Enfrentando

2 0 0
                                    

Olhava para meu reflexo no espelho, a raiva e a dor ainda pulsando dentro de mim. O que havia acontecido na noite anterior me atormentava, mas não poderia deixar que meu pai sentisse a vitória de ter feito me sentir assim. Com determinação, saí do quarto e fui em direção à sala, onde meu pai ainda estava sentado, folheando o jornal.

— Você não pode continuar assim! — disse eu com a voz firme, mas tremendo de emoção. — O que fez ontem foi inaceitável! Você destruiu vidas e agora acha que pode simplesmente agir como se nada tivesse acontecido?

Meu pai me olhou com desdém, mas havia uma sombra de surpresa em seu olhar. Ele colocou o jornal de lado e se levantou devagar.

— E o que você pretende fazer? — perguntou, com um sorriso sarcástico. — Falar sobre moralidade? Você é só uma menina ingênua que se entregou a um escravo.

Senti um calor subir pelo rosto. Cada palavra dele era como um soco no estômago, mas eu não recuaria.

— Ingênua ou não, eu sei o que é certo e errado. E já disse para não falar assim do Noah; se me entreguei, foi porque o amo. Foi um crime! Você não pode simplesmente jogar minha vida fora como se fosse lixo!

Ele deu um passo em minha direção, mas não hesitei. Mantive-me firme e olhei nos seus olhos.

— Se você realmente se importa comigo, deveria parar com isso antes que seja tarde demais.

Ele riu de forma amarga.

— Você acha que tem poder sobre mim? Na cidade falam sobre um corpo encontrado no mato. Irei lá ver mais informações enquanto você fica aí tomando chá com a Nelia e falando sobre sua vida infeliz.

Senti meu coração disparar. A notícia do corpo do médico começava a circular? O peso da situação me atingiu como uma onda. Se as pessoas soubessem... Se tudo viesse à tona...

— Katherine, faço isso para seu bem. Espere aqui; irei ver o que houve que a cidade toda está comentando.

Meu pai saiu, me deixando sozinha. O que aconteceria com Sebastian? E comigo?

Subi as escadas para meu quarto; Nelia estava limpando uns livros da pequena estante.

— Nelia, meu pai ouviu falar sobre um corpo... o do médico — falei nervosa.

— Calma, querida, vai ficar tudo bem.

Abracei Nelia com força.

— Nelia, você tem notícias do Noah?

— Sim, querida; de madrugada você precisa fugir com ele.

— E você? — perguntei triste.

— Querida, não se preocupe comigo. Eu ficarei bem; pedirei demissão e voltarei para minha cidade natal.

— Vai me deixar só? — perguntei com tristeza.

— Não, querida; deixarei você nas mãos do homem que ama e que te ama.

Um silêncio pairou entre nós até que Nelia decidiu quebrá-lo:

— Katherine, lembre-se de que eu amo você como uma filha e que você é capaz do impossível. Você é inteligente e forte; sabe se cuidar.

— Obrigada, Nelia; você é uma verdadeira mãe. Obrigada por toda ajuda, por cada conselho e cada carinho.

— Oh, minha querida — disse Nelia me abraçando forte.

Alternados Onde histórias criam vida. Descubra agora