Los Angeles, 2014.
Era uma tarde ensolarada de outono, uma daquelas tardes que fazem a gente esquecer por um momento todas as mudanças. A grama do quintal era nova e cheirava a terra molhada, e o vento leve soprava as folhas amareladas da árvore grande no canto do jardim. Eu estava brincando sozinha, cavando buracos com uma colher de plástico, como se estivesse em uma missão muito importante para descobrir algum tesouro enterrado. Não era como nos lugares onde nós morávamos antes. Aqui, no novo lar com a minha família adotiva, família Peters, o quintal era um pouco espaçoso, o silêncio era diferente, quase assustador.
Shuji estava dentro de casa, provavelmente mexendo no videogame ou falando com os amigos dele. Ele raramente me chamava para fazer qualquer coisa. Na verdade, o que ele mais gostava de fazer era pregar peças em mim. No primeiro dia na casa nova, ele colocou um sapo na minha cama, e eu chorei de susto. Não era legal, mas eu já estava acostumada. Ele sempre fez essas coisas, e por mais que eu quisesse ser amiga dele, era difícil. Talvez, no fundo, ele só gostasse de me ver assustada.
Eu estava tão concentrada em cavar meu “tesouro” que quase não percebi a voz que vinha do outro lado da cerca.
-Oi!
Levantei a cabeça rapidamente, olhando em volta para ver se Shuji estava tentando pregar mais uma peça em mim. Mas a voz era diferente, mais suave e infantil.
-Me chamo Anna! Anna Kone, eu tenho oito anos e você? —Disse a garota, enquanto se pendurava na cerca tentando pular. Ela tinha um sorriso no rosto, e seus cabelos loiros balançavam ao vento.—
-Eu sou a Maya, e também tenho oito anos. —Respondi, ainda meio desconfiada, levantando devagar. Não estava acostumada a falar com muitas crianças, sempre me sentia meio deslocada. Mas Anna parecia diferente, tinha uma energia que me atraía, como se já nos conhecêssemos há muito tempo.—
-Quer brincar? —Ela perguntou, já escalando a cerca com agilidade.—
Antes que eu pudesse responder, Anna pulou e caiu no meu quintal com um sorriso travesso no rosto. Eu ri um pouco, me sentindo à vontade pela primeira vez desde que me mudei. Era como se o ar estivesse mais leve com ela por perto.
A partir daquele momento, nos tornamos inseparáveis. Anna e eu passávamos todas as tardes juntas, fazendo absolutamente tudo que duas meninas de oito anos poderiam fazer. Explorávamos o quintal como se fosse uma selva misteriosa, criávamos histórias de princesas guerreiras e caçadoras de tesouros, e até fazíamos pequenos shows de música com instrumentos de brinquedo. Ela sempre tinha ideias novas e divertidas, e eu a seguia com entusiasmo. Não era como Shuji. Anna nunca fazia eu me sentir boba ou pequena. Ao contrário, ela sempre me fazia sentir especial.
Todos os dias, depois da escola, corríamos até o quintal para nos encontrar. Eu sabia que, assim que ouvisse sua voz do outro lado da cerca, o dia se tornaria muito melhor. Enquanto a casa dos Peters ainda não parecia um lar de verdade para mim, Anna se tornou o que havia de mais próximo disso. Ela era a irmã que eu nunca tive e, ao lado dela, o mundo parecia mais colorido.
Com o tempo, nossas brincadeiras se expandiram para o bairro. Explorávamos as ruas como se fossem reinos desconhecidos, fazendo trilhas pelas calçadas e imaginando que cada casa tinha um segredo a ser descoberto. Anna sempre tinha coragem para ir onde eu não tinha. Se havia uma cerca alta, ela escalava; se havia uma porta fechada, ela tentava abrir. Eu a admirava por isso. Enquanto eu hesitava, ela avançava sem medo.
Shuji às vezes aparecia e nos provocava, rindo e chamando a gente de "bebezonas" por brincarmos de coisas que, segundo ele, eram para crianças pequenas. Ele era popular na escola, todo mundo gostava dele. Mesmo assim, nunca entendi por que ele era tão diferente comigo. Quando estávamos na escola, ele fingia que não me conhecia. Se eu o chamava, ele me ignorava ou me dava aquele olhar de “não fala comigo na frente dos meus amigos”.
Mesmo assim, nada disso importava para nós duas. No nosso mundo, éramos as heroínas das nossas próprias histórias. Cada dia era uma nova aventura, um novo conto inventado por nós, e nada parecia ser capaz de quebrar essa conexão.
Anna Kone é a minha melhor amiga, e desde então tudo nós fazemos juntas.
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Henry Cavill - Um monstro entre nós
RomanceHenry Cavill, um influente dono de bordéis, lida com a pressão de sua ninfomania e Síndrome de Wendy. Incapaz de buscar ajuda médica devido à sua rotina caótica, ele acaba preso em um perigoso ciclo de obsessão e vingança. Maya e Anna, melhores amig...