Nova era Amor e ruínas

Herdado um rival

Joseph finalizou sua apresentação com aplausos dos funcionários. Ele se sentia satisfeito com os resultados, mesmo que, por dentro, ainda estivesse lidando com a confusão causada pelos últimos dias. Ao descer do palco, cumprimentou alguns de seus colaboradores mais próximos, trocando breves palavras de incentivo e agradecimento. O sucesso da empresa era fruto de um esforço conjunto, e ele sabia disso.

Porém, antes que pudesse relaxar, Joseph lembrou-se da reunião que estava agendada para aquela tarde. Ele receberia um homem com uma reputação controversa: Baltazar Cormack. Baltazar havia sido um grande rival de seu avô, Chevalier, no campo da arqueologia. Apesar das diferenças e da competição entre os dois, Baltazar sempre manteve uma relação de respeito com Chevalier, embora houvesse momentos em que as disputas se tornassem acaloradas.

Baltazar era conhecido tanto por suas descobertas extraordinárias quanto por seus métodos pouco ortodoxos. Chevalier sempre o descreveu como alguém ambicioso, que faria qualquer coisa para alcançar seus objetivos. Agora, muitos anos depois, Joseph teria a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Ele se perguntava o motivo por trás da visita de Baltazar, já que o campo de arqueologia estava distante dos negócios que Joseph seguia.

Joseph caminhou até a sala de reuniões, onde Baltazar já o aguardava. O homem, agora com idade avançada, tinha uma presença imponente. Seus olhos, embora envelhecidos, ainda brilhavam com a sagacidade e determinação de um jovem explorador. Ele se levantou ao ver Joseph entrar e estendeu a mão com um sorriso.

— Joseph de Lá Verandrye, é um prazer finalmente conhecê-lo
disse Baltazar, sua voz grave, mas educada.

Eles se sentaram, o assunto da reunião era um tanto quanto delicado para Joseph. Baltazar sabia que Chevalier sempre foi um homem que adorava recordações,ainda mais se fosse de suas próprias vitórias. Chevalier documentou todo sua vida como arqueólogo, montando em sua mansão a biblioteca dele. Onde lá estavam guardados documentos, mapas, relíquias e livros comprados.

Joseph observava Baltazar com firmeza, mantendo sua postura enquanto o arqueólogo continuava seu discurso frustrado sobre a biblioteca de Chevalier. O pedido de Baltazar havia sido claro: ele queria ter acesso exclusivo às anotações e volumes raros que pertenciam ao seu falecido avô. Para Joseph, porém, a biblioteca era muito mais do que um acervo de informações; era um legado pessoal e familiar que ele não estava disposto a abrir para um homem que ele mal conhecia e ainda menos para alguém que havia sido rival de Chevalier.

— Entendo sua posição, Baltazar, mas a biblioteca de meu avô não está disponível para ninguém. Seu conteúdo é parte do patrimônio pessoal de nossa família, e assim permanecerá
respondeu Joseph, firme e educadamente.

A frustração de Baltazar ficou evidente. Ele, que sempre se considerou um dos maiores arqueólogos do mundo, parecia não aceitar ser contrariado. A expressão de seu rosto mudou, e seu tom de voz tornou-se mais imponente, quase ameaçador.

— Você não entende, Joseph. Mais cedo ou mais tarde, a comunidade arqueológica virá atrás dessa biblioteca, com ou sem sua permissão. São informações valiosas, e não importa o quanto você queira segurar isso, eles vão obter acesso. E eu... eu terei o prazer de acompanhar enquanto tiram isso de suas mãos e da sua mansão."

Joseph manteve o controle, mas seu olhar endureceu. A calmaria que normalmente exibia estava se desgastando, especialmente com a forma como Baltazar tentava intimidá-lo.

Foi nesse momento que Noemi, que estava observando de longe, entrou na sala. O desconforto em seu rosto era evidente ao ouvir o tom ameaçador de Baltazar.

— Joseph, o que está acontecendo aqui?
perguntou ela, entrando na sala.

Baltazar a olhou de cima a baixo, com um desdém inconfundível, como se a presença dela não tivesse valor algum. Sua atitude arrogante piorou quando ele soltou um comentário racista, insinuando que a cor da pele e a etnia de Noemi manchavam a honra e o prestígio da família Lá Verandrye.