Me sentei em minha poltrona, para revisar alguns documentos, queria me certificar de deixar tudo pronto para Maximus. Fiquei um bom tempo revisando a papelada, que acabei pegando no sono, com a cabeça sobre os papéis.
Enquanto eu estava sentado naquela poltrona, a cabeça sobre os papéis, o peso do mundo sobre os meus ombros, o maldito sonho voltou. A mesma cena de sempre, o mesmo desespero. Eu implorava por Nicole, mas ela não ouvia. Nunca ouvia. Era sempre o mesmo. O carro partindo, levando embora tudo o que eu sempre quis — a única chance de ter algo que eu poderia chamar de família.
—Nicole, meu amor, não faça isso! É o nosso bebê! Já está com tamanho suficiente para ser considerado um bebê... É tudo o que eu te peço, não aborte... Não aborte o meu sonho, não aborte o fruto do nosso amor... —Gritei em lágrimas tentando fazer de tudo para que ela não entrasse naquele táxi.
—Eu não posso conviver com isso, eu não quero esse filho Henry! —Gritou ela.
—Eu posso cuidar dele sozinho... Não precisa ser presente, eu posso cuidar dele sozinho, não mate o meu filho ! —Gritei desesperado vendo ela entrar no carro e fechar a porta pronta para ir a clínica matar o meu filho.
O táxi se afastava, enquanto eu gritava para que ela não matasse o meu filho... Era uma garotinha, já havíamos comprado todo enxoval, quando ela decidiu interromper a gravidez.
—Nicole... Não... Não mate o meu filho...
Havia algo diferente. Senti braços ao meu redor, algo quente e firme. Ao abrir os olhos, ainda confuso, percebi que Maya estava me abraçando. Aquela garota... o que ela estava fazendo?
Por um momento, minha mente ainda estava presa no pesadelo. O som de Nicole se afastando ecoava em meus ouvidos. Eu não conseguia processar que estava de volta, no meu escritório, com Maya ali, tão perto. Ela estava me abraçando forte, como se eu fosse alguém que merecia ser cuidado.
Suas palavras eram baixas, quase sussurradas:
—Está tudo bem... tudo bem...
Como ela poderia saber? Como poderia entender o inferno que eu vivi? Mas, de alguma forma, aquelas palavras, simples e repetitivas, foram se enraizando em mim. Não era um consolo intelectual, mas algo visceral, algo que, contra toda a minha lógica, começou a me acalmar.
Senti uma umidade nos olhos. Lágrimas. Inferno, eu estava chorando? Não acontecia desde... Aquela noite chuvosa. Então ela, com toda a gentileza do mundo, segurou meu rosto com as mãos pequenas e enxugou minhas lágrimas. Ninguém nunca fez isso por mim.
Meus olhos encontraram os dela. Havia uma ternura ali, uma preocupação que eu não entendia. Por que ela se importava? Eu era um monstro para ela, um monstro que foi pintado por todos como tal. Um homem que, até agora, só a tinha controlado, mandado. E ainda assim, ela estava ali, me confortando. Eu, que não merecia.
Sem pensar, meus braços se moveram por conta própria, envolvendo a sua cintura. Por um momento, hesitei. Não sabia o que estava fazendo. Mas ela não se afastou, então eu a abracei mais forte. E, por Deus, ela retribuiu. Seus braços voltaram a me apertar, e a pressão em meu peito se aliviou um pouco. Como se, naquele instante, eu pudesse me permitir fraquejar.
A voz dela quebrou o silêncio outra vez, e foi como um golpe suave: “Está tudo bem, Henry...” Meu nome. Pela primeira vez, ela me chamou pelo nome. E foi como se algo dentro de mim se partisse. Eu nem sabia que precisava ouvir isso, mas agora, ouvindo, percebi o quanto estava faminto por esse tipo de coisa.
Minhas mãos, quase sem controle, começaram a se mover. Eu não queria assustá-la, mas não conseguia evitar. Deslizaram pela sua cintura, um gesto mais terno do que qualquer outro que eu fizera até então. E, para minha surpresa, ela fez o mesmo em minhas costas, um toque que me fez sentir algo que eu não sentia há anos: acolhimento.
Eu estava fraco. Ela, essa garota que eu deveria estar protegendo, de alguma forma, estava cuidando de mim.
Ficamos ali, em silêncio, apenas o som suave da nossa respiração preenchia o escritório. O abraço dela era caloroso, quase impossível de se afastar. Pela primeira vez em muito tempo, não senti o peso esmagador da solidão, como se a presença de Maya fosse capaz de segurar, ao menos por alguns minutos, o caos dentro de mim.
Eu estava exausto. Esse sonho sempre me drenava, me arrancava qualquer resquício de energia que eu pudesse ter. E agora, Maya estava ali, e isso me desconcertava. Ela não tinha motivo para me consolar, e ainda assim, o fazia.
Meus dedos se moveram suavemente em sua cintura, o tecido da roupa dela mal amortecia a sensação de sua pele. Eu não deveria estar tocando nela assim, não quando tudo o que ela precisava de mim era proteção, uma figura de força. Mas algo na fragilidade do momento me prendia.
Senti sua respiração contra o meu pescoço, leve e hesitante. Maya estava tão próxima que eu podia ouvir os batimentos de seu coração acelerado. Será que ela estava com medo? Ou talvez confusa sobre o que estava acontecendo? Eu não sabia, e honestamente, eu também não entendia o que estava fazendo. Apenas sabia que, naquele instante, não queria que ela se afastasse.
Depois de um tempo que pareceu se estender além do normal, ela finalmente falou novamente, sua voz suave e quase tremida:
—Você... sonhou com algo ruim, não foi?
Eu respirei fundo, tentando afastar o peso que ainda apertava meu peito.
—Sim... —minha voz saiu rouca, quase um sussurro.
Ela ficou em silêncio, não houve perguntas, não houve julgamentos. Apenas seu toque reconfortante em minhas costas, como se dissesse que estava tudo bem, que eu não precisava explicar mais nada.
Acolhimento...
↓↓↓
VOCÊ ESTÁ LENDO
Henry Cavill - Um monstro entre nós
RomanceHenry Cavill, um influente dono de bordéis, lida com a pressão de sua ninfomania e Síndrome de Wendy. Incapaz de buscar ajuda médica devido à sua rotina caótica, ele acaba preso em um perigoso ciclo de obsessão e vingança. Maya e Anna, melhores amig...