Feridas

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A dor nas minhas costas era apenas um eco distante em comparação ao tumulto que se formava dentro de mim. Enquanto Nelia tratava meus ferimentos, eu me perdia em pensamentos sobre Noah. O que ele estaria fazendo agora? Será que ainda pensava em mim? As cartas que eu tanto esperava nunca chegavam, e a ausência dele tornava o tempo uma tortura.

Sentei-me na beira da cama, sentindo o calor do banho morno ainda em minha pele. Nelia, com os olhos cheios de preocupação, tentava me consolar, mas a verdade é que eu estava mais perdida do que nunca. A possibilidade de estar grávida me deixava em um estado de confusão absoluta. O que eu faria se fosse verdade? E se Noah não voltasse? Se não soubesse da minha situação?

— Katherine, você precisa se acalmar — disse Nelia, com a voz suave e firme. — Não podemos permitir que seu pai a machuque novamente. Precisamos encontrar uma maneira de sair dessa.

Eu lhe dei um olhar distante. Como poderia pensar em escapar, quando o peso do futuro se acumulava sobre mim? O medo e a esperança se entrelaçavam como sombras dançantes na minha mente.

— Nelia, e se Noah não voltar? E se ele não souber da criança? — perguntei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Eu não posso criar um filho sozinha... Sem saber onde ele está ou o que sente por mim.

— Você não está sozinha, Katherine! — ela exclamou, segurando minha mão com firmeza. — Eu estarei aqui por você, não importa o que aconteça. Juntas, encontraremos uma solução.

Aquelas palavras trouxeram um pouco de alívio ao meu coração angustiado. Mas a incerteza ainda pairava no ar como uma nuvem pesada. A ideia de ser mãe sem Noah ao meu lado era aterradora. Eu desejava compartilhar cada momento dessa jornada com ele—cada risada, cada lágrima e cada descoberta.

Com um suspiro profundo, olhei pela janela para o céu nublado. As folhas das árvores dançavam suavemente ao vento, mas nada parecia tão incerto quanto meu futuro. Eu precisava de respostas; precisava saber onde Noah estava e como ele reagiria à notícia da gravidez.

— E se eu tentasse escrever para ele? — sugeri hesitante, já imaginando as palavras saltando do meu coração para o papel. — Talvez possa enviar alguém para entregar a carta...

Nelia balançou a cabeça em aprovação.

— Isso é uma boa ideia! Mas precisamos ter certeza de que ela chegará até ele. Alguém deve saber onde ele está.

Mas quem poderia ser essa pessoa? O mundo fora dos muros da casa parecia um labirinto perigoso e desconhecido para mim agora. Meu pai estava furioso e poderia fazer qualquer coisa para me manter afastada de Noah... E isso me deixava ainda mais assustada.

Enquanto Nelia continuava a cuidar das minhas costas feridas com suavidade e compaixão, percebi que precisava ser forte—não apenas por mim mesma, mas também pela vida que estava crescendo dentro de mim. Se Noah voltasse e descobrisse a verdade, precisaria estar pronta para enfrentá-lo com coragem.

— Vou escrever para Noah — declarei finalmente, sentindo uma centelha de determinação acender-se dentro de mim. — Não posso deixar que essa distância nos separe para sempre.

Nelia sorriu encorajadoramente enquanto eu pegava papel e pena na escrivaninha do quarto. Com cada palavra que escrevia, sentia-me mais conectada a Noah, como se pudesse alcançar seu coração através da distância. A saudade ainda pesava sobre mim como uma nuvem escura, mas agora havia uma luz tênue brilhando no horizonte—a esperança de um reencontro e a promessa de um futuro juntos.

Enquanto as palavras fluíam da minha pena, prometi a mim mesma que lutaria por nós dois e pelo nosso filho—não importasse quão difícil fosse o caminho à frente. O amor era mais forte do que qualquer dor ou medo; e isso era algo pelo qual valeria a pena lutar.

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