A revolta

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A adrenalina pulsava em minhas veias enquanto eu e Noah arrumávamos nossas coisas rapidamente. O som da madeira rangendo sob nossos pés parecia ecoar os batimentos acelerados dos nossos corações. A tensão no ar era palpável; sabíamos que o tempo era nosso inimigo.

— Katherine, precisamos ser rápidos — sussurrou Noah, seus olhos fixos nos meus, transmitindo uma determinação que me enchia de coragem.

— Eu sei, mas e se alguém nos pegar? E se meu pai estiver por perto? — perguntei, lembrando-me das ameaças que ele sempre fazia quando a situação ficava tensa.

— Não vamos deixar isso acontecer. Com a revolta dos escravos, a atenção dele estará voltada para lá. É nossa chance — respondeu ele, pegando minha mão e apertando-a levemente.

Nelia e Sebastian entraram novamente no quarto, seus rostos pálidos, mas determinados.

— A situação está pior do que pensávamos — disse Nelia, ofegante. — Os escravos estão se revoltando agora mesmo. Ouvi gritos vindos da parte de trás da casa.

— Precisamos aproveitar essa distração! — exclamou Sebastian. — Vamos sair pela porta dos fundos e seguir para a floresta. Se conseguirmos chegar lá antes que seu pai perceba...

Antes que pudesse terminar a frase, um estrondo ecoou pela casa. O som de um tiro reverberou nos corredores. Meu coração parou por um instante.

— Foi ele! — gritei, olhando para Noah com pânico nos olhos. — Meu pai está atirando!

— Rápido! Para a porta! — ordenou Sebastian, puxando Nelia e me guiando na direção oposta ao barulho.

Corremos o mais silenciosamente possível, mas o medo era quase insuportável. A revolta lá fora parecia crescer; gritos de liberdade misturavam-se ao som de tiros e confusão. Cada passo que dávamos parecia um risco maior.

Quando finalmente chegamos à porta dos fundos, avistei uma cena caótica: os escravos haviam se levantado contra meu pai e o capataz. Eles estavam armados com ferramentas simples, mas a determinação em seus rostos era inegável. Eu nunca havia visto tanta coragem antes.

— Temos que atravessar isso! — disse Noah, puxando-me para perto dele enquanto observávamos a cena se desenrolar.

De repente, outro disparo ecoou, e vi meu pai surgir na porta da frente com uma carabina em punho. Ele estava furioso e descontrolado, gritando ordens para os homens que ainda lhe eram leais.

— Katherine! Volte aqui! — ele berrou, sua voz cheia de raiva.

Um frio percorreu minha espinha ao ouvir seu chamado. Mas não havia como voltar atrás agora. Eu sabia que essa era a nossa única chance de escapar.

— Vamos! Agora! — gritou Sebastian enquanto puxava Nelia para fora da porta.

Noah me segurou firme pela mão e corremos em direção à floresta. O cheiro da terra molhada e das folhas secas enchia meus pulmões enquanto deixávamos para trás tudo o que conhecíamos. Os gritos dos revoltosos tornaram-se um eco distante, misturados ao som dos disparos que ressoavam atrás de nós.

A floresta nos acolheu em seu manto verdejante, escondendo-nos das vistas traiçoeiras do mundo exterior. Paramos por um momento para recuperar o fôlego, nossos corações ainda acelerados pela adrenalina da fuga.

— Estamos seguros por enquanto... — disse Nelia, tentando acalmar os ânimos enquanto olhava para trás na direção da casa em chamas de raiva e revolta.

Mas eu sabia que não podíamos relaxar ainda; meu pai estava furioso e determinado a nos encontrar. E mesmo entre as sombras das árvores, sentia que a luta estava longe de acabar.

— Temos que nos manter juntos e encontrar um lugar seguro — disse Noah firme, olhando nos olhos de cada um de nós como se quisesse registar aquele momento em nossas memórias.

E assim seguimos em frente, cientes dos perigos à nossa frente, mas também cheios de esperança por um futuro diferente — um futuro onde seríamos livres para amar e viver sem medo.

A floresta nos envolveu em seu silêncio reconfortante, mas o peso da tensão ainda pairava no ar. Enquanto caminhávamos, o medo e a adrenalina lentamente davam lugar a algo mais suave, uma conexão que eu não conseguia ignorar.

Paramos por um momento, ofegantes e alertas, mas também conscientes de que estávamos juntos nessa fuga. O olhar de Noah encontrou o meu, e naquele instante, tudo ao nosso redor pareceu desaparecer. As árvores, os sons distantes da revolta e até mesmo a lembrança do meu pai foram ofuscados pela intensidade daquele momento.

— Katherine... — ele começou, sua voz baixa e carregada de emoção. — Não importa o que aconteça agora, eu estou aqui com você.

Sentindo meu coração acelerar mais uma vez, deixei de lado o medo e a incerteza. Era como se a floresta ao nosso redor tivesse se tornado um santuário onde nada mais importava, exceto nós dois.

Sem pensar duas vezes, dei um passo à frente e me aproximei dele. Noah hesitou por um breve momento antes de me puxar para mais perto, seus olhos fixos nos meus. A conexão entre nós era palpável; eu podia sentir a energia fluir entre nós.

E então, como se o mundo tivesse finalmente alinhado as estrelas para nós, ele inclinou a cabeça e nossos lábios se encontraram. O beijo foi suave no início, uma mistura de alívio e paixão contida que finalmente encontrou espaço para se libertar. Eu sentia cada batida do meu coração ecoar em cada toque.

O gosto de terra molhada e folhas verdes misturava-se com a doçura do momento. A intensidade cresceu enquanto me entregava completamente àquele instante mágico. Era como se todas as promessas de liberdade que sonhávamos se concretizassem ali, naquele beijo.

Quando finalmente nos afastamos, nossos rostos ainda estavam perto um do outro, e eu vi em seus olhos uma determinação que espelhava a minha própria.

— Nós vamos conseguir, vamos acompanhar Nelia e Sebastian estão se afastando — sussurrei sentindo daquele momento.

— Sim — ele respondeu com um sorriso tímido que iluminou seu rosto. — Juntos.

E assim seguimos em frente pela floresta, com o coração leve apesar dos perigos à espreita. Sabíamos que a luta ainda estava longe de acabar, mas naquele instante compartilhado, encontramos um pouco de esperança e amor que nos daria força para enfrentar o que viesse pela frente.

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