Sebastian, atingindo-o no olho. Mas Sebastian apenas sorriu diante do ataque.

— É assim, senhor Monsec? É assim que você lida com a verdade e seus problemas?

Meu pai ainda furioso foi em direção à porta do meu quarto. Parou por um momento e disse:

— Você vai se arrepender disso.

Ele fechou a porta com força. E tudo o que eu queria saber era como conseguiria sair de tantos problemas. Nelia e Sebastian estavam envolvidos demais nisso.

Meus pensamentos voavam enquanto observava Nelia examinando o olho inchado de Sebastian.

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